Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Marcelo Beraba



’24/05/2004

A viagem de Lula à China foi o assunto do final de semana. A Folha teve pesquisa Datafolha sobre a eleição de São Paulo, uma boa diferença em relação aos outros jornais. ‘Veja’ e ‘Época’ trouxeram um caso novo, o escândalo das notas frias da Ágora, ONG que teria ligações com o PT.

China 1

Se estamos de acordo com a coluna da Cláudia Antunes de hoje sobre a viagem de Lula à China (‘Entre céticos e ufanistas’, A2), acho que todos os jornais foram mais ufanistas do que céticos, o que não combina muito com a ótica jornalística. Como disse o Marcelo Coelho ontem, ‘fica bem exagerado fazer dessa viagem uma expedição épica, um ato de estadista’.

Ontem, ainda havia um ou outro questionamento em relação aos efeitos da viagem para o Brasil. Hoje, nada mais. ‘Trem e porto atraem investimentos da China’, ‘Vale e empresa chinesa investem US$ 1 bi no Brasil’, lista de negócios na China –tudo aponta para uma nova etapa na economia brasileira. E tem até o inusitado aviso diplomático: ‘Parceria não é ameaça aos EUA, diz Amorim’.

China 2

Tem uma passagem na entrevista com o chanceler Celso Amorim de hoje (A5) que não entendi: ‘(…) Amorim afirmou que há uma forte tendência de aproximação entre as nações do sul. Nessa linha, o fortalecimento dos laços entre Brasil e China é fundamental’. Não vi a relação entre a aproximação entre as nações do sul e o fortalecimento dos laços entre Brasil e China. Será que foi isso mesmo que ele disse?

Pesquisa eleitoral 1

A primeira página de domingo e a reportagem da página A4 de Brasil (‘Serra, com 26%, lidera emSP; Maluf e Marta estão com 20%’) informam que ‘Serra e Maluf são os únicos que se movimentam fora da margem de erro, que é de três pontos percentuais’. Um leitor lembra que o rigor estatístico deveria também levar em conta os 3 pontos percentuais da pesquisa de março. Nesse caso, a intenção de voto dos dois e da Marta oscilaram dentro da margem de erro (três pontos percentuais da última pesquisa e três desta agora).

Consultei o Datafolha, que concorda com a observação, embora lembre que no caso é possível se falar numa liderança clara de Serra em função de dois fatores: a inversão de posição (Serra estava dois pontos abaixo de Maluf e agora está seis na frente) e o crescimento da intenção de voto espontânea (Serra cresceu de 2% para 10%).

De qualquer forma, o jornal deve estar atento para este detalhe da margem de erro da pesquisa anterior. Ainda mais em pesquisas com margens tão grandes (3 pontos percentuais, quando o ideal seriam 2 pontos) e numa disputa embolada.

Pesquisa Eleitoral 2

A informação de que a pesquisa de hoje, de avaliação do governo Alkcmin, foi feita somente na capital não está primeira página. Deveria estar. Os leitores podem pensar que é uma pesquisa em todo o Estado. Mesmo em Brasil (A4), a informação só aparece no segundo parágrafo. É uma omissão grave, acho.

Operação Vampiro

Algumas preocupações que acho que a Folha deveria ter neste caso.

1 – Pelo que li até agora, a Folha e todos os jornais dependem de duas fontes de informação, o Ministério Público e a Polícia Federal. Todo cuidado é pouco, portanto.

2 – O caso terá consistência ou não se ficar provado que a atual gestão está envolvida em irregularidades no processo de licitação de 2003. Há indícios disso, como os dois flagrantes de remessas de dinheiro de laboratórios para funcionários do ministério, em Brasília, ocorridos no início do ano. A apuração do jornal, no entanto, não está se concentrando neste período, mas está publicando tudo que o MP ou a PF fala sobre as gestões anteriores, mesmo sem provas. Neste ritmo, o caso vai chegar a Pedro Álvares Cabral e, como é costuma acontecer, nada será comprovado. O problema é que quando todo mundo é culpado, ninguém é culpado. A responsabilidade fica diluída. Quando o caso baixar na Justiça, vamos constatar que os crimes atuais foram mal investigados e os antigos, prescreveram.

É possível, como o Janio alerta na coluna de ontem, que haja manipulação do MP em função da eleição.

