A ONG Repórteres Sem Fronteiras expressou preocupação sobre o aumento, nas últimas duas semanas, de ataques à imprensa relacionados à crescente crise política na Bolívia. Empresas de mídia privadas e estatais tornaram-se alvos de retaliação em meio à disputa entre partidários e oponentes do governo.
‘Pedimos à imprensa boliviana para não iniciar uma guerra na mídia que possa rapidamente fugir de controle. Também pedimos aos sindicatos de jornalistas para fazer uma campanha ativa contra as represálias aos jornalistas, não importa o veículo para o qual trabalham’, afirmou a RSF.
Após a eleição de uma Assembléia Constituinte sem maioria absoluta, em agosto, aumentou a tensão entre partidários do governo – que pedem por reformas constitucionais e defendem que elas sejam aprovadas por uma simples maioria – e oponentes, que alegam que qualquer reforma requer aprovação de 2/3 da maioria.
Violência crescente
Julio Peñaloza, da Rádio Erbol, que é conhecido por suas críticas às aspirações separatistas do governo de Santa Cruz, foi insultado e atacado na semana passada, quando cobria uma manifestação da oposição pedindo por autonomia regional. Segundo seus colegas de trabalho, Peñaloza só não foi linchado porque a polícia chegou a tempo. O jornalista afirmou ter recebido ameaças também por telefone. De acordo com o jornal La Razón, os manifestantes que atacaram Peñaloza eram membros da Unión Juvenil Cruceñista, movimento radicalmente crítico ao governo do presidente Evo Morales e acusado de ser o responsável pela explosão de duas bombas nos escritórios da emissora Canal 7, em setembro.
Na capital administrativa, La Paz, cerca de 20 pessoas invadiram os escritórios de duas emissoras de TV privadas, Unitel e Periodistas Asociados de Televisión (PAT), na noite de 6/12, em protesto contra suas posições pró-oposição. Atos de violência foram evitados com a chegada da polícia. A PAT é de propriedade de Carlos Mesa, que foi presidente boliviano de 2003 a 2005.
Membros do Movimento Para o Socialismo (MAS), partido de Morales, atacaram Julio Saavedra, da Rádio Betel, Franz Navia, da Rádio Centro, e um cinegrafista do Canal 52 na cidade de Cochabamba, no dia 27/11, acusando-os de serem ‘cúmplices da oposição’. Eles sofreram ferimentos leves. Informações da Repórteres Sem Fronteiras [14/12/06].