Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Meliorismos não resolvem

Nos debates da campanha eleitoral, Plínio Arruda Sampaio tem usado a palavra ‘meliorismo’ em sentido pejorativo, abstraindo do conceito filosófico que vê o mundo e a sociedade como passíveis de aperfeiçoamento. No caso do discurso de Plínio, meliorismo é simples maquiagem. Muito do que se faz ou se promete nos governos carece, em sua opinião, da radicalidade necessária. Melhoras aqui e ali não resolvem os problemas.


Neste sentido, quase se acreditaria que um editorial do Estado de S. Paulo (21/09/2010) concorda com o pensamento do candidato do PSOL:




‘Eles [os números do IBGE] apenas reafirmam que o Brasil continua precisando de uma reforma radical no sistema de ensino, seja para reter os estudantes nas escolas, seja para melhorar a qualidade da Educação. Apesar dos lentos avanços obtidos na última década, a formação dos estudantes brasileiros continua aquém de qualquer resultado aceitável.’


Em concreto, Plínio defende para a educação brasileira uma radical valorização dos professores e investimento generoso (10% do PIB), em comparação com os recentes 3,9% (2005) e 4,7% (2008). Aliás, uma proposta exige a outra. Valorização da profissão docente requer, além de salários melhores, melhores condições de trabalho, mais formação, mais acompanhamento.


O cotidiano escolar atingiu hoje tal complexidade que não se pode esperar que um único docente seja o herói na história de cada aluno. É preciso, por exemplo, criar verdadeiras equipes interdisciplinares para dar conta das questões que desembocam na sala de aula: defasagem crônica de aprendizagem, problemas relacionados à desestruturação familiar, problemas de saúde, violência, drogas etc.


A unanimidade nos discursos


Quanto à valorização do professor, caminha-se para a unanimidade, ao menos verbalmente.


A candidata à presidência Marina Silva (PV), em sabatina realizada em 09/09 pelo jornal O Globo, expressou-se com clareza:




‘[…] Vamos aumentar os investimentos em educação de 5% para 7% do PIB. Também devemos valorizar os professores, porque eles ganham muito mal. E eles não estão dando conta porque as crianças não estão aguentando mais o tipo de aula tradicional. A criança quer associar o aprender ao prazer, mas a escola não está se adaptando.’


Paulo Skaf, candidato ao governo de São Paulo pelo PSB, em outra sabatina, pela TV Estadão, em 1º de setembro, também relaciona valorização docente e qualidade do ensino:




‘O importante da criança não é ir para a escola, é aprender na escola. Se está passando de ano e não está aprendendo, é porque está errado. É preciso melhorar a qualidade de ensino e valorizar os professores.’


Ainda como pré-candidata do PT, Dilma Rousseff declarou:




‘Por trás dos livros e dos laboratórios, há os professores, que precisam de salários dignos e formação continuada’ (cf. no site oficial da candidata).


Quem não deseja professores valorizados? No entanto, como poderia dizer Plínio Arruda, meliorismos apenas enchem os ouvidos. Enquanto a profissão do professor não se tornar carreira ambicionada, cobrar qualidade de ensino será tema constante da mídia e dos discursos políticos. Não muito mais do que isso.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br