A Folha não deveria se limitar a cobrir o que diz o MP ou PF, mas questioná-los nos seus procedimentos técnicos de investigação e de encaminhamento do caso.

3 – As reportagem de ontem (‘Quadrilha do sangue atuava desde 1997’, em Brasil, A15) e de hoje (‘Mais dois empresários são presos pela PF’, A6) têm alguns problemas.

– Reportagem de sexta-feira dizia que eram várias quadrilhas e que elas concorriam entre si para fraudar o ministério. O jornal não chegou a identificar as quadrilhas. Ontem e hoje, voltou a se referir sempre a uma quadrilha. São várias (quais?) ou é uma só?

– O jornal dizia, na quinta e na sexta, que havia uma ‘estimativa’ de que o esquema pudesse ter causado prejuízos ‘de até R$ 2 bilhões aos cofres públicos desde o começo da década de 90’. Hoje, está lá, no terceiro parágrafo, sem qualquer preocupação em colocar os dados no condicional: ‘A atuação do grupo nas concorrências relacionadas a hemoderivados (…) produziu, nos últimos 13 anos, um prejuízo de cerca de R$ 2 bilhões aos cofres públicos’. Então, já não há mais dúvida, já não é mais uma estimativa? A Folha assumiu estas informações? A reportagem de ontem estima um prejuízo aos cofres públicos de US$ 120 milhões ‘apenas nos desvios nas compras de dois tipos de hemoderivados’. Está na conta dos R$ 2 bi?

– A reportagem de domingo afirma com todas as letras que a quadrilha atuava desde 97. Mas o que o texto mostra é que nada ficou provado. Que tanto a sindicância interna como as investigações do MP não deram em nada. É até provável que possa ter começado ali, ou até antes. Mas o que o MP tem neste momento são suposições, estimativas, algumas deduções que me parecem chutadas.

– O caso do empresário Lourenço Rommel Peixoto, vice-presidente do ‘Jornal de Brasília’, ilustra bem este terreno pantanoso em que estamos pisando, guiados apenas pelo MP e pela PF. Dizemos hoje: ‘Conforme as investigações, Peixoto (…) seria peça importante da quadrilha.

Experiente [?], atuaria no setor desde o início dos anos 90. Na gestão Collor, (…) teria participado de fraudes’ do esquema PC.’ O esquema PC foi amplamente investigado na década de 90. Portanto, é estranho o condicional. Ou esse cara foi ou não foi do esquema PC. Se a PF e o MP não sabem disso até hoje, como ter segurança de tantos outros dados que estão levantando? E por que a Folha não levantou por conta própria informações sobre ele para saber se atuava mesmo no esquema PC e como atuava? O material da CPI está disponível e temos vários livros sobre o período e sobre o esquema. Ele respondeu a processo na Justiça?

– Não duvido de que haja um grande esquema no ministério e de que este esquema possa ter raízes para trás. Acho bem provável. Mas a ação do MP e da PF está repetindo um filme que já conhecemos: atiram para todos os lados, para o presente e para o passado, fazem estimativas e levantam suspeitas, envolvem dezenas de pessoas e no final fazem um trabalho mal feito, sem provas relativas ao ponto principal. E a imprensa cobre tudo acríticamente, como se tudo fosse verdade.

– A Folha deveria publicar uma arte centrada no caso atual, que é o mais relevante: quais as provas ou evidências que a PF e o MP têm contra cada um dos presos ou acusados. Desta forma podemos perceber se as investigações são consistentes e se vão chegar a algum lugar.

Acho que o abre da principal notícia de Ciência (‘Brasileiro acha sobra de banquete estelar’, A9) está mais para nariz-de-cera do que lead criativo.

Insisto no que falei na semana passada. Há nos textos de várias editorias uma evidente vontade de sair do padrão amarrado da Folha para algo mais criativo e que flua. Mas nem todos estão conseguindo fazer direito. Volto a sugerir que seja organizada uma oficina de texto para começar a trabalhar com mais regularidade este fundamento.

Respostas da Redação

Recebi no dia 20 duas explicações da Redação que, por problemas meus, não incluí na Crítica de sexta. Aí vão, com as minhas desculpas pelo atraso.

De Vaguinaldo Marinheiro, secretário-assistente de Edição:

‘O ombudsman se equivoca ao escrever que não há na Primeira Página a manchete da página 6 de dinheiro, sobre o crescimento do emprego formal.

