Na festa de ontem à noite [domingo, 29/10], as camisetas do presidente Lula e de alguns dos seus ministros diziam que a reeleição foi uma vitória do Brasil. A intenção era lançar as bases da reconciliação nacional. Infelizmente ficou na intenção. No seu primeiro pronunciamento, o presidente reeleito não conseguiu desativar o clima de palanque e declarou que o ‘povo foi incitado a ter dúvidas sobre o governo, mas o povo sabia o que era verdade e o que não era verdade’. Ora, o povo foi incitado por quem? Dúvidas sobre o quê? Que verdade?
A não ser que o próprio presidente faça algum gesto para desmentir esta impressão, tudo indica que ele não conseguiu esquecer a cantilena a respeito da mídia. Sem a mesma veemência das últimas semanas, é verdade – mas com o mesmo espírito.
A festa transformou-se numa entrevista coletiva improvisada. E em matéria de mídia – foco central deste Observatório – o saldo não foi auspicioso. Foram escolhidos apenas quatro jornalistas para fazer perguntas, não tiveram direito a réplica e, o pior, o presidente foi na direção contrária da gratidão à mídia manifestada no debate da Rede Record, há exatamente uma semana.
Politização fora de lugar
O comportamento de mídia nas eleições de 2002 foi bastante razoável. E por quê? Porque a mídia sabia que estava sendo observada e quem se sente observado, em geral, toma mais cuidado. Agora, em 2006, a coisa mudou. Quem ultrapassou o sinal foram os observadores da mídia. Ou melhor, alguns observadores de mídia que insistem em politizar algo que não pode nem deve ser politizado sob pena comprometer a sua própria função.
IstoÉ poupada
É preciso lembrar que, em alguns momentos nesta campanha, a discussão sobre o desempenho da mídia chegou a sobrepor-se à discussão sobre as privatizações ou mesmo sobre a questão do gás boliviano. Mas, curiosamente, os mesmos críticos da imprensa não se lembraram de examinar o único desempenho 100% vergonhoso do episódio Vedoin – o papel da revista IstoÉ, pivô e razão de ser de todo o escândalo.
Olhar para o futuro
A mídia não errou? Claro que a mídia errou, mas não como instituição. Assim como não se pode dizer que o