Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia vs. religião

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


A fé religiosa é um dos caminhos para a melhoria do ser humano – certo ou errado? Certo e errado. Porque a religião hoje em dia atende aos anseios espirituais de milhões de pessoas, mas também exacerba ódios de multidões.


Isso não é novidade: grande parte das guerras registradas na história da humanidade foram guerras religiosas, guerras ditas santas e talvez por isso até mais furiosas. Em nome de deus muito sangue já foi derramado.


E exatamente neste momento testemunhamos um confronto que por ironia começou com uma série de caricaturas num jornal dinamarquês que o mundo islâmico não achou muito engraçadas, ao contrário, odiou. Embora publicadas há cinco meses, quase meio ano, estas charges criaram um clima não muito diferente das antigas Cruzadas.


O ‘episódio dinamarquês’ está sendo apresentado como um caso de ‘jornalismo irresponsável’, mas não se pode esquecer a sua origem: as charges foram a reação ao assassinato de um famoso cineasta holandês por um fanático muçulmano por seu filme Submissão, que trata do papel da mulher na sociedade islâmica.


Se neste caso os religiosos estão contra a mídia – veja-se a semelhança das reações do governo americano e do Vaticano –, há uma outra situação ainda mais perigosa em que as religiões servem-se da mídia para propagar suas crenças. Este tipo de guerra santa é a que deve nos preocupar porque a República brasileira está deixando de ser secular e portanto está deixando de ser democrática.


A invasão das seitas religiosas na mídia eletrônica e a politização destas seitas agride algumas cláusulas fundamentais da nossa Carta Magna. Estamos longe ainda das explosões de intolerância que ocorreram na Europa e no Oriente, mas infelizmente estamos longe também do clima de tolerância que deve imperar numa sociedade democrática.


Numa democracia verdadeira as questões da fé não devem misturar-se com política e a mídia deve servir a todos – crentes e descrentes.