Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Katherine Griffiths

‘Duas das maiores redes norte-americanas de televisão permitirão que as pessoas assistam aos seus programas de maior sucesso nos horários que preferirem, em uma dramática reformulação das práticas do setor que pode causar a erosão gradual de um dos conceitos chaves da televisão aberta, o de ‘horário nobre’.

A CBS, rede de TV aberta mais assistida dos Estados Unidos, e a NBC Universal assinaram acordos para vender episódios sem comerciais de programas como ‘Survivor’ e ‘CSI: Crime Scene Investigation’, por US$ 0,99.

Os programas da CBS estarão disponíveis para os assinantes da operadora de TV a cabo Comcast, uma das líderes do setor. Já os da NBC poderão ser adquiridos pelos assinantes da operadora de TV via satélite DirecTV, na qual a News Corp., de Rupert Murdoch, detém participação acionária majoritária.

Os programas -alguns dos mais populares das duas redes- continuarão a ser exibidos inicialmente em seus horários tradicionais, à noite. Mas estarão disponíveis quase que imediatamente depois para os assinantes dos serviços de TV paga, pelo prazo de uma semana.

Erosão

Devido ao intervalo adotado entre a exibição aberta e a venda em TV por assinatura ser tão curto, a inovação das redes pode marcar a primeira erosão da importância do horário nobre noturno.

As alianças formadas pela CBS, controlada pela Viacom, e pela NBC, controlada pela General Electric, foram anunciadas nos último dias.

Elas surgiram depois que a Apple Computer anunciou parceria semelhante com a rede ABC no mês passado, sob a qual os proprietários dos novos iPods com capacidade de vídeo estarão autorizados a baixar programas como ‘Lost’ e ‘Desperate Housewives’ para seus aparelhos digitais portáteis ao preço de US$ 1,99 por episódio.

A Apple, que também oferece vídeos musicais sob o mesmo sistema, vendeu 1 milhão de downloads de vídeo desde o anúncio. O desempenho impressionou o mundo da mídia e levou muitos observadores a acreditar que permitir que os telespectadores assistam a vídeos musicais, programas de televisão e filmes em qualquer horário do dia ou da noite se tornará uma das áreas de mais forte crescimento no setor nos próximos anos.

Os acordos anunciados pela CBS e NBC, sob os quais os programas poderão ser assistidos em televisores comuns, e não iPods, talvez sejam ainda mais significativos que a iniciativa da Apple.

Josh Bernoff, analista de mídia na Forrester Research, disse que ‘isso será o fim da grade noturna de programação. Agora, os telespectadores poderão assistir aos programas na hora e no local que preferirem’.

Bernoff acrescentou que a esperança do setor de mídia seria que, em lugar de gerar erosão no número de telespectadores quando da primeira transmissão dos episódios em rede aberta, o novo modelo resultasse de fato em um total maior de telespectadores, facilitando para as pessoas que perderam um episódio adquiri-lo por uma quantia modesta.

‘Da mesma forma que o DVD não destruiu as salas de cinema, isso não destruirá o horário nobre da televisão’, afirmou Bernoff.’



MÍDIA NA CHINA
Gilberto Scofield Jr.

‘Consumo da classe média revoluciona cultura chinesa’, copyright O Globo, 20/11/05

‘Localizado no distrito de Dingcheng, no coração de Pequim, o teatro Poly Theater é um dos mais freqüentados da cidade. Ali acontece a maioria dos espetáculos ao gosto da classe média chinesa que surgiu após a abertura econômica: os grandes musicais e os shows de dança contemporânea. No início do ano, o musical ‘Zhou Xuan’ trouxe de volta o glamour cosmopolita da Xangai das décadas de 30 e 40, para contar a trajetória de uma das mulheres mais importantes da história do rádio, teatro e cinema da China. Semana passada, foi a vez do Balé Nacional encher a casa com o espetáculo ‘Pirata’. Sucesso total e filas na porta, apesar dos ingressos caríssimos.

