Quem acompanha pela internet o debate travado entre órgãos da mídia e o público, melhor dizendo, o eleitor, tem a oportunidade de ver uma discussão extremamente interessante e inteligente – com algumas exceções, é claro – para o desenvolvimento e o aprimoramento da democracia no Brasil. Ambos têm muito a ganhar. De um lado, o povo que escolheu quem quis para votar, desqualificando assim os ‘famosos’ formadores de opinião que, tentando fazer valer sua vontade, na verdade refletem, isto sim, a vontade dos patrões. As quatro maiores empresas de mídia no Brasil não gostam de Lula e fizeram o diabo para derrubá-lo. Conseguiram no primeiro turno e esperavam repetir o fato no segundo. Aí o povo entrou em cena e derrubou toda a estratégia montada com esse objetivo, quer dizer, não se deixou levar pela vontade deles, dos tais formadores de opinião.
Do outro lado estão todas as mídias, segundo alguns. Mas, particularmente, creio não ser toda ela. Sim, porque nem todos entraram pelo mesmo caminho de críticas, somente críticas. Nem todos têm os mesmos pontos de vista de um Diogo Mainardi, articulista da revista Veja que escreveu ser o seu ‘objetivo a derrubada o governo de Lula’, como se ele tivesse o dom de decidir quem e o que é melhor para todos. Do alto de sua arrogância não consegue enxergar nem o próprio nariz e vem dando uma de iluminado! Outro que só fez falar mal de tudo e de todas as formas foi Clovis Rossi, da Folha de São Paulo. Foi processado pelo PT e, quando a sentença o obrigou a dar o mesmo espaço à resposta, a Folha caiu de pau dizendo que era cerceamento da liberdade de imprensa.
Povo independente
E assim foram muitos deles, principalmente os articulistas dos jornais e revistas de São Paulo: Estadão, Veja, Folha, IstoÉ, enfim, eles se revezavam nas denúncias, mas nunca davam ao outro lado da notícia o mesmo destaque das acusações. Quase todos seguiram o mesmo caminho: o da avacalhação, menosprezo e desrespeito à maior autoridade do país, como uma espécie de demonização de Lula, transformando-o no pior espécime da raça humana. Exceção à Carta Capital que sempre definiu de que lado estava. Todos os outros ficaram com aquela desculpa esfarrapada da imparcialidade, coisa que nunca existiu em lugar nenhum do mundo.
A imparcialidade é uma das técnicas mais difíceis de se desenvolver. Ela exige de quem escreve a pureza dos anjos, pois somente eles são limpos o bastante para não se corromperem com o poder e tampouco precisam do emprego para sobreviver. Raríssimos os jornalistas que a praticou um dia! A profissão exige objetividade e esta é cobrada nas escolas de comunicação, mas, qual de nós, seres humanos, não é subjetivo em nossas atitudes, nos nossos afazeres? Pior é não assumir essas verdades e ficar tentando mostrar aquilo que não é. O povo soube distinguir esse ponto na grande mídia e eles ficaram falando sozinhos!
Aí veio a internet e deu voz a quem não a tinha até então! E a chamada grande imprensa esperneou, está esperneando e continuará até entender que agora o povo não depende mais da vontade dos editores; eles sabem os endereços de blogs, interagem com o blogueiro, comentam, discordam – e, segundo Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de S.Paulo, até ofendem com palavras obscenas. Também criam suas páginas e fornecem notícias. Geralmente informam aquilo que a grande mídia decide que não será noticiado. É esse corporativismo enrustido que está sendo questionado pela população e defendido com unhas e dentes por alguns próceres da imprensa.
Fim da ignorância
Negam-se a acreditar que a internet está forçando uma mudança radical na maneira de fornecer notícia. Antes eram eles quem decidiam o que seria publicado, tirando da população informações que, segundo eles, não interessavam. William Bonner até chamou-nos de Homer Simpson! Vejam que sutileza para nos chamar de alienados! E assim detinham para si as informações e as usavam da maneira que melhor resultado lhes desse. Daí o nome de ‘quarto poder’. E também daí a enxurrada de críticas que estão recebendo.
Bernardo Kucinski em Mídia e democracia no Brasil (Edusp/2002) falou sobre essa prática maléfica de concentração da informação em mãos de poucos. Quem leu sabe o poder que este pessoal tem em mãos. E o movimento não é cria de brasileiros petistas aloprados, como dizem muitos de seus críticos. Tariq Ali, escritor e crítico paquistanês, também faz coro às críticas aos grandes órgãos de mídia mundiais em seu livro A nova face do império. Segundo ele, a mídia, principalmente a americana, finge que noticia e o povo americano engole como verdade toda aquela empulhação fabricada pelas grandes redes de TV e jornais. A verdade nunca ou quase nunca é mostrada e debatida. Ainda segundo ele, interessa ao governo americano a manutenção da ignorância sobre a história, pois facilita as invasões em nome da democracia que o ‘império’ promove todos os anos. Triste, não?
Creio ser este o grande medo deles: a democratização da informação. Só que eles não acreditam, não aceitam a idéia e estão pulando de tudo que é jeito. Pode ser que o chamado ‘quarto poder’ esteja começando a perder forças com o começo do fim da ignorância. A internet está tirando a venda dos olhos do mundo!
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Contador aposentado e jornalista recém-formado, Foz do Iguaçu, PR