Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Nadja Sampaio e Ramona Ordoñez

‘Surpreendido pela nova campanha da Brahma estrelada por seu ex-garoto-propaganda Zeca Pagodinho, o grupo Schincariol divulgou ontem um comunicado afirmando não ser a primeira vez que foi copiado pela concorrência. O setor jurídico da Schincariol já está estudando a possibilidade de entrar com uma representação no Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) contra a agência de publicidade África, de Nizan Guanaes, responsável pelo novo anúncio da Brahma.

O publicitário Nizan Guanaes não está preocupado com as reações da concorrência nem com a acusação de Eduardo Fischer, responsável pela propaganda da Nova Schin, de que ele violou princípios éticos.

– Ele (Fischer) tem que se acalmar. Deveria tomar uma cerveja, de preferência Brahma, que refresca até pensamento – brincou Nizan.

Sobre a possibilidade de a Schincariol recorrer ao Conar, Nizan foi de novo irônico, dizendo que ‘o futuro a Deus pertence, vamos aguardar’. Fischer preferiu não polemizar, afirmando que a empresa tomará ações planejadas, como a publicação de um anúncio, hoje, nos principais jornais do país:

– Nossas ações serão tomadas com cuidado.

Segundo a assessoria da Schincariol, o contrato da Nova Schin com o cantor está em vigor até setembro deste ano.

O comunicado da Schincariol destaca que a AmBev ‘já usou antes do jornalista esportivo Milton Neves e do ator Antonio Fagundes’, ex-garotos-propaganda de sua marca. Em dezembro de 2003, a AmBev contratou Neves, que foi patrocinado por dez anos pela Schincariol, para promover a Brahma. E no início de março, o ator Antonio Fagundes, garoto-propaganda da Primus, cerveja top do grupo Schincariol, anunciou na televisão a união da AmBev com a belga Interbrew.’



Carlos Franco

‘Brahma ‘rouba’ Zeca Pagodinho da Nova Schin’, O Estado de S. Paulo, 14/03/04

Quando Zeca Pagodinho apareceu na campanha de lançamento da Nova Schin, do Grupo Schincariol, surpreendeu muita gente. Bebedor assíduo da cerveja Brahma, muitos perguntavam o que ele estava fazendo ali. O objetivo do publicitário Eduardo Fischer, da Fischer America, porém, foi atingido:

mostrar que a Nova Schin, mudou e para melhor, a ponto de conquistar bebedores famosos de outras marcas. Deu resultado. A cerveja que tinha uma participação de 7% do mercado nacional mais que dobrou essa fatia, onde cada ponto porcentual corresponde a vendas de R$ 100 milhões.

Ontem, porém, o Grupo Schincariol, que tem contrato até setembro com o pagodeiro, foi surpreendido com o lançamento da primeira campanha publicitária de Brahma, criada por Nizan Guanaes, da Africa. Quem aparece no comercial é ninguém menos que Zeca Pagodinho, cantando música que tem como refrão ‘Fui provar outro sabor, eu sei/Mas não largo meu amor, voltei’.

Letra do próprio Guanaes em parceria com Paulo César Bernardes intitulada ‘Amor de verão’, aquele que é passageiro.

Diante da campanha, o Grupo Schincariol ameaça entrar com ação no Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) e até processar o pagodeiro com quem tem contrato assinado com validade até setembro. Ontem, porém, preferiu soltar nota mais branda em que diz que essa não é primeira vez que é copiado em suas estratégias de comunicação. ‘O monopólio já se utilizou anteriormente do jornalista esportivo Milton Neves e do ator Antonio Fagundes, ex-garoto propaganda da cerveja Primus’. Neste caso, coube a Fagundes comunicar ao público a fusão da brasileira AmBev com a belga Interbrew.

Procurado, o pagodeiro disse que, por contrato, apenas Nizan Guanaes fala da campanha e do seu acerto com a Brahma. Guanaes tomou para si a responsabilidade qualquer pedido de indenização por rompimento de contrato que Pagodinho venha a sofrer por parte da Schincariol.