Está pequeno, num recuado da chamada do Palocci, mas está lá’.

Do editor de Esporte, Melchíades Filho:

‘O ombudsman sugere que a Folha recupere nota publicada hoje pelo Ancelmo Gois. No entanto, a informação de que o presidente do TST foi convidado para o ‘vôo da alegria’ da CBF –e de que Ricardo Teixeira manobra para rever a legislação trabalhista do futebol– foi revelada por Esporte em reportagem de capa no dia 11’.

Tem razão quanto ao convite. Mas não encontrei a parte que fala em ‘manobra para rever a legislação trabalhista do futebol’. Li uma referência à proposta de fixar o teto para ações trabalhistas. Não sei se é a mesma coisa. De qualquer forma, acho que o repórter poderia ter explorado melhor a ida do ministro no ‘vôo da alegria’. O fato de noticiar o convite não significa que o jornal não deveria ter feito mais matéria a respeito. O juiz não viu conflito de interesse ao aceitar o jabá? Foi acompanhado? O que ele acha das reivindicações da CBF? Enfim, havia uma reportagem a ser feita, acho. Mas, são águas passadas. Bola para frente e desculpe por não ter respondido antes.



21/05/2004

O mercado reagiu mal, o mercado entendeu, o mercado recebeu com nervosismo. O mercado existe, tem alma e vida própria. É assim que se deve ler o noticiário econômico. ‘Mercado reage mal à decisão do BC’, diz a manchete da Folha. Quem é o mercado? E por que o jornal ora fala no mercado financeiro, ora fala nos mercados financeiros? São seres distintos ou são o mesmo personagem? Quem fala pelo mercado? Está na Folha, na capa de Dinheiro: ‘Segundo o mercado, Banco Central admitiu fragilidade da economia ao manter juros’. Nos jornais, o mercado dá entrevista, perde o humor, é instintivo, sabota, faz o que quer. Mas não tem rosto, apenas gráficos.

‘O Estado’ abre espaço na capa para uma seqüência de quatro fotos que flagram a prefeita Marta Suplicy sendo atingida por ovos atirados por camelôs. A Folha não tem imagens da cena nem na Edição SP.

O mercado

A Folha atribui a deterioração de vários indicadores da economia (dólar, projeção dos juros, bolsas, risco-país) à decisão do Banco Central, anteontem, de não baixar a taxa de juros. O ‘mercado’ teria entendido que a economia brasileira está vulnerável à instabilidade externa. Para a Folha, fatores externos (petróleo, queda de Bolsas internacionais, expectativa em relação aos juros nos EUA) também teriam influído, mas o ‘fator preponderante’ foi a decisão do BC.

O ‘Valor’ diz que a ‘turbulência global’ não pode ser responsabilizada pelo que ocorreu ontem. A agitação interna foi por conta da decisão do BC.

E agrega outros motivos não relacionados pela Folha: a queda de investimentos estrangeiros no país em abril e as dificuldades do governo no Congresso. O ‘Estado’ e ‘O Globo’ também minimizam, no caso de ontem, os fatores externos e, como o ‘Valor’, relacionam os problemas políticos do governo.

E por que o dólar subiu tanto? A ‘Gazeta Mercantil’ e o ‘Estado’ explicam: os bancos vêm apostando na alta da moeda americana e estão comprando muito dólar. Há uma pressão, portanto, por compra e não se trata apenas de uma reação instintiva do mercado, como o noticiário freqüentemente faz parecer. Segundo o ‘Estado’, há uma queda de braços BC e bancos em torno do câmbio. Não vi na Folha de hoje.

E o leitor?

Com este cenário confuso e instável, o que o infeliz do cidadão pode fazer? Quem tem algum dinheiro em renda fixa está perdendo, li em algum lugar. Deve sair? Deve comprar dólar se tiver alguma poupança? Não deve fazer nada?

Parmalat

O ‘Estado’ continua a acompanhar o escândalo da Parmalat. Hoje informa que a empresa remeteu irregularmente, apenas em duas operações, R$ 2,3 bilhões para o exterior. Como se diz, é dinheiro em qualquer lugar do mundo.

Operação Vampiro

Alguns problemas na edição de hoje.

1. A reportagem principal fala em quadrilhas, no plural, e explica que eram várias e concorriam entre si para disputar as fraudes no Ministério da Saúde (Brasil, A4). Mas a reportagem principal da página A5, também de Brasília, volta a tratar de uma ‘suposta quadrilha’, no singular, como se fosse um grupo só. Se são várias, é necessário que o jornal comece a distingui-las.

2. A arte da página A5 (‘Quem teve prisão decretada’) apresenta os mesmos problemas já apontados ontem por esta crítica. As representações de empresas ou da Cruz Vermelha Americana, a assessoria ao Ministério e os graus de parentescos não podem ser classificados como ‘supostas atividades’, como está na arte. Suposta atividade, entendo, se refere às atividades suspeitas dos acusados.

3. Ainda nesta arte tem outro problema, de apuração. Armando Garcia Coelho aparece na coluna ‘suposta atividade’ da seguinte forma: ‘seria sogro de André Ferreira Murgel’. Primeiro, por que seria? O jornal não tem como apurar uma informação desta? Segundo, não entendo como ser sogro possa ser classificado como ‘suposta atividade’. Terceiro: não tem certeza, não escreve. É melhor para todos.

ambíguo

‘Lula é cobrado por violações na China’. Em Brasil, página A8.

Lula na China

Achei boa a idéia de a Folha fazer um levantamento das violações dos direitos humanos tão comuns na China que o presidente Lula visita a partir de amanhã. Mas também achei incorreto o título do jornal (‘Lula é cobrado por violações na China’), descontada a ambigüidade. As organizações ouvidas não cobraram nada de Lula. Elas foram procuradas pela Folha, fizeram um relato da situação do país na área em que cada uma se especializou e, em alguns casos, ‘exortaram’ (como diz o próprio texto) o presidente a mencionar o tema durante a visita. Como está parece que há um movimento de ONGs pressionando Lula. Pode ser até que depois da reportagem este movimento surja…

Ovos

Seja pelo histórico de hostilidades, seja pelas vésperas das eleições municipais, a prefeita deveria ter um acompanhamento mais regular para que o leitor não tivesse um relato sem imagens (Cotidiano, pág. C5).



20/05/2004

As capas dos principais jornais estão tomadas por três grandes assuntos: a prisão de 14 pessoas suspeitas de fraudes no Ministério da Saúde, incluindo um assessor direto do ministro, a decisão do Banco Central de não alterar a taxa dos juros e a pesquisa do IBGE que mostra com detalhes o empobrecimento da família brasileira. Só a Folha deu manchete para a decisão do BC. Nem o ‘Valor’, especializado em economia, fez esta opção radical. Há o mérito de se diferenciar dos concorrentes. Mas, da maneira como editou, enfraqueceu os dois outros assuntos, principalmente as prisões na Saúde. O ‘Estado’ deu bem as prisões e o BC , mas deu muito mal a pesquisa do IBGE. E ‘O Globo’ destacou bem os três assuntos no alto de sua capa, com menos espaço para os juros.

Informação exclusiva?

A Folha não tem nenhuma informação exclusiva na sua primeira página de hoje da Edição SP. Nenhuma.

Na Edição Nacional há uma chamada para o problema de assaltos a ônibus em rodovias da Bahia, e só. Aliás, esta chamada tem um problema: o título diz que os ônibus serão escoltados e o texto diz que eles já são.

Está mal formulada a primeira sentença do texto ‘Família brasileira estoura orçamento’, na primeira página da Folha. Parece faltar um ponto-e-vírgula ou a conjunção e antes da conclusão ‘com isso, não poupa’.

Crise ou turbulência?

A manchete da Folha diz que o BC culpa a ‘crise externa’ pela decisão que tomou de manter os juros em 16%. A manchete da capa de Dinheiro fala em ‘turbulência externa’, e não em crise. São termos distintos e, no caso, turbulência (instabilidade, como definiu ‘O Globo’, ou ‘volatilidade’, definição do próprio BC e aproveitada pelo ‘Estado’) parece mais preciso.

Se o jornal já chama de crise o que ainda não aconteceu, fico imaginando que termo buscará se a crise realmente se instalar. E se já é crise, como banca a primeira, faltou descrevê-la.

Crise e pacto

O medo de que a turbulência vire crise que norteou a decisão do BC dá sentido à proposta atrapalhada feita por José Dirceu aos empresários de um pacto nacional. Só o Painel fez referência ao fato.

Ainda os juros

O que justifica a extensa cobertura da decisão de ontem do BC é a frustração. Empresários e governo esperavam a continuidade da queda da taxa como um alívio para a economia e para seus problemas políticos. A Folha acertou ao fazer a arte da pág. B3 da Edição SP com os principais elementos recentes que justificam, para o BC, a decisão cautelosa de ontem. Acertou também nas repercussões políticas e com empresários e ao trazer informações dos bastidores do governo. Mas é uma cobertura, vamos dizer, macro, politizada, e nela falta o consumidor. Qual a repercussão da decisão de ontem para o bolso do cidadão comum? As possíveis repercussões estão perdidas em uma das reportagens (‘Indústria e comércio temem que decisão afete retomada’) e entre aspas de representantes do comércio. O jornal deveria ter feito algo separado, inclusive uma arte mostrando o que pode acontecer com os juros mantidos e o que poderia acontecer com os juros baixados.

Gasto Brasil

1. Com quatro páginas livres e metade de outra, a cobertura da Folha sobre a Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE me pareceu bem feita e mais completa do que a do ‘Estado’, que arrumou tantos dados em apenas duas páginas. ‘O Globo’ destinou espaço igual ao da Folha, talvez uma coluna a mais. As revelações da pesquisa justificam a generosidade de páginas, incomum nesta época de contenção de papel.

2. Acho que as explicações metodológicas deveriam ficar mais evidentes, principalmente para que o leitor entenda porque só foi possível a comparação com os dados de 74/75. A pesquisa, além do retrato detalhadíssimo que traça do consumo das famílias, servirá para alterar a apuração da inflação e atualizar os cálculos de vários indicadores do IBGE. O ‘Estado’ explica, a Folha, não.

3. Um ponto que me incomodou foi o uso, em títulos e artes, de ricos e pobres sem definição de categoria. Uma coisa é distinguir os mais ricos e os mais pobres, ou seja, os extremos das faixas de renda. Outra, é falar em pobres e em ricos sem definir as faixas. Na arte da primeira página da Edição SP, por exemplo, são pobres, para o efeito de descrever os alimentos mais consumidos, as famílias que ganham até R$ 400 por mês. Na mesma arte, define-se como pobres as famílias que ganham até R$ 1.000 mensais.

Vampiros

Está mais extensa e completa a cobertura do ‘Globo’ do caso da Operação Vampiro, da Polícia Federal, no Ministério da Saúde. O jornal do Rio se preocupa, por exemplo, em mostrar o que significa o desvio de recursos públicos para o cidadão que depende dos serviços de saúde do Estado. E tem também informações mais detalhadas sobre as operações de prisões e apreensões feitas ontem.

Acho que a arte da Folha ‘Quem teve prisão decretada’ (capa da Ed. Nacional e pág. C4 da Ed. SP) tem um problema sério na coluna ‘Suposta atividade’. Ali se misturam informações diferentes e sem um padrão.

Lourenço Peixoto, por exemplo, não tem a ‘suposta atividade’ de vice-presidente do ‘Jornal de Brasília’. Ele é o vice-presidente. E assim, vários casos.

Vôo da alegria

A Folha publicou ontem reportagem dos enviados especiais à Paris sobre os convidados da CBF que viajaram de graça (‘‘Vôo da alegria’ da CBF veta boleiros’, pág. D3 da Ed. Nacional) para assistir ao jogo do Brasil com a França. A reportagem enumera várias celebridades convidadas para a mordomia. Não cita, no entanto, o caso mais escandaloso. Segundo a coluna do Ancelmo Gois de hoje, viajou na mesma mordomia o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Vantuil Abdala. Ancelmo lembra que ‘os clubes de futebol são grandes clientes da Justiça Trabalhista por causa de atrasos de salário e outros tipos de desrespeito a direitos dos trabalhadores’.

Ainda há tempo para recuperar.

Equilíbrio

É difícil saber se o título ‘Preocupação nacional’, na capa do Folha Equilíbrio, se refere à reportagem ou ao anúncio do plano de saúde. É uma capa confusa, difícil de ser compreendida.



19/05/2004

A capa do ‘Globo’ revela a frustração do jornal com a eliminação do Rio na disputa para receber as Olimpíadas de 2012. ‘Só beleza não basta’ resume bem o sentimento cada vez mais comum na cidade. A arte com todas as notas baixas que a candidatura recebeu comprova a gravidade dos problemas do Rio. Folha e ‘Estado’ deram chamadas pequenas, abaixo das dobras de suas capas, sem destaque.

