Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leonardo Trevisan

‘O vínculo entre Educação e opinião pública é problema sério. Desde a Grécia antiga, onde pedagogos eram geralmente escravos porque os pais temiam entregar o poder de educar seus filhos a quem não controlassem, entender como se forma opinião sobre assuntos educacionais é assunto complicado. Nos Estados Unidos, as comunidades interferem diretamente nos currículos escolares e fazem exigências que apenas começam em princípios religiosos. O modo pelo qual as pessoas se informam sobre Educação, o jeito como entendem, a diferença entre técnica e conteúdo de algum tema – por exemplo, a origem das espécies que tanta briga provoca entre dogmáticos americanos – envolve, obviamente, a forma com que entendem o mundo. Nesse ponto entra a mídia, impressa ou eletrônica. O modo pelo qual os pais são informados é também o modo pelo qual organizam as exigências que fazem aos professores de seus filhos.

Informação sobre Educação alcança um universo muito amplo de personagens, com interesses heterogêneos. Pais e professores têm ângulos diversos sobre como a política educacional os afeta. O impacto de aspectos profissionais ou corporativos também divide docentes e empresários do ensino. Temas administrativos ou curriculares despertam atenção de políticos ou de formadores de opinião de todos os tipos, desde os ideológicos, até os ecológicos, sem esquecer os simplesmente mercantis. Juan Carlos Tedesco e Roxana Morduchowicz partiram desse conjunto de interesses difusos sobre Educação para investigar quais são as prioridades dos interessados em assuntos educacionais, como pensam sobre alguns temas específicos e como julgam a informação educacional que a mídia divulga. O resultado dessa pesquisa realizada com mais de 2 mil entrevistas, proporcionalmente distribuídos por classe social, em seis grandes cidades argentinas está no livro O Papel dos Meios de Comunicação na Formação da Opinião Pública em Educação, publicado pelo Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE), de Buenos Aires, com apoio da Unesco.

Tedesco e Roxana insistem que os momentos de reforma na Educação são sempre os que mais enfrentam situações de desinformação, incompreensão e resistências. Informar sobre características e avanços de uma política pública implica no risco ‘de confundir informação com propaganda’, do mesmo modo, como alertam os autores, não informar sobre uma reforma educacional é entendido como ‘falta de transparência’. A pesquisa demonstrou que é a informação externa ao ambiente educacional que ‘estimula tipos específicos de demanda educacional’. E conclui: é a capacidade de demanda que decididamente influi na melhoria da qualidade da oferta educacional.

O livro reconhece os limites dos meios de comunicação: eles não definem ‘opiniões e atitudes das pessoas’, mas tem forte influência sobre ‘o lugar que ocupam certos temas na agenda social’. As tabelas sobre ‘quais os temas sobre educação que as pessoas mais recordam no que lêem nos jornais’, quando cruzadas com as tabelas sobre quais desses temas lembrados ‘consideram mais importantes’, demonstram o poder que tem a mídia de estabelecer cronologias ou o aparecimento ou desaparecimento nos assuntos que pais, professores e alunos mais debatem. O terceiro capítulo do livro é a correlação dessa agenda de temas ‘populares’ com determinadas políticas educacionais.

A construção da opinião pública em Educação tem relação tanto com o que a mídia oferece para discussão como com a ‘capacidade de recepção’ do interessado. A investigação dessa capacidade de recepção foi dividida pela pesquisa em temas macro e microeducacionais. Por exemplo, greves, violência na escola, fatias orçamentárias são temas que demandam conhecimento prévio e, nesse caso, os entrevistados apontam que a fonte de informação básica que mais confiam está nos jornais e TV. A influência da mídia desaba no microeducativo, reforma do currículo ou avaliação da qualidade da escola, por exemplo, a ‘primeira fonte de formação de opinião é o contexto local e a experiência pessoal’.

Entre ter acesso a informação sobre educação e tomar qualquer atitude, a distância é grande: 70% dos entrevistados dizem que a reação da leitura de uma notícia importante sobre educação foi a de ‘comentar em casa ou com amigos’. Apenas 1% dos entrevistados deu uso proativo a informação recebida, discutindo o assunto com o professor de seus filhos, por exemplo. Na Argentina, – será que apenas lá? – o tema Educação é debatido na esfera privada e não pública. Os autores insistem que o ‘débil clima educativo’ que encontraram na sociedade argentina tem relação com o perfil da demanda por educação demonstrada pela sociedade. Apesar de cuidadoso o texto lembra que a ‘responsabilidade educacional que tem os meios de comunicação’ também é muito baixa.’



3° SETOR
O Globo

‘Mídia ajuda a multiplicar ações do Terceiro Setor’, copyright O Globo, 13/02/04

‘A utilização adequada dos meios de comunicação é um instrumento fundamental para multiplicar as iniciativas bem sucedidas do Terceiro Setor e transformá-las em ações de larga escala. Esta foi uma das principais conclusões do debate ‘Os desafios da comunicação no Terceiro Setor’, realizado ontem, no último dia da Expo Fome Zero.

– Precisamos agir no atacado e não no varejo. O desafio é pôr na equação da qualidade também a quantidade. Além de fazer, temos que influir para que outros também façam – disse Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna.

Segundo Viviane, para que a multiplicação aconteça, é necessário que os projetos sejam pensados de forma que possam ser reproduzidos em outros lugares e, assim, atendam à grande demanda social do país.