O início da nova campanha de Brahma também pôs fim a um mistério. O motivo pelo qual Zeca Pagodinho ao ir ao camarote da Nova Schin, no desfile da escolas de samba cariocas, não tomou cerveja. Ele alegou que estava resfriado, mas, ali, Guanaes já começava a desenhar a sua estratégia, que põe fim às campanhas de verão e dá a partida para a nova estratégia de mercado e comunicação das cervejarias.’



Ronaldo D’Ercole

‘Empresa alfineta cantor e o chama para entrevista’, O Globo, 14/03/04

‘Passados o choque e a surpresa com a aparição de Zeca Pagodinho no novo anúncio da concorrente Brahma, a direção da Schincariol convocou a Fischer América, agência que cuida de sua publicidade, e armou o contra-ataque. Depois de uma reunião que durou toda a manhã de ontem em São Paulo, a cervejaria decidiu sua estratégia e partiu para a briga.

Em comunicado divulgado à imprensa, além de chamar a AmBev de monopólio, a Schincariol convoca os jornalistas para uma entrevista coletiva, marcada para a próxima quarta-feira, em que promete anunciar as medidas que tomará em relação à concorrente. E alfineta seu ex-garoto-propaganda Zeca Pagodinho, convidando-o a participar dessa entrevista.

Schincariol critica união entre rival e belga Interbrew

No anúncio publicado hoje, a Schincariol ironiza a associação entre a AmBev e a belga Interbrew, negócio bilionário anunciado no início deste mês. Sob o título ‘Sugestão da brasileira Nova Schin para a belga Brahma’, a peça publicitária vale-se do slogan de lançamento da Nova Schin (‘Experimenta’) para dar sugestões à concorrente.

O novo round da briga entre Schincariol e Brahma começou com um ataque da AmBev que, na noite de sexta-feira, no intervalo do ‘Jornal Nacional’ da TV Globo, colocou no ar o comercial com Zeca Pagodinho. Na peça publicitária, o cantor, que até então era garoto-propaganda da Nova Schin, declama seu amor pela Brahma.

Por trás da briga, rivalidade entre publicitários famosos

O pagodeiro, que antes clamava os consumidores a experimentar a nova cerveja da Schincariol, agora entoa uma música com o sugestivo nome de ‘Amor de verão’. No refrão, uma ironia com a rápida passagem de Zeca Pagodinho pela Nova Schin: ‘Fui provar outro sabor, eu sei. Mas não largo meu amor, voltei’.

Conforme reportagem publicada no GLOBO ontem, Zeca Pagodinho foi convencido a trocar de rótulo pelo publicitário Nizan Guanaes, das agências MPM, África e DM-9, que passou uma tarde de longas conversas na casa do pagodeiro em Xerém.

A propaganda com o pagodeiro acirrou uma disputa que remonta a outros carnavais. Nizan Guanaes e Eduardo Fischer (presidente da agência Fischer América, que tem a conta da Nova Schin) são dois dos maiores publicitários brasileiros e, também, antigos rivais. Na guerra das cervejas e das propagandas, as cifras são sempre milionárias. O mercado brasileiro tem um consumo de 8,4 bilhões de litros de cerveja por ano, o quarto maior do mundo.’



Folha de S. Paulo

‘Sem Zeca Pagodinho, Schincariol afirma que Brahma é belga’, Folha de S. Paulo, 15/03/04

‘Atônito com a nova campanha de seu principal concorrente, o grupo Schincariol iniciou o contra-ataque. Depois de perder seu garoto-propaganda Zeca Pagodinho para a Brahma em um dos maiores lances de marketing recentes, a Schincariol decidiu atacar a concorrente, ao apelar para uma linha nacionalista.

Em publicidade veiculada ontem na grande imprensa, a Schincariol se apresenta como ‘brasileira’, em contraposição à ‘belga’ Brahma. A publicidade faz referência ao negócio fechado entre a AmBev (dona da marca Brahma) e a cervejaria belga Interbrew.

Aproveitando o slogan utilizado nas campanhas de lançamento da Nova Schin, a publicidade ataca a Brahma: ‘Experimenta investir 100% de seu lucro no país de origem’ e ‘Experimenta construir novas fábricas no Brasil, que gerem empregos para brasileiros, desenvolvimento para cidades brasileiras e produzam cerveja brasileira’.