Até agora, o filão do show business era fechado ao capital estrangeiro na China, sob argumentos que iam da proteção à cultura genuinamente chinesa até a necessidade de garantir o acesso do público aos teatros com espetáculos produzidos pelo governo. Desde 1 de setembro, porém, a sede de cultura de uma população que vai enriquecendo aos poucos convenceu os governantes chineses a abrir para o investimento estrangeiro, o mercado de show business .

O que parece apenas uma decisão de política econômica mostra, na verdade, muito da revolução socioeconômica que a China atravessa. Passada a fase em que a maioria dos chineses saiu da pobreza absoluta para um nível de renda que os permite comer, beber, se vestir e se deslocar com tranqüilidade, nota o pesquisador Ted Fishman, autor do livro ‘China Inc.’, a hora é de encher os olhos. É como diz a canção dos Titãs: ‘A gente não quer só comida/A gente quer comida, diversão e arte’.

Investimento estrangeiro, só com parceria nacional

Mas, como tudo na China tem um ritmo próprio e o setor cultural, afinal, é uma área que mexe com o imaginário da população, nem tudo é assim tão liberado. O Ministério da Cultura diz, por e-mail, que os estrangeiros só podem investir em espetáculos na China em parcerias que mantêm 51% do empreendimento na mão dos chineses. Então como realizar shows de cantores internacionais, por exemplo?

– As companhias não podiam investir aqui a não ser através de cooperação com empresas da China, as donas do espetáculos – responde o Ministério da Cultura, acrescentando que esta cooperação, na maioria das vezes, não era tão formal.

As restrições para as parcerias – como de resto para qualquer espetáculo cultural, com algumas exceções para exposições de artes plásticas – permanecem. São vetados, entre outros, shows que possam atingir a imagem da China, do governo ou das pessoas, que prejudiquem a unidade da nação chinesa, que interfiram com assuntos internos, que sejam vulgares, que defendam superstições, violência, horror e drogas; que se oponham à ideologia chinesa e à moralidade.

Apesar das inúmeras ressalvas, as empresas estrangeiras já começam a prospectar parcerias. E a razão está no crescimento vertiginoso do setor cultural chinês, segundo Wang Jian, porta-voz do Escritório de Assuntos Legais do Conselho de Estado, em entrevista ao jornal estatal ‘China Daily’:

– Nossa pesquisa mostrou que até um terço dos ingressos dos shows mais populares da China era dado para órgãos do governo. Isso agora acabou. O lucro para os investidores será maior’, diz ele.’



ENTRETENIMENTO NO MUNDO
Mariza Louven

‘Indústria do entretenimento vai girar US$ 1,8 tri em 2009’, copyright O Globo, 20/11/05

‘A indústria do entretenimento é um dos segmentos da economia mundial que mais crescem. Com uma expansão média de 7,3% nos próximos quatro anos, essas atividades deverão movimentar US$ 1,8 trilhão em 2009, segundo projeção da PricewaterhouseCoopers (PwC). Os negócios crescem puxados pelos mercados da Ásia – onde o destaque é a China – e da América Latina. Os Estados Unidos, que têm a hegemonia mundial no segmento, terão o pior desempenho entre as áreas pesquisadas, de 5,6%.

– Até 2008, a China deverá superar o Japão como o maior produtor e consumidor de entretenimento na Ásia – prevê Estela Vieira, sócia da PwC no Brasil e especialista em tecnologia, entretenimento e mídia.

Na China, segundo a PwC, o mercado de entretenimento vai crescer 30,6% este ano, quando movimentará cerca de US$ 60 bilhões, e alcançar uma média de 25,2% ao ano até 2009.

Já a América Latina promete ser o segundo mercado mais dinâmico, com expansão média de 8,2% ao ano até 2009, quando vai gerar US$ 47 bilhões. A PwC considera como entretenimento os negócios de distribuição de filmes, emissoras de televisão (pagas e abertas), gravadoras, rádios, portais de internet, fabricantes de videogames, mídia impressa, editoras de livros, parques temáticos, atividades esportivas e até cassinos.’