– Tem que começar por onde está mais avançado. Não precisamos ficar inventando projetos. O Brasil não precisa de pessoas que fazem artesanato social – disse ela.

O vice-presidente das Organizações Globo José Roberto Marinho, que também participou do debate, chamou a atenção para a necessidade de uma gestão adequada dos recursos existentes no governo e citou como exemplo o canal Futura, uma iniciativa da TV Globo em parceria com empresários.

– Com um quarto do orçamento da uma TV educativa, o canal Futura produz muito mais programação. A sociedade tem que ficar atenta à aplicação do dinheiro do governo. Não é uma questão de falta de dinheiro, mas de má aplicação – disse José Roberto Marinho.

Os dois também concordaram quanto à existência de empresas que adotam programas sociais com a intenção exclusiva de ganhar espaço na mídia.

– Tem gente que faz pensando na centimetragem nos jornais, no tempo da TV. Por isso é preciso ter muito cuidado na hora de divulgar nomes de empresas – disse Marinho.

Viviane chamou este tipo de atitude de midéria.

– É gente que quer fazer mídia com base na miséria alheia – disse ela.’



URNA ELETRÔNICA EM XEQUE
Eliakim Araújo

‘O voto suspeito’, copyright Direto da Redação (www.diretodaredacao.com), 11/2/04

‘O sinal de alerta soou. O sistema de votação e apuração eletrônica, do qual o Brasil é pioneiro e exportador do know-how para várias partes do mundo, está sob suspeita exatamente na terra do Tio Sam, que se prepara para confirmar o atual ou escolher um novo presidente. Depois do vexame na apuração das eleições de 2000, quando Bush foi eleito numa intrincada e estranha contagem manual de votos, os Estados Unidos tentam implantar algo parecido em seu sistema eleitoral. O NYTimes tem dedicado espaço ao assunto e o debate começa a tomar corpo junto à comunidade científica americana, que possui cacife suficiente para influenciar a opinião pública e mudar as regras do jogo se ficar provado que técnicamemte a urna eletrônica não oferece segurança e favorece a fraude.

Denúncias de irregularidades na contagem de votos começam a pipocar. No condado de Boone, em Maryland, descobriram 144 mil votos num colégio eleitoral onde havia apenas 19 mil eleitores. Alguns estados já decidiram: voto em máquina só se o eleitor receber a contraprova em papel, ou seja, a garantia de uma recontagem se qualquer suspeita for levantada.

E a nossa maquininha, motivo de orgulho nacional, que despeja resultados com uma rapidez fenomenal, precisa urgentemente passar por um questionamento na terra brasilis. Até onde essa ‘rapidez’ é sinônimo de seriedade e eficiência? Quem em sã consciência pode garantir a lisura de um pleito cujo sistema não permite uma auditagem das urnas?

O brasileiro começou a votar nas tais maquininhas em 1996. Primeiro nas cidades com mais de 200 mil habitantes e, agora, informa a justiça eleitoral, elas estão em todo o território nacional. Ninguém é contra o uso da informática no sistema eleitoral, mas é preciso que haja transparência em todo processo e a possibilidade de conferência dos resultados. A não ser pela luta de um grupo de abnegados brasileiros, entre eles professores especializados da Universidade de Campinas e conselheiros da ABI, que há muito vêm tentando provar que o nosso sistema de votação tem flancos abertos por onde todo tipo de fraude é possível, a grande maioria da população brasileira não está preocupada.

Mas deveria. O prezado leitor já parou para pensar que o voto que você depositou, ou melhor, clicou em sua seção eleitoral, pode ter ido para outro candidato? O sistema é falível e o recibo virtual não oferece garantia. Nenhum sistema eleitoral no mundo pode ser considerado seguro se não permitir a recontagem de votos. E as nossas urnas eletrônicas não o permitem.

Não se trata de duvidar da honestidade dos ministros do nosso tribunal eleitoral nem dos nossos políticos, longe disso, a questão é que o sistema tem brechas que permitem a atuação de fraudadores. Alguém imaginaria que o sagrado painel de votação eletrônica do Senado poderia ser fraudado, mediante a alteração do programa original? Ou que uma empresa de informática contratada pela justiça eleitoral para apurar os votos, em 1982, no Rio, tinha um programa para favorecer um determinado candidato, no famoso escândalo Proconsult? Pois é, em informática tudo pode acontecer. Esses são fatos que chegaram ao conhecimento da população porque foram descobertos e denunciados. E o que não chega ao conhecimento da opinião pública?

Nada é mais importante numa democracia representativa que o voto popular. Graças a ele é que se dá a saudável alternância do poder, através da qual o cidadão pode escolher seus representantes ou defenestrar aqueles que o representaram mal no último mandato. Daí a importância de proteger o voto num sistema acima de qualquer suspeita.

Convido você, leitor, a visitar o site www.votoseguro.org, onde há um vasto material sobre o assunto produzido por cientistas e profissionais respeitados na comunidade científica brasileira. Quem sabe, com as dúvidas levantadas do outro lado do oceano os brasileiros sintam a pulga atrás da orelha e comecem a se preocupar com o destino de seu voto. (Sobre o autor: foi noticiarista da Radio Jornal do Brasil, âncora dos jornais da Globo, da Manchete e do SBT. Ancorou o primeiro canal internacional de notícias em língua portuguesa. Vive em Miami, onde tem uma produtora de jornalismo e publicidade.)’’