Segundo sua assessoria, o grupo Schincariol pode entrar com uma representação no Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária) contra a agência de publicidade Africa, de Nizan Guanaes, responsável pela nova campanha da Brahma. Zeca Pagodinho também poderá ser acionado por quebra de contrato que ainda estaria em vigor até setembro. Ele teria sido convencido pelo próprio Nizan Guanaes a estrelar a campanha da Brahma.

O publicitário Nizan Guanaes disse que não vai responder por enquanto às acusações da agência Fischer América, responsável pela campanha da Nova Schin, e festejou a polêmica.

‘A reação da população é a melhor possível. Eu esperava essa repercussão. A cerveja é polêmica. A cerveja é gregária. É em torno da qual você se reúne com os amigos para discutir sobre futebol e política. É evidente que não íamos fazer um movimento desse e supor que não haveria controvérsia’, disse.

Guanaes não quis revelar nem o valor do contrato com o cantor nem o valor da multa que Zeca supostamente terá que pagar por quebra de contrato. Disse que vai esperar para ver se a concorrente vai mesmo recorrer ao Conar.

‘Acho que eles devem tomar uma Brahma, que refresca até pensamento, mas nós vamos esperar a reação. Não posso prever o futuro.’ Para Nizan, a guerra de propaganda entre as cervejas terá ‘mais capítulos que a novela ‘Celebridade’. Contou que teve a idéia da campanha a partir de informações que saíram nos jornais.

‘É um caso peculiar. Não fui eu que inventei que o Zeca bebe Brahma, eu li na Folha. A partir disso, vi o desconforto do artista e o procurei.’

Procurado, Zeca Pagodinho não quis dar entrevista. Segundo sua assessoria, ele ficou irritado com o assédio dos jornalistas.

A Schincariol promete apresentar nesta quarta novidades e decisões sobre os próximos passos que dará em relação à disputa.

Queda-de-braço

A pendenga que envolve as duas cervejarias teve início na sexta-feira, quando um novo comercial da Brahma foi apresentado na TV com o cantor Zeca Pagodinho como principal estrela. Zeca era uma das estrelas da campanha de lançamento da Nova Schin, segundo a qual o contrato do cantor ainda estava em vigor quando decidiu protagonizar a propaganda da concorrente Brahma.

No comercial, Zeca canta uma música cujo refrão ironiza sua passagem pela Nova Schin: ‘Fui provar outro sabor, eu sei. Mas não largo meu amor, voltei’.

Após a divulgação da propaganda criada para a concorrente, o grupo Schincariol fez reunião de emergência na manhã de sábado com a agência Fischer-América para iniciar o contra-ataque.

O anúncio veiculado ontem, que leva o título ‘Sugestões da brasileira Nova Schin para a belga Brahma’, acusa a Brahma de ser reincidente ao utilizar seus garotos-propaganda e suas idéias. ‘Talvez seja a primeira vez na história do país que uma empresa estrangeira copia a estratégia de uma empresa 100% nacional’, diz a publicidade.’




José Alan Dias


"Caso Zeca Pagodinho chega ao Conar", Folha de S. Paulo, 16/03/04


"A disputa entre as cervejarias AmBev e Schincariol pelo mercado brasileiro registrou um novo capítulo ontem. A Schincariol, fabricante da cerveja Nova Schin, por meio de sua agência, a Fischer América, ingressou com uma representação no Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária) para que seja suspensa a veiculação do comercial da concorrente Brahma protagonizado pelo cantor Zeca Pagodinho.


No requerimento, a Schincariol alega que a AmBev promove propaganda comparativa que tem ‘por objetivo denegrir a Nova Schin’. A companhia sustenta ainda que o cantor mantém contrato com a Schincariol até setembro deste ano.


‘Vamos esperar um posicionamento do Conar. Ouvir e apresentar nossos argumentos’, disse Nizan Guanaes, dono da agência Africa, responsável pela campanha da Brahma, que começou a ser veiculada na semana passada.


