Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Manchetes fora de lugar

O grande inimigo dos ambientalistas era, até sábado (15/12), o presidente dos Estados Unidos. Mas no encerramento da 13ª Conferência do Clima em Bali, Indonésia, os americanos finalmente aceitaram participar da redução do aquecimento global diante da diminuição das exigências européias.


E quem passará a ocupar o lugar de vilão? É fácil verificar: no domingo (16), dos três jornalões nacionais, apenas um – o Estado de S.Paulo – percebeu a importância histórica do acordo e o destacou em manchete. O Globo, que tem vários colunistas na linha de frente da defesa do meio ambiente, jogou o assunto lá embaixo da primeira página. E a Folha de S.Paulo, achou mais importante valorizar uma sondagem realizada pela empresa do mesmo grupo, Datafolha, sobre a melhoria de vida dos setores mais pobres da população – e deixou o plano antiaquecimento global em posição secundária.


Imprensa desatenta


É evidente que o acordo firmado por 191 países no fim de semana poderia ter sido mais rigoroso, mas se a imprensa não consegue mobilizar os seus leitores em torno de um inédito consenso internacional, como esperar que os eleitores pressionem os seus governos para salvar o planeta?


A opção equivocada dos mancheteiros da Folha e do Globo não agravará o aquecimento global, mas revela, além da miopia, alguns preconceitos jornalísticos. Na Folha, qualquer estatística vale mais do que um fato, por mais transcendente que seja, e quando esta cifra é produzida pela empresa co-irmã o destaque é sagrado. No Globo, sagrada é a denúncia local mesmo que se trate de uma patrulha da PM que prefere proteger um botequim em Ipanema em vez de garantir a segurança dos pedestres.


Uma coisa é certa: a proteção do meio ambiente começa na consciência individual e uma imprensa desatenta pode ser tão danosa quanto a teima do presidente George W. Bush em assinar os acordos internacionais.