A cobertura da matança em Realengo é sensacionalista?
Este assunto está provocando tanta polêmica quanto o desarmamento. É bom que assim seja, a sociedade não pode deixar solta a sua mídia. Ela precisa ser observada com atenção, sobretudo quando este acompanhamento faz-se sem o viés partidário.
No entanto, para se obter uma resposta sobre o sensacionalismo da mídia neste tenebroso caso é preciso antes estabelecer algumas diferenças: estamos falando de que mídia – dos periódicos tradicionais ou digitais, ou das toneladas de opiniões pessoais despejadas pelas redes sociais e blogs no ciberfórum?
Veículos geralmente adotam critérios institucionais, a pessoa física tem compromissos apenas com a necessidade de descarregar o que sente. De qualquer forma, é bom lembrar que nos anos 1980, quando intensificaram-se os serial-killings nas escolas americanas, em seguida ao choque sempre se discutiu a questão da intensidade da cobertura para que ela não se transformasse em incentivo a ações semelhantes.
Como resultado deste debate alguns jornais dos EUA decidiram tirar a cobertura das capas confinando-a às páginas internas. Não resolveu, obviamente.
Muito tempo
A exibição na semana passada do vídeo do assassino do Realengo explicando as razões da sua insanidade também chocou alguns observadores. O erro no caso foi outro: aquele depoimento não deveria ser apresentado acriticamente, sem os indispensáveis comentários.
O telespectador precisava ser alertado – de preferência por um médico – para a aparência sossegada do matador; sua paranóia agiganta-se justamente nesta pseudo-mansidão.
O psicopata não agüenta os seus próprios surtos, necessita de intervalos, quando então parece um louco-manso. Por esta razão é indispensável mostrar tudo, nada esconder, lembrando-se sempre que o bom jornalismo exige, além dos fatos, explicações. Saúde mental e saúde pública estão na mesma esfera, dissociá-las estimula a fabricação de horrores.
O Globo de domingo (17/4, págs. 16-21) fez muito bem em lembrar que as filas para tratar doenças mentais, no Rio, demoram até quatro meses. Neste intervalo tudo pode acontecer.