OS HOMENS SÃO NECESSÁRIOS?
Helena Celestino

‘A colunista política que se tornou uma arma ruiva na guerra dos sexos’, copyright O Globo, 20/11/05

‘Os mitos do jornalismo americano vêm naufragando um atrás do outro com espantosa velocidade, mas são os cabelos vermelhos e esvoaçantes da colunista Maureen Dowd que andam colorindo capas de revistas e páginas de jornais. Ao enfrentar os maremotos políticos de Washington, ela ganhou do presidente George W. Bush o apelido de ‘A cobra’ e considera isso quase um elogio, especialmente quando monstros sagrados como Bob Woodward – o repórter do caso Watergate – estão sob suspeita de esconder notícias para não se comprometerem ou desagradarem a Casa Branca. Única mulher a escrever duas colunas semanais na página de opinião do ‘New York Times’, Maureen é uma antagonista ferrenha da política de Bush e Cheney – a quem só chama de W e vice – e é reconhecida, mesmo pelos adversários, como uma das mais inteligentes observadoras do planeta político.

Tem status de estrela do jornalismo, mas virou notícia nas duas últimas semanas ao se aventurar por um terreno tão minado quanto os corredores do poder: a guerra dos sexos. Com capa de livro erótico dos anos 50, ela acaba de lançar ‘Os homens são necessários? – quando os sexos colidem’, uma saraivada de flechas envenenadas disparadas contra as convenções da vida cultural, social e emocional das modernas tribos americanas.

– O drama humano é o que me atrai, seja no Salão Oval ou nos quartos – disse ela.

Com vestido prateado colado ao corpo, saltos altos e maquiagem impecável, Maureen parece mais uma editora de moda do que uma analista política. Fez gargalhar por mais de uma hora a platéia que lotou um teatro do tamanho do Carnegie Hall, pagou US$ 50 para ouvi-la e entrou na fila de autógrafos.

Colegas garantem que Maureen é tímida e discreta, mas seu lado mulher ganha destaque por causa do mundo masculino que freqüenta. Solteira, em torno dos 45 ou 50, charmosa e poderosa, escreveu uma espécie de resumo do livro na ‘New York Times Magazine’, no qual faz a pergunta que outras em posição menos vulnerável preferem calar: ‘Por que mulheres bem-sucedidas não conseguem homens?’

‘Venho de uma família de domésticas irlandesas, mulheres altas que cuidaram da casa e atuaram como babás para algumas das mais ricas famílias dos EUA. Sempre tive orgulho de ter conseguido uma realização maior ao seguir uma carreira poderosa. Como é esquisito descobrir que se eu tivesse sido uma empregada doméstica de luxo minhas chances com os homens teriam sido maiores’, diz sem pudor.

A tese é a de que prestígio e bons empregos tornam homens mais desejáveis para o sexo oposto, o contrário do experimentado por mulheres que se destacam nas carreiras. Os machos preferem casar com suas secretárias, produtoras, divulgadoras. Sem citar o nome, ela conta a história de uma colega de jornal que no dia em que ganhou o prêmio mais importante da imprensa americana, o Pulitzer, ligou chorando por não ter com quem comemorar.

‘As mulheres que buscam uma relação de igualdade foram transformadas em narcisistas auto-centradas e objetos mais de rejeição que afeição’, diz. Não vale desclassificar os argumentos de Maureen colando-lhe a etiqueta de feminista ultrapassada. Ela confessa que preferiu deixar para outras a luta pela igualdade entre os sexos porque sempre odiou o figurino do movimento das mulheres, o look jeans e cara lavada. Fantasiava-se como uma garota em busca de prazer e amor, no estilo que Sarah Jessica Parker popularizou na série de TV ‘Sex and the City’.

‘Os homens são necessários?’ ainda não chegou à lista dos best-sellers mas o artigo foi o mais lido do jornal em outubro, segundo o ‘New York Times’. Num e noutro, ela trata com humor as confusões amorosas pós-feminismo, os conflitos dos sexos no trabalho, o disparatado tratamento dispensado pela mídia a homens e mulheres, a saturação de imagens sexuais e nossa obsessão com a aparência e juventude.’