Além dos pedidos de cassação dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), ontem (8/3) examinados em plenário, hoje a Comissão de Ética vai votar o relatório que pede a cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha. E este é, para nós, um caso exemplar.
Acusa-se o deputado de ter recebido 50 mil reais do valerioduto por meio da sua mulher, acusa-se o deputado de ter assinado um contrato irregular com uma das agências de publicidade de Marcos Valério [ver abaixo artigo deste OI de fevereiro de 2005] mas ninguém lembra que este contrato de 9 milhões de reais destinava-se a uma campanha de publicidade para promover a Câmara dos Deputados.
Congresso é produto para ser vendido, serviço para ser promovido? O grande ilícito é justamente esse que a grande imprensa teima em não lembrar. Onde já se viu gastar o dinheiro do contribuinte para prestigiar um poder da República e, ainda por cima, tão desprestigiado?
Se os representantes do povo queriam mostrar serviço que trabalhassem, que cumprissem com suas obrigações. Mas por que razão a imprensa não lembra esta irregularidade cometida pelo antecessor de Severino Cavalcanti ? Simplesmente porque a imprensa aceitou calada os anúncios preparados e pagos por Marcos Valério.
A mídia é cúmplice de João Paulo Cunha. Ela veiculou propaganda enganosa e calou diante de uma gritante irregularidade que envergonha qualquer República. Alguém deve pagar por isso – o corruptor ou o corrompido.
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COMUNICAÇÃO DA CÂMARA
A.D.
[Artigo publicado na edição nº 316 do OI, em 15/2/2005]
Quando a Câmara dos Deputados organizar a sessão de despedida ao seu ex-presidente João Paulo da Cunha, seria interessante que os colunistas e repórteres políticos analisassem a sua gestão sob a ótica da imprensa e da comunicação.
O deputado foi, sem dúvida, um inovador. Sobre isso não há menor dúvida. No pior sentido da palavra. A sua participação numa mensagem promocional da Rede Globo e a custosa campanha de publicidade nos principais veículos do país para resgatar a péssima imagem da Câmara sob a sua gestão são inéditos. Inéditos e vexatórios. Na história republicana não há muitos exemplos desse tipo de populismo institucional.
O organismo mais representativo da sociedade brasileira não pode comprar espaço na mídia para mostrar que é responsável e está à altura de suas atribuições. Se precisa valer-se deste artifício promocional é porque falhou redondamente.
Tutti buona gente
JP encerrou o mandato de forma simbólica: inaugurou a nova programação da TV Câmara às 18 horas da segunda-feira (14/2), no exato momento em que estaria presidindo a sessão para escolher o seu substituto. Acendeu os holofotes para si mesmo. Como não conseguiu reeleger-se como queria, usou os recursos do erário para autobadalar-se. É quase a mesma coisa.
Não viu nisso nada de errado, o exemplo veio de cima: se o Executivo lançou o canal TV Brasil dias antes do fim do seu mandato e do colega José Sarney, para prestigiá-los, por que não pode ele fazer algo parecido? [veja remissão abaixo]
O deputado João Paulo Cunha aderiu com gosto a um caipirismo político que começa a afetar não apenas os ritos, mas também a essência do sistema representativo. Prova é a vergonhosa campanha eleitoral no recinto da Câmara Federal para a escolha do seu presidente. A caixinha para financiar os candidatos, os cartazes colados nos corredores e a compra de votos são flagrantes da falta de um decoro que não é apenas parlamentar.
O problema é que todos são boas-praças. Inclusive a imprensa. E neste clima de bom-mocismo generalizado vilões serão os que reclamam.