Há oito anos, quando FHC tomou posse do seu segundo mandato, em janeiro de 1998, o jornal O Estado de S.Paulo marcou época, em contundente editorial, ao taxar de ‘discurso banal’ a fala do ex-presidente. Não havia nada de novo. Nem promessas. Era o prenúncio de uma etapa medíocre da vida nacional, antevista pelo grande jornal brasileiro na fala presidencial.
Agora, o próprio Estadão cai no mesmo defeito de que acusou Fernando Henrique Cardoso. Deu uma manchete banal (terça-feira, 2/1): ‘Lula assume e nega ser populista’. Ora, em um discurso cheio de promessas impactantes, direcionadas aos diferentes setores da vida nacional, na tentativa de abordá-los e condensá-los em sua totalidade, não combina com a importância do jornal o destaque dele a uma parte da oratória do presidente, como se esta tivesse ares de absoluto, de síntese do que o titular do Planalto pretendeu passar à população.
Espírito de uma era
De modo geral, as manchetes dos considerados quatro grandes da imprensa, salvo a do Estadão, refletiram bem o momento nacional. A Folha de S.Paulo destacou o caráter provisório do governo em sua ação inicial, deixando dúvidas para todos os lados. Negou-se a fazer coro com a dramaticidade dos jornais cariocas, quando poderia fazer o mesmo, porque o drama em tela, o terror urbano, faz parte do cotidiano tanto dos cariocas como dos paulistas, em grau de intensidade máxima. O Globo e o Jornal do Brasil preferiram, com razão, focar o posicionamento do presidente contra o terrorismo.
O Estadão, no entanto, banalizou geral. Impregnou-se do espírito de FHC, que ele próprio condenou. Sinceramente.
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Repórter do Jornal da Comunidade, Brasília, DF