O sobrenome da família já virou sinônimo de delinquência, mas ainda assim chega a surpreender – como uma nova anedota com os mesmos personagens – a notícia de que o deputado federal Paulo Salim Maluf, sua esposa, filhos e agregados acabam de ser denunciados em nova ação penal por malversação de dinheiro público.
Por 7 votos a 1, o Supremo Tribunal Federal aceitou abrir mais uma ação contra os Maluf, por uma série de crimes que teriam origem no desvio de dinheiro destinado a obras no período de 1993 a 1996, quando o patriarca da família foi prefeito de São Paulo.
Os fatos não são novos e já foram objeto de notícias esparsas, durante a fase de investigação. A novidadeé que o trabalho da polícia e do Ministério Público Federal finalmente resulta em processo criminal admitido pelo STF. Além disso, a consolidação das informações, que incluem dados do governo da Suíça sobre movimentações financeiras, permite elaborar uma conta dos prejuízos causados ao erário – e que chegam ao fabuloso montante de R$ 1 bilhão.
Anedotas do noticiário
A cada nova acusação, a assessoria de imprensa de Maluf, comandada por um ex-chefe de reportagem da Folha de S.Paulo, repete o mantra segundo o qual o acusado “não tem e nunca teve dinheiro no exterior”. Para os jornalistas que acompanham a trajetória do político paulista, a frase já faz parte do folclore.
“O que está provado nos autos, fartamente, é que integrantes da família Maluf uniram-se em torno do objetivo comum de ocultar e dissimular a origem de valores provenientes de crimes contra a administração pública praticados por Paulo Maluf”, segundo declaração do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
A origem principal do dinheiro desviado foi a construção da Avenida Água Espraiada, que oficialmente consumiu a bagatela de R$ 800 milhões. No entanto, os investigadores demonstram que cerca de R$ 1 bilhão teriam passado por processos de lavagem de dinheiro que envolveram mais de uma dezena de empresas instaladas fora do país. Segundo o inquérito, parte desse valor era reintroduzida no Brasil sob a forma de investimento na Eucatex, empresa da família.
A lista dos réus é formada por Paulo Maluf, sua mulher Sylvia, os quatro filhos do casal e mais dois parentes.
Entre as anedotas do noticiário, registro para a frase de um dos advogados dos acusados: “No Brasil, transformaram formação de família em formação de quadrilha”.
Ponto positivo
De fato, essa é a linha central da biografia de Paulo Maluf, que desde 1967 oscila entre o noticiário político e a crônica policial. Maluf já é réu em dois outros processos, um por corrupção passiva, ligado ao mesmo caso, e outro por crimes contra o sistema financeiro, que corre em segredo de Justiça.
Em 1996, ano em que Paulo Maluf deixou a prefeitura paulistana, seu primogênito, Flávio, assumiu a presidência da empresa, fundada pelo tio Roberto, e passou a substituir todos os executivos por homens de sua confiança. O processo contra a família deve chegar à contabilidade da Eucatex em algum momento. Então, a imprensa terá outra história interessante para contar.
A ação penal aberta no Supremo Tribunal Federal deverá descortinar alguns elementos interessantes no processo de passagem de poder na empresa. Entre outras curiosidades, destaque para o minucioso e elaborado código de ética produzido por Flávio Maluf ao assumir a direção da Eucatex. Trata-se de um primor de excelentes intenções.
Observe-se também os nomes dos integrantes do Conselho de Administração que, conforme a evolução do processo, poderão ser responsabilizados pelo ingresso de capital de origem criminosa que certamente influenciou nesse período o desempenho da empresa e sua competitividade.
A decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada em meio a uma de suas piores crises, surpreende menos pelos personagens envolvidos do que pelo resultado da votação. Já chegado ao seu outono, o patriarca dos Maluf não poderia aspirar a um corolário mais adequado para sua biografia. Ele completou 80 anos no dia 3 de setembro.
Quanto ao STF, marca um ponto positivo em meio ao noticiário que o acusa de haver mandado suspender quase metade das punições determinadas pelo Conselho Nacional de Justiça contra juízes acusados de crimes.