A imprensa não soube se colocar no caso das duas chacinas promovidas pelos talibãs no Afeganistão como represália pela queima de uma exemplar do Alcorão num pequeno templo na Flórida (EUA). Foram assassinadas vinte pessoas, algumas decapitadas, a maioria composta por funcionários da ONU.
No ano passado, pouco antes do 11 de setembro, o alucinado pastor pentecostal Terry Jones fez a primeira tentativa de queimar o Alcorão e, diante da fortíssima reação das mais altas autoridades dos Estados Unidos, desistiu.
Agora, depois de fazer uma enquete na internet, sentiu-se legitimado e foi adiante numa cerimônia realizada no dia 20 de março. A queima do Alcorão só chegou ao conhecimento dos talibãs graças ao protesto do governo afegão.
Postura conservadora
A reação mundial às chacinas é de horror, mas a mídia internacional não acompanhou o presidente Barack Obama – que, além de condenar a barbaridade, denunciou de forma contundente a provocação do desatinado Terry Jones, fanático militante da extrema direita americana. Ele usa um título de doutor em teologia que nunca obteve, anda com uma pistola calibre 40 e se confessa seguidor de outro fanático, o ator Mel Gibson.
A queima do Alcorão não foi um ato religioso, foi um ato de terrorismo político. Há uma clara diferença entre a livre manifestação de idéias e esta afronta ao poder do Estado que já o advertira sobre os perigos de sua pregação.
Há muitas semelhanças entre as posições extremadas de Terry Jones e os seguidores do Tea Party, um dos quais matou em janeiro seis pessoas no Arizona e feriu com um tiro na cabeça uma deputada democrata.
A grande mídia internacional tem todo o direito de manter posições conservadoras, mas não pode ser cúmplice da intolerância e do fanatismo político-religioso que pode incendiar o mundo árabe justamente quando este começa a lutar pela democracia.