Quinze anos em um site de livre acesso, treze anos em um programa semanal ao vivo em rede nacional de TV aberta, seis anos em um boletim diário na rede pública de rádio. A soma destes números (34) é aleatória, sem peso aritmético, vale como referência, constatação: o jornalismo sobre jornalismo é uma realidade no Brasil.
Pode ser chamado de meta-jornalismo, media criticism ou contrapoder sem poder. Qualquer que seja o enquadramento, trata-se de uma forma superior de relato porque contém os fatos e, simultaneamente, questiona a forma em que estão sendo narrados.
Nada de novo: o primeiro texto do primeiro periódico a circular sem censura no Brasil e em Portugal também pode ser facilmente classificado como meta-jornalismo. A introdução de Hipólito da Costa na edição de junho de 1808 do Correio Braziliense contém uma profissão de fé e um balizamento doutrinário para os ‘redatores das folhas públicas’ que, nas edições seguintes, meses depois, assumirão plenamente o caráter de crítica ao jornalismo.
Tempo histórico
Passaram-se apenas sete anos entre a criação da função de ombudsman na Folha de S.Paulo (1989) e a materialização do projeto deste Observatório da Imprensa (1996), incubado no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entre a primeira coluna de Caio Túlio Costa (1989) como ouvidor da Folha e a primeira do ‘Jornal dos Jornais’ (1975), no mesmo jornal e na mesma página, o intervalo foi de 14 anos.
Quase 40 anos antes de Caio Túlio Costa, Gondim da Fonseca (1950), além de secretariar a redação de O Mundo (Rio), produzia uma verrina diária republicada em São Paulo pela Folha da Noite na qual desancava desafetos na imprensa, seus barões (principalmente Assis Chateaubriand) e também literatos e poetas, sem perder de vista as questões institucionais. ‘Imprensa sadia’ era como designava os jornalões de então, a imprensa dita burguesa.
Lima Barreto escolheu uma forma diferenciada para criticar a imprensa, 43 anos antes (1907): Recordações do escrivão Isaías Caminha não é título de uma coluna, mas de um impiedoso retrato ficcional sobre a redação do Correio da Manhã (Rio). Valeu ao autor estreante uma proscrição que ultrapassou sua vida e persiste até hoje em certos nichos da corporação jornalística (ver ‘Da ditadura do silêncio à ‘lista negra’‘).
Entre Lima Barreto e Hipólito da Costa permeiam apenas 101 anos; entre o patriarca da imprensa brasileira e os 61.296 twitteiros que acompanham este Observatório (número da manhã de 3/5/2011) passaram-se somente 203 anos – uma insignificância.
Direito e obrigação
Revolução conceitual: a imprensa finalmente resignou-se à condição de criticada. Certos críticos – assumidos ou esporádicos – é que ainda não conseguiram encontrar a sua entonação. São amadores diferenciados dos contratados por razões apenas topográficas: situam-se em margens opostas, o caudal que examinam é o mesmo.
Enquanto entrevistava Milagros Pérez Oliva, a ‘Defensora Del Lector’ do diário espanhol El País, este observador intuiu que o ombudsman ou crítico é tão somente um idealista intransigente, jornalista apaixonado pelo ofício, fidelíssimo, obstinado. Imperiosamente justo. Sectário ou complacente, jamais será justo (ver ‘Ombudsman, o exercício da solidão‘).
Esta celebração 15+13+6 envolve um grupo de profissionais reunidos em torno do projeto do Observatório da Imprensa. Envolve também os milhões de beneficiários da liberdade de expressão em todo o mundo. No dia 3 de maio, Dia Internacional da Liberdade de Expressão, saudamos a conquista de um direito e a obrigação de exercê-lo com devoção.