Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mário Magalhães

‘Se crianças começam a assuntar sobre a vacinação contra a febre amarela, é sinal de que o temor da doença -e da injeção- se disseminou.

Não é para menos: no princípio do ano, parcela expressiva do jornalismo sugeriu que o mal ameaça o país. A Folha não ficou de fora. Como se vê ao lado, do dia 8 até a quinta-feira passada o assunto ganhou espaço na primeira página, 14 presenças em 17 dias.

Há mesmo interesse público em saber que houve contaminação em áreas rurais. A morte em decorrência de picada de mosquito na floresta é tão trágica como a de alguém infectado nas cidades.

Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada.

Sob uma manchete, o jornal relativizou a opinião do ministro da Saúde: ´No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela no país subiu de 15 para 24, (…) José Gomes Temporão foi à TV fazer um pronunciamento (…) para dizer que não há risco de epidemia´.

Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar. Quando consultou quem entende, a Folha prestou bons serviços.

Na contramão de leigos que proclamavam a urgência de imunização universal, infectologistas a condenaram.

Até a quinta, contavam-se dez mortos por febre amarela silvestre, desde 30 de dezembro. Todos a teriam contraído na mata de Goiás.

O exagero da Folha em 2008 contrasta com outro, o de 2001, quando os 22 óbitos se concentraram no primeiro trimestre. Em nenhum dia daquele ano a primeira página se referiu à moléstia.

Em março, notinha de rodapé com oito linhas noticiou: ´Morre a 15ª vítima da febre amarela´. Outra nota anunciara semanas antes as 39 mortes do ano anterior (mais uma se somaria à estatística).

Os registros não trouxeram a opinião do então ministro da Saúde, José Serra. Em 2000, nenhum título da capa falou em morte pela doença.

A Redação discorda: ´Os números dos anos recentes justificam a cobertura que a Folha vem dando à febre amarela. Em 2004 e 2005, houve três mortes confirmadas em cada ano; em 2006, foram duas mortes; em 2007, cinco´.

´Em 2008, apenas no primeiro mês do ano, já há dez mortes confirmadas (uma delas ocorrida em 30 de dezembro, mas só confirmada agora). Acresce que a Folha tem dado amplo espaço a autoridades e especialistas, com diferentes visões sobre a dimensão do problema. E a única manchete relativa ao tema tratou do pronunciamento do ministro da Saúde em que ele procurava tranqüilizar a população.´

Não entendi por que os números de 2000 e 2001 não ´justificaram` destaque. Sobre isso, minhas perguntas não mereceram respostas.’

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‘Uma confusão balcânica’, copyright Folha de S. Paulo, 27/1/08

‘Um mapa menor do que a face de uma caixa de fósforos provocou nos últimos dias o que um leitor qualificou de lambança.

No sábado retrasado, a Folha publicou o título ´Acordo de Sófia reforça domínio russo no mercado europeu´, sobre um contrato, assinado na capital da Bulgária, para a construção de um gasoduto.

Ao lado saiu o mapinha, recurso editorial precioso para localizar os países mencionados. Nele, pululavam erros.

Na segunda, ´Erramos` corrigiu: o mar Adriático do desenho é, na verdade, o mar Egeu. Reclamei: Belgrado, capital da Sérvia, fora grafada impropriamente e aparecia como capital de país extinto, a Iugoslávia. Nova correção, na terça, referiu-se à falecida Iugoslávia como ´Estado báltico´.

Dois leitores escreveram e, na quarta, leu-se o derradeiro ´Erramos´: a Iugoslávia era um país balcânico, não báltico.

Lição reafirmada: checar antes de informar é importante. Em correções, mais ainda.’