Uma reforma educacional e melhores condições de trabalho: esta é a resposta dos estilistas americanos ao problema da obsessão pela magreza das modelos. Os médicos especializados em distúrbios alimentares rebatem: modelos que almejam a magreza em excesso a qualquer preço não deveriam nem estar nas passarelas, dizem eles.
As propostas destinadas a estilistas e agências de modelos, discutidas na semana passada pelo Conselho de Estilistas de Moda dos Estados Unidos em um encontro liderado pela estilista Diane Von Furstenberg, contrastam com as recomendações divulgadas esta semana pela Academia para Distúrbios Alimentares, uma organização médica internacional com sede em Illinois, nos EUA. Enquanto os estilistas resistem em não estabelecer requisitos definidos de idade e peso para modelos, o grupo de médicos insiste que tais exigências são necessárias.
Pressão
Depois da morte de duas modelos na América do Sul no ano passado, a indústria da moda vem sendo pressionada a explicar as razões para apresentar suas coleções com modelos tão magras. A anorexia nervosa afeta de 0,3 a 1% de mulheres jovens, de acordo com a Academia para Distúrbios Alimentares.
Segundo as normas da Academia, as modelos devem ter no mínimo 16 anos e índice de massa corporal (relação entre altura e peso conhecida como IMC) maior que 17,4 para mulheres menores de 18 anos e maior de 18,5 para as que têm mais de 18 anos. Isto significa que uma modelo de 1,80 metro de altura, com mais de 18 anos, deveria pesar pelo menos 57 quilos. Esta escala tem sido amplamente ignorada por estilistas e agências de modelos desde que foi adotada em setembro como parte de uma proibição do governo espanhol de que modelos muito magras subissem nas passarelas da Semana de Moda de Madri. Diane e outros estilistas argumentam que as medidas são muito restritivas e não deveriam ser impostas em escala global.
Posturas diferentes
Já o médico Eric van Furth, diretor clínico do Centro de Distúrbios Alimentares Ursula, na Holanda, e presidente da Academia para Distúrbios Alimentares, criticou o grupo de estilistas por não ter solicitado opinião médica para formular suas recomendações, alegando que os únicos consultados para a formulação das propostas foram editores da revista Vogue. Furth afirmou estar preocupado com a habilidade da indústria de moda de se auto-monitorar. ‘Acreditamos que a indústria de moda deva assumir responsabilidades pela saúde de suas modelos. O modo como eles estão apresentando suas normas mostra realmente que eles não reconhecem a seriedade do problema de distúrbios alimentares’.
O diretor-executivo do conselho de moda, Steven Kolb, rebate as críticas. Segundo ele, três renomados especialistas em saúde foram consultados: o nutricionista Joy Bauer, o personal trainer David Kirsch e a psiquiatra Susan Ice. ‘Não é como se nós estivéssemos discutindo sem ouvir conselhos de pessoas especialistas na área’, justifica Kolb.
Para o estilista Johnson Hartig, os estilistas não devem ser os únicos culpados pela existência de distúrbios alimentares entre modelos e pela obsessão pela magreza na cultura popular. ‘Não são apenas as modelos que são magras, mas também atrizes e celebridades’, opina. Informações de Eric Wilson [The New York Times, 9/1/07].