Começo a desconfiar que não se pode falar mal do governador de Minas Gerais sem sofrer retaliações ou respostas intrigantes e instigantes. A mordaça imposta pelo governo intimida e ameaça os profissionais de comunicação que exercerem de forma precisa, clara e honesta sua profissão e o muro de represália já ultrapassa o limite das redações e angaria novos e temerosos futuros jornalistas que, sem resistência, emergem na clausura do Estado.
O sentimento de revolta torna-se agora protagonista da inafiançável rede de proteção que domestica e repercute o tratamento da imprensa ao governador mais ‘aclamado’ da história das Minas Gerais.
O contraditório foi banido sem constrangimento pelos donos dos órgãos de mídia, que mediam e reorganizam os interesses governamentais, como fator de maior importância para a divulgação de qualquer informação.
A censura programada em Minas já toma posto de regime autoritário que silencia a voz dos que protestam, através de palavras. Como já explicitava Viviane Forrester, ao citar Marlamé em seu livro Horror Econômico, as palavras podem ser como metralhadoras e, para que não sejam, sempre haverá um representante do regime para defender o nobre representante do povo mineiro.
Dizeres inexistentes
Em palestra ministrada pelo jornalista Ricardo Noblat em Belo Horizonte, na Academia Mineira de Letras, bastou o jornalista se pronunciar sobre o tratamento da imprensa mineira ao governo, sem ao menos dizer explicitamente o horror e a vergonha que são, e lá estava o fiel súdito do rei Aécio, Hugo Teixeira, para a defesa acalorada e totalmente inconveniente.
Isso! Presenciado por mais de seis Faculdades de Jornalismo, o nobre superintendente de imprensa do governo mineiro, apontou Noblat como pronunciador de dizeres inexistentes. Estaria ele desprezando o senso crítico dos futuros jornalistas, que lêem todos os dias as notas dos jornais mineiros aclamando as benfeitoras e as glórias préstimas do governador? Lastimável!
‘Escancarar a mente’
Como Noblat relatou no início de sua explanação, na palestra sobre ‘o que é ser jornalista’, a principal diferença ente os comunicadores de sua época e a futura geração de jornalistas é que eles tinham muito mais coisas com as quais se indignar. Discordo. Temos milhares destas coisas capazes de serem geradoras de indignação; a diferença é que nos indignamos menos.
Ao final, Noblat se dispôs a fazer um debate sobre o tratamento da imprensa de Minas ao governo, e pediu que as faculdades presentes se candidatassem a receber a discussão. Não houve nenhuma candidatura.
É como disse Noblat em seu livro O que é ser jornalista: ‘Para fazer bom jornalismo, você tem que deixar preferências e preconceitos políticos de lado, escancarar sua mente e estar disposto a ir em busca de informações com quem quer que elas estejam.’
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Estudante de Jornalismo, Belo Horizonte, MG