‘O telespectador do SBT se livrou de Coisas da Vida Real, comandado pela filha do dono do canal, Silvia Abravanel. O programa era tão ruim – encenação mexicana de situações dramáticas, com uma lição moral no desfecho – que foi exilado para os sábados, onde morreu há duas semanas com 4 pontos de média no ibope (Grande São Paulo).
Na terça-feira, no entanto, estreou algo semelhante sem sotaque cucaracho:
Casos de Família. A dramatização deu lugar à discussão dos mesmos tipos de problemas com personagens da vida real. Com participação de um pequeno auditório, o programa de estréia debateu a palpitante questão da predileção dos pais por determinados filhos. No seguinte, casais debateram a submissão de um parceiro ao outro nos relacionamentos.
No final, um especialista – ‘uma psicóloga clínica e empresarial’, como foi creditada a participante de quarta – analisa o comportamento de cada casal e a apresentadora, Regina Volpato, recrutada nas fileiras da Bandnews, arremata com uma mensagem de bom senso.
Casos de Família registrou 6 pontos de média, uma boa audiência para o horário e para a emissora. Cinema em Casa, que o programa substituiu, marcava entre 5 e 8 pontos.
A boa acolhida inicial pode ser explicada pela familiaridade que o telespectador experimentou ao sintonizar o SBT. O novo programa é uma cópia do programa que introduziu Márcia Goldschmidt na TV. Até ser despejada por Ratinho, Márcia também enfileirava pessoas simples, recrutadas pela produção, para discutir um determinado assunto.
A diferença é que as cadeiras eram dispostas em meio círculo, enquanto Regina alinhou a fileira. Outra: a apresentadora é menos incendiária do que Márcia, que manipulava os ânimos para conseguir um barraco. Atualmente, Márcia – mais na linha do paz e amor – junta casais, procura namorados para trigêmeas e, claro, expõe algumas tragédias pessoais. Como a da ex-bailarina do Tchan, Sara, grávida, pobre e abandonada pelo namorado, exposta recentemente no Jogo da Vida, no domingão da Bandeirantes.
Enquanto isso, na Rede TV!, João Kleber reúne pessoas para debater toda sorte de assuntos na Tarde Quente, sem conseguir muita platéia do outro lado do vídeo – nem o testemunho da ex-atriz Simone Carvalho, que diz ter pago ao demônio R$ 5 mil para alcançar a fama. A ex-atriz, hoje aspirante a pastora evangélica, contou seu passado de magia negra, mas teve de submeter sua teoria à análise de uma junta formada por um frei católico (bem idoso), um ateu e um pai-de-santo. A tarde realmente ficou mais quente no estúdio, mas não na audiência: 2 pontos de média.
Essa fórmula de juntar gente em torno de um blablablá é tão velha quanto a TV. De vez em quando ela entra em declínio, mas volta ciclicamente porque, antes de qualquer coisa, requer pouco investimento: sofás, câmeras, um animador, convidados dispostos a contribuir (e a aparecer) e muita conversa fiada.
Neste momento, a fórmula vem espremer o espaço das revistas femininas (também econômicas) em que a leitura de revista de celebridades, com os casos da vida pessoal dos famosos, é a peça de resistência.’
METAMORPHOSES
‘‘Metamorphoses’ sofre metamorfose radical’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/05/04
‘A Record vai promover uma verdadeira metamorfose em Metamorphoses.
Sim, a trama produzida pela Casablanca será mais uma vez submetida a reformas. Mas, dessa vez, seria melhor dizer que o folhetim vai se transformar em uma outra novela dentro de poucos capítulos.
Alguns personagens serão extintos e novos núcleos serão inseridos na trama, que estreou com 11 pontos de média, caiu para 6 e estacionou nos 3 pontos, segundo o Ibope na Grande São Paulo.
A Record terá uma reunião com a Casablanca na próxima terça-feira para definir exatamente os rumos que a trama irá tomar, quem entra e quem sai.
Para se ter uma idéia do tamanho da reforma, a clínica de estética que dá nome ao folhetim será vendida – não se sabe ainda se sairá de cena, mas com certeza, perderá espaço na história.
Outra novidade será a entrada de um núcleo de humor na trama, que até então não existia. Essa era uma das reclamações do público a respeito da novela.
Metamorphoses ganhará 18 personagens, mas nenhum nome de destaque foi divulgado ainda.
A trama, que já sofreu mudanças anteriores, entrará em sua segunda fase – é assim que a produtora Casablanca vem chamando as novas modificações, previstas para irem ao ar em junho. Apesar da baixa audiência e do faturamento fraco, a Record descartou a hipótese de tirar a novela do ar antes do tempo previsto. Metamorphoses terá seus 144 capítulos exibidos.
A rede acredita que, mesmo com ibope baixo, a permanência da trama no ar é uma forma de consolidar o horário para estréia de uma nova novela na seqüência, o que faz todo o sentido – o SBT, por exemplo, que teve quase dois meses de intervalo entre Canavial de Paixões e a atual Seus Olhos, despencou de 14 para 8 pontos no horário.
A próxima produção da Record, uma nova versão de Escrava Isaura, será realizada dentro da emissora, sem participação de terceiros. A meta é dar início às gravações ainda em julho.’
ENTREVISTA / CARLOS NASCIMENTO
‘‘Os programas policiais não fazem jornalismo’’, copyright O Estado de S. Paulo, 21/05/04
‘Faz dois meses que Carlos Nascimento apareceu no vídeo da Bandeirantes como âncora e editor-chefe do principal jornal da emissora. De lá para cá, ele conseguiu mudar a cara e o tom do Jornal da Band, mas não o ibope. Com quase 30 anos de profissão, sendo 28 deles dentro das Organizações Globo, Nascimento defende a tese de que todo programa tem um tempo para pegar e diz que os shows policiais já dão sinal de esgotamento.
Estado – Compensou trocar a Globo pela Bandeirantes?
Carlos Nascimento – Claro que compensou, mas em dois meses não dá para fazer milagres. É uma vida de muito trabalho e dedicação porque estamos construindo um produto novo. Trabalho das 10 da manhã às 9 da noite. Desde que cheguei recebi mais ou menos 1.500 emails de telespectadores e 99% foram de cumprimentos pelo jornal. Não conseguimos mexer na audiência, porque qualquer programa leva um tempo para pegar. É necessário tempo para colocar em prática o que aprendi.
Estado – E o que aprendeu?
Nascimento – Estou acostumado a começar projetos que estão por baixo e que vão crescendo. Em 1977, eu estava no Bom Dia Brasil, em uma época que ninguém acreditava que o telespectador fosse querer notícia às 7 da manhã.
Eu estava no primeiro Globo Rural (80), outro programa que era tratado como um ovni e era apelidado de ‘mandioca news’. Ninguém acreditava que houvesse interesse em um noticiário sobre o campo na manhã de domingo. Fora da Globo, fiz o Jornal da Cultura e o Jornal da Record, ambos premiados.
Estado – Mas você pegou um programa que já existia na programação…
Nascimento – Eu vim fazer outro Jornal da Band, com o Joelmir Betting, com o Ricardo Boechat e com a moça do tempo Mariana Ferrão.
Estado – A moça do tempo é uma invenção da Globo…
Nascimento – A nossa é viva, anda, fala, não é aquela coisa dura da Globo.
Além disso, eu entrevisto, interajo com o Joelmir, com o Boechat. Nós somos a terceira referência de telejornalismo depois do Jornal Nacional e do jornal do Boris Casoy. E nós queremos o lugar do Boris, para estamos fazendo o melhor que podemos.
Estado – Qual é a sua relação com a Marlene Mattos?
Nascimento – Marlene deu uma grande contribuição ao Jornal da Band, mudando a iluminação. Outro dia recebi um pedido muito delicado para eu fazer o jornal sempre com roupa escura, ela mudou o enquadramento das câmeras, mexeu em detalhes que fazem diferença no vídeo.
Estado – Qual é a grande dificuldade de trabalhar fora da Globo?
Nascimento – Temos uma boa estrutura aqui, a diferença é o tamanho. Na Globo tudo é muito grande e se faz jornalismo 24 horas por dia; portanto, lá, se respira mais notícia. O escritório da Globo em Brasília tem 30 pessoas e nós temos cinco e um único repórter. Em São Paulo e Rio temos um bom quadro.
Estado – Qual é a vantagem?
Nascimento – Para fazer o Hoje, eu entrava às 7h30 da manhã. Agora, posso correr na praça, almoçar com minhas fontes e, à noite, ir a palestras, festas, cinema e teatro durante a semana.
Estado – Qual é a sua expectativa na Band?
Nascimento – Quero firmar o jornal e ter mais audiência, claro, mas a gente deveria ter 4 pontos de média. Não fico olhando o ibope porque olhar não vai mudar a situação. Bom trabalho é que traz audiência. Durante muito tempo na Globo não havia monitor do Ibope na redação: o Boni dizia que ibope é para quem sabe ler e não é indicador de boa ou má qualidade.
Estado – Você não acha que o público se acostumou com os shows policiais e perdeu o paladar para o bom noticiário?
Nascimento – Os programas policiais não fazem jornalismo. Em jornalismo é necessário apurar a notícia, não apenas relatar o que a câmera mostra.
Nesses programas, as coisas são apresentadas de supetão e a informação deixa a desejar. A performance é mais importante do que a notícia. Não acho que o telespectador esteja acostumado: não é possível que alguém se contente só com tragédia e crime. Ele quer alternativas.
Estado – Na TV, os gêneros vêm em ondas. Quanto tempo você acha que dura essa fase?
Nascimento – Os programas policiais estão dando sinal de esgotamento, não vejo ninguém falando bem deles.
Estado – E os telejornais também não correm o risco de esgotarem-se?
Nascimento – O telejornal é um clássico desde o Repórter Esso. Ele não muda a cara de uma emissora, mas dá consistência à programação. Defendo a premissa maior da rede CBS: devemos noticiar o que é importante e não o que é interessante.
Estado – Com a saída da Globo o assédio a você diminuiu?
Nascimento – Pelo contrário. Estava na Praça da Sé fazendo uma reportagem, das 10 pessoas que vieram falar comigo, 9 sabiam que eu estava na Bandeirantes.’