Infalível: depois da notícia dramatizada, a piadinha maligna. Com os Maluf (pai e filho) não foi diferente. Uma semana depois da prisão, negado o hábeas corpus para responderem em liberdade, começaram as gozações. Compreende-se a explosão de alegria depois de três décadas de espera pelo castigo, mas conviria refletir sobre o teor da gozação.
Claro, quem começa a zombaria são os zombadores profissionais, são pagos para isso. Mas, mesmo no país da piada pronta, seria proveitoso reprimir os primeiros impulsos e preferir as tiradas mais elaboradas, sempre melhores e menos agressivas. O humor não precisa ser politicamente correto, mas seria bom que respeitasse certos limites. Sobretudo em matéria de preconceito étnico ou racial, terreno em que a piada inocente rapidamente converte-se em estigma.
Maluf converteu-se num símbolo da corrupção e da cara-de-pau. Vai pagar pelos crimes que cometeu. Mas a comunidade sírio-libanesa nada tem a ver com isso. As generalizações são totalitárias.
Veja-se esta jóia na ‘Coluna do Agamenon’ (O Globo, domingo, 18/9, Segundo Caderno, pág. 10) produzida pela hilariante turma da Casseta & Planeta:
‘Acostumados com a opulência nababesca dos sírio-libaneses endinheirados de São Paulo, Maluf Pai e Maluf Filho estão passando por muitos apertos. Na minúscula cela em que se encontram mal cabem os narizes avantajados dos dois apenados…’
Ou este título do não menos jocoso José Simão (Folha de S.Paulo, domingo, 18/9, Ilustrada):
‘Buemba ! As quibesteiras do Brimo Maluf’
O anedotário étnico é universal, o que não significa que seja legítimo. Reflete um horror às diferenças, e que já derramou muito sangue.