Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Ninguém escreve sobre o coronel

Depois de vários dias de superexposição à mídia, o comandante do Batalhão de Choque da PM de São Paulo, coronel Felix de Oliveira, desaparece das páginas dos jornais e dos noticiários do rádio e da TV. Na terça-feira (21/10), a imprensa informa que a ordem de invadir o apartamento onde duas adolescentes foram mantidas sob cativeiro durante cem horas foi dada por um tenente do Grupo de Ações Táticas Especiais.


A ação desastrada, repetida inúmeras vezes pela televisão, mostra um grupo de policiais completamente atrapalhado com a porta bloqueada e com uma escada colocada junto a uma das janelas.


No dia seguinte ao do funeral da jovem morta, os jornais seguem analisando a desastrada atuação da polícia, que havia sido acompanhada minuto a minuto durante todo o tempo, e a tendência das opiniões é de considerar que tudo foi mal feito e que faltou coordenação no ataque ao apartamento.


Mas parece que as ações atabalhoadas da PM ainda não acabaram: na edição de terça (21), o Estado de S.Paulo informa que dois policiais militares foram ao hospital onde está internada a outra adolescente para tentar ouvir seu depoimento, mas foram impedidos pelos médicos.


Dois casos


Mas os jornais também começam a discutir a ação da mídia durante o episódio. A Folha de S.Paulo entrevistou um especialista que afirma ter sido um erro grave transmitir ao vivo, pela TV e pelo rádio, entrevistas do criminoso. Segundo essa análise, a mídia exacerbou a psicopatia que estava em jogo.


Mas a lista das inconveniências não tem hora para acabar: segundo o médico Luiz Augusto Pereira, coordenador da Central Estadual de Transplantes de São Paulo, também entrevistado pela Folha, é antiético divulgar os nomes dos destinatários de órgãos da jovem assassinada. As relações entre a família do doador e o beneficiário do transplante são imprevisíveis, e há casos de chantagens, conflitos e até morte, disse o entrevistado.


Assim, enquanto o coronel Félix de Oliveira desaparece das telas da TV e das páginas dos jornais, o rescaldo da tragédia vai revelando a sucessão de erros. Ninguém pode afirmar que uma coisa tenha a ver com a outra, mas na terça-feira (21) os jornais noticiam mais dois casos de jovens que foram assassinadas por ex-namorados.


Até que ponto o tratamento espetaculoso de casos como esses estimula novos atos de violência?