Os dois jornais de SP preferiram, mais uma vez, chamar a atenção para a economia. Na Folha, ‘os juros sobem em bancos e financeiras’ e Palocci descarta a correção na tabela do Imposto de Renda. O ‘Estado’ é mais positivo: ‘Pesquisas indicam aumento do emprego’ e Palocci explica que os problemas da economia vêm do crescimento dos EUA e da China, e não de uma crise no Brasil.

É difícil entender por que a manchete da página A6 de Dinheiro (‘Emprego formal tem crescimento recorde’) não está na primeira página da Folha. É indicador (a Folha adora um indicador na capa), é recorde (maior taxa de crescimento desde 1992) e é emprego, maior problema para os brasileiros. O jornal assim dá razão aos que dizem que só destaca os dados negativos.

Dentes

A Folha registra na capa 1,5 milhão de brasileiros sem dentes a mais do que o ‘Globo’. A Folha informa sua base de cálculo (179 milhões, a população atual do país segundo o IBGE). Na edição do ‘Globo’ que li em SP não há a informação da base.

PL x política econômica

As críticas do PL e do vice-presidente José Alencar são para serem levadas a sério ou não? No editorial que fez sobre declarações semelhantes do vice, publicado em 12 de maio, o jornal considerou ‘os ardentes’ discursos de Alencar ‘manifestações folclóricas da política nacional’. Mas o fato é que ele e seu partido estão cada vez mais críticos, como registra a edição de hoje (‘PL diz que presidente do BC ‘sabota’ o país’, Brasil A5). O jornal deveria ter trazido uma análise e mais bastidores. Embora já tenha feito isso em outras ocasiões, o tom provocativo vem se acentuando e é provável que existam razões novas para isso.

Morte

Afinal, o publicitário Armando Dile, envolvido por Waldomiro Diniz no caso do bingo, morreu em dezembro de 2002 em um acidente de carro , conforme a Folha informou em 15 de abril, ou de aneurisma cerebral, como está na edição de hoje (Brasil A7, ‘Viúva desmente Waldomiro em depoimento’)? Ou morreu de aneurisma depois de um acidente de carro? Este caso está rolando desde então e não é possível que a Folha não consiga saber a causa da morte. Se não tiver sido em acidente de carro será necessário dar um Erramos.

Abin

A Folha informa que o nome do novo diretor da agência ainda não foi divulgado (A8 na Ed. SP). Mas o nome já está no ‘Estado’, delegado Mauro Marcelo Lins e Silva, de SP. A conferir.

Haiti

1. Quem comandará as tropas brasileiras no Haiti, o comandante do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Haiti, capitão-de-mar-e-guerra Marco Antônio Nepomuceno da Costa, ou o general Américo Salvador? As reportagens da página A11 de Mundo dão a entender que os dois estarão no comando. Quem está subordinado a quem?

2. A Folha demorou três dias para repercutir sua própria manchete de Domingo com as declarações polêmicas do general Américo Salvador. E fez uma repercussão, desculpe a redundância, declaratória, apenas de aspas, sem análise das condições militares distintas das duas situações.

Foto de FHC

Uma das legendas das fotos que ilustram a reportagem sobre o Instituto FHC (Brasil A8 na Edição SP) informa: ‘foto de FHC pintada por Carlos Tonelli’. É isso mesmo, foto pintada? Na Ed. Nacional (A6) está ‘retrato de FHC pintado por Carlos Tonelli’. Deve ser o caso de Erramos.

Terça-feira

Um leitor chama a atenção para dois problemas na edição de ontem que merecem registro, mesmo que tardio.

1 – Petróleo – A Segunda manchete da primeira página atribui já no título à ‘nova alta do petróleo’ a queda das principais Bolsas, mas não informa para quanto foi o preço do óleo. Mesmo na reportagem interna (capa de Dinheiro, ‘Tensão política e petróleo derrubam Bolsas’) a informação só vai ser encontrada no 11º parágrafo.

2 – Informe Publicitário – Embora tenha tipologia diferenciada da usada pelos textos jornalísticos, o anúncio da pág. A5 da Edição SP (Sancil inaugura Hospital no Socorro) deveria Ter o selo ‘Informe Publicitário’ para ficar mais claro que não é reportagem. Em tempos de confusão, todo cuidado é pouco.’