O governo do presidente George W. Bush não está nada contente com Scott McClellan, ex-porta-voz da Casa Branca. McClellan lança, na próxima semana, o livro de memórias What Happened: Inside the Bush White House and Washington´s Culture of Deception (O que aconteceu: por dentro da Casa Branca de Bush e da cultura da enganação de Washington, tradução livre), onde acusa o presidente americano de se basear em ‘propaganda’ para defender a guerra no Iraque, diz que os correspondentes da Casa Branca pegavam leve demais com a administração nos meses anteriores ao conflito, classifica de omissa a resposta do governo às vítimas do furacão Katrina e admite que algumas das informações que passava aos jornalistas do pódio da sala de imprensa não eram precisas.
McClellan foi um dos primeiros e mais leais assistentes de Bush. Por isso, era esperado que ele atacasse um pouco o funcionamento da Casa Branca para que o livro vendesse bem, mas que, ao mesmo tempo, acabasse por fazer um retrato afetuoso do presidente. Ainda que descreva Bush como ‘autêntico’ e ‘sincero’, o ex-porta-voz é duro com o governo a que serviu. McClellan tem 40 anos e foi secretário de imprensa da Casa Branca de julho de 2003 a abril de 2006. Antes disso, ele trabalhou para o então governador Bush no início de 1999 e para a campanha presidencial da chapa Bush-Cheney, em 2000.
‘Eu ainda gosto e admiro o presidente Bush’, escreve. ‘Mas ele e seus assessores confundiram a campanha de propaganda com o alto nível de integridade e honestidade tão fundamentais para construir e manter o apoio do público em tempos de guerra. Nesta questão, ele foi terrivelmente mal assessorado por seus principais conselheiros, especialmente aqueles envolvidos diretamente na segurança nacional’.
Mentiras e muros
Em novembro último, McClellan já havia perdido a simpatia da Casa Branca – e alguns de seus amigos – quando sua editora divulgou um trecho do livro de memórias que parecia acusar Bush de participar do esquema de ocultação dos responsáveis pelo vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame. No livro, entretanto, fica claro que McClellan acredita que o presidente também foi vítima de informações imprecisas.
O ex-porta-voz diz que foi enganado por dois dos principais funcionários do governo: o estrategista político Karl Rove e Lewis Libby, então chefe de gabinete do vice-presidente. McClellan começa o livro lembrando de um comunicado à imprensa onde afirmou que havia falado com Rove e Libby e que ambos garantiram que ‘não estavam envolvidos no vazamento de informações confidenciais’. ‘Eu me permiti ser enganado a passar uma informação falsa’, diz. ‘Só soube que o que tinha dito não era verdade quando a mídia começou a desvendar o caso, dois anos mais tarde’.
Sobre a relação da Casa Branca com a imprensa, McClellan diz que, apesar da fama do governo de ‘fechado’, ele considera que conseguia lidar bem com repórteres liberais. ‘Acho que a preocupação [da Casa Branca de Bush] sobre a parcialidade liberal ajuda a explicar a tendência da equipe do presidente em construir muros diante da mídia. Infelizmente, a secretaria de imprensa por vezes também se encontrava do lado de fora destes muros’. Informações de Mike Allen [Politico.com, 28/5/08].