‘O país inteiro sabe que Zeca Pagodinho não se sentia confortável com o fato de estar lá’, completou Nizan.


A querela começou na sexta, quando o mercado foi surpreendido pelo comercial da Brahma, protagonizado por Zeca Pagodinho. O cantor havia sido a estrela do lançamento da Nova Schin -que permitiu à Schincariol saltar de uma participação de 11,5% do mercado em setembro para o pico de 15,2% em dezembro passado. Segundo dados da Nielsen, a participação da Schin em janeiro deste ano era de 14,1% do mercado. As três marcas da AmBev (Skol, Brahma e Antarctica) detinham 64,3%.


No refrão da música cantada no filme da Brahma, Zeca ironiza sua a passagem pela Nova Schin: ‘Fui provar outro sabor, eu sei. Mas não largo meu amor, voltei’.


É nesse trecho que a Schincariol se apóia para afirmar que o comercial da concorrente tenta macular a imagem de seu produto.


Nacionalidade


De sua parte, a AmBev ameaça interpelar na Justiça comum a Schincariol pelo anúncio publicado na imprensa anteontem em que apresenta a Nova Schin como ‘brasileira’ em contrapartida à ‘belga’ Brahma. A Schincariol alude a uma suposta desnacionalização da AmBev após o acordo com a cervejaria belga Interbrew."



Danuza Leão


"Sujou, Zeca, e sujou feio", Folha de S. Paulo, 16/03/04


"Eu adorava Zeca Pagodinho; mas, com esse episódio da cerveja, ele caiu no meu conceito legal.


Zeca foi o malandro que inventou o Jaqueirão, um terreno ao lado de sua casa em Xerém (RJ), à sombra de uma grande jaqueira, onde recebia os amigos no meio de porcos, cabritos, patos e galinhas, comendo umas lingüicinhas e uns torresmos, tomando umas cachaças e umas cervejas (juram que Brahma); foi ele o cara que trouxe de volta a alegria à música carioca, que cantou ‘deixa a vida me levar’ e fez todo mundo querer ser levado pela vida, igualzinho a ele.


Aí, surgiu a chance de descolar uma grana com a nova Schincariol. No comercial, ninguém foi mais convincente do que ele; depois do ‘Experimenta’, ‘Experimenta’, ele tomava um gole, olhava para o copo como quem acaba de ter uma grata surpresa e levantava o polegar para demonstrar que havia experimentado e gostado -palavra de malandro. Zeca botou a grana no bolso e fim de papo.


Fim de papo, não: algum tempo depois surgiu a chance de descolar mais uma grana, desconsiderando a Schincariol, como se esta tivesse sido um romance de verão, e voltando para seu verdadeiro amor, a Brahma -isso por um caminhão de reais.


Zeca reeditou um dos piores momentos da publicidade brasileira -lembra o inesquecível anúncio feito pelo jogador Gerson, que queria levar vantagem em tudo?- e topou. Apareceu na televisão com uma cara de sem-vergonhice explícita (para não dizer deboche), esquecendo-se de que é -era- um ídolo popular, com obrigações de conduta e comportamento, que não pode ajudar a piorar as coisas que acontecem no país: que de nada valem os contratos, nem a palavra dada nem o que foi combinado. Nem ao menos o símbolo do que é mais sério na malandragem: levantar o polegar, o que significa ‘eu garanto’. Do mundo do pagode ao Planalto Central, não está dando para confiar em mais ninguém.


Dizem os do lado de lá que ele jamais gostou da Schincariol, que sempre tomou Brahma. Ah, é? Então por que aceitou o convite para ser garoto-propaganda da ‘Experimenta’, recebendo dinheiro pelo aval da sua reputação de bom bebedor de cerveja?


O time da Brahma está louco por um processo para que essa história renda bastante. Ninguém afirma quem pagaria as custas, como também ninguém diz quanto Zeca Pagodinho levou em cada contrato. Mas negar num segundo comercial o que foi exaltado no primeiro -e sempre por dinheiro- é coisa de gente metida a fina e sofisticada, mas que um malandro bacana e de boa cepa jamais faria. Sujou, Zeca, e sujou feio."