Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Liberdade de empresa no DF?

O ano começou e continuamos assistindo atônitos a suave cobertura que o Correio Braziliense faz em relação aos escândalos do Panetogate do governador, José Roberto Arruda (sem partido), assim como do vice, o onipresente (nas obras e negócios do DF) e ausente da mídia local, Paulo Octávio Pereira.

Na edição de 27/12/09, na coluna ‘Brasília-DF’, o competente jornalista Luis Carlos Azedo, acha uma boa terminologia – para mim eufemismo –, para descrever a suposta compra de apoio e derrame de dinheiro público: ‘Estrago eleitoral dos desvios éticos em administrações que aparentemente apresentavam bom desempenho’.

Pois bem, para dar maior robustez ao discurso, menciona a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, para atingir seu alvo: cotejar Arruda. Na coluna lemos que ‘a governadora tucana Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, salvou os gaúchos do colapso financeiro e administrativo, mas teve o projeto de reeleição praticamente inviabilizado por causa do escândalo do Detran. O governador José Roberto Arruda, que transformou o Distrito Federal num canteiro de obras (o grifo é meu), também foi volatilizado. Por ora, o ex-governador Joaquim Roriz foi beneficiado pela crise, mas não está livre de ser tragado por ela. ‘

Azedo é jornalista experiente e versado em assuntos da política brasileira, por isso causa estranhamento quando vemos a defesa de Arruda se apoiar no velho bordão do ‘fazedor de obras’. É de conhecimento público que fazer obras além da visibilidade política é um dos melhores artifícios para negociatas, sobrepreço, enfim, para fazer todo tipo de esquema. Maluf, ACM, Jader, Sarney (pai e filha, amém) e o próprio Roriz, que o digam. Ingenuidade do colunista? Quem sabe…

Reunião sigilosa

Pelo blog do Noblat, soubemos por meio de nota publicada no dia 14/12, que ‘Arruda saiu da granja de Águas Claras, onde mora, para se reunir com seus secretários na cidade-satélite de Taguatinga. Antes visitou o jornal Correio Braziliense. Entrou no prédio pela garagem. Subiu pelo elevador privativo. Foi recepcionado pela direção do jornal no terceiro andar. Foi embora há pouco’. Faz pensar, não? Isso no mesmo dia em que os deputados distritais resolveram sair de recesso, em plena crise. Um encontro secreto, de pé de orelha, com a direção do periódico.

Depois do Correio, Arruda teria se reunido com a bancada de deputados distritais que compõem a dita bancada governista. Resultado: ganhou tempo mais que útil. Com o recesso, os universitários, por exemplo, que tanto incomodaram entraram de recesso, e o homem ganhou tempo para traçar suas estratégias.

Ameaças nada veladas

Também do Blog do Noblat, transcrevo outra pérola, publicada no mesmo dia:

‘Em março último, Cabo Patrício (PT), então vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, procurou José Roberto Arruda (DEM) na Granja de Águas Claras, residência oficial do governador. Foi tratar do novo plano de salários da Polícia Militar. Arruda foi grosseiro com ele. – Vou acabar com você – prometeu Arruda. Alguns dias antes, Patrício havia feito um duro discurso criticando o governo. – Acabar? Que conversa é essa? Sou lá da sua quadrilha? – respondeu Patrício. – Vou acabar, sim. O Álvaro vai cuidar de você – retrucou Arruda. – Que Álvaro? Tenho lá medo de nenhum Álvaro? – esquivou-se Patrício. – O dr. Álvaro – corrigiu. Ele vai acabar com você.

Antes que Patrício desse as costas para ir embora sem saber quem era o dr. Álvaro, surgiu um sujeito de corpanzil avantajado e cabelos brancos.- Eu vou acabar com você como acabei com o Cabo Júlio – disse o tal sujeito. – Eu não sou o Cabo Júlio. Sou Cabo Patrício. – Pois vou acabar com você do mesmo jeito.

Cabo Júlio foi o líder da greve de 1997 da Polícia Militar de Minas Gerais. Depois se elegeu deputado federal duas vezes. Hoje é vereador em Belo Horizonte pelo PMDB. O dr. Álvaro é Álvaro Teixeira da Costa, presidente dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. Cabo Patrício, atual presidente interino da Câmara Distrital, repete essa história para quem quiser ouvir. E diz ter outras para contar.’

Sem pressão: omissão?

A impressão que se tem é que o Correio perdeu a vontade de ‘furar’ os concorrentes em relação à dupla Arruda vs. PO. Parece que só publica ‘empurrado pelos outros. Ou seja, levar furo tudo be, agora não publicar fica pior ainda. Um bom exemplo, foi a posse do novo presidente da OAB-DF, Francisco Caputo. Ele foi empossado no dia 1 de janeiro, e o telejornal DFTV, da rede Globo, cobriu. Qualquer um poderia tê-lo feito também, afinal era fato público, sabido e esperado. A matéria do Correio, todavia, só saiu dois dias depois. Qual a relevância?

Bem, a OAB é uma das poucas instituições que não tem deixado o assunto esfriar, protocolando ação atrás de ação contra os envolvidos nos atos de corrupção denunciados pela Ação Caixa de Pandora. Entretanto, a então presidente, Estefânia Viveiros, foi substituida por ninguém menos que Caputo, cujo escritório advoga há anos para…( um panetone para quem adivinhar) Arruda.

No discurso de posse, o novo presidente a OAB-DF garantiu dar sequência nas ações de sua antecessora, mencionou o presidente da Câmara Legislativa (o do dinheiro na meia), Leonardo Prudente (sem partido), contudo, em relação a Arruda, houve um silêncio para lá de incômodo. Caputo afirma ter isenção. É ver para crer. A matéria do Correio comentando tudo saiu depois, bem atrasada. Comeram mosca ou tiveram que publicar? As perguntas ficam no ar…

Resta esperança no presidente da OAB nacional, Cezar Britto, que prometeu não parar com a luta. Por motivos éticos preferiu não se manifestar sobre o novo presidente da OAB-DF.

Veja algo mas não com destaque

Quanto a Veja, ela também parece ter amaciado o governador. Em sua edição com a retrospectiva de 2009, abordou o maior escândalo político da capital federal e do ano, com uma imagem de Leonardo Prudente e um texto que citava Arruda. Tudo muito convenientemente en passant.

Fraldas e políticos

Por essas e outras ao comentar a cobertura midiática local da Operação Caixa de Pandora com um ex-jornalista do Correio Braziliense, o valente Ézio Pires, ele soltou uma provocação que gostei: Liberdade de imprensa ou de empresa? De empresa que precisa faturar e seguir adiante, diriam muitos…

Começamos 2010 rezando para que o bom jornalismo possa fazer algo e mostrar sua cara. Esperamos que nem todos corações e mentes tenham sucumbido aos arranjos monetários daquele eterno senhor Chorão, que jurou pelos filhos em plena tribuna. A ele, a esperança do tribunal. E a todos nós, a esperança de que as urnas renovem o que aí está. Como disse certa vez o ilustre autor de Primo Basílio, entre tantas outra obras literárias preciosas, Eça de Queiroz: ‘Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão’.

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Radialista e jornalista, diretor de redação da revista Fale!Brasília e membro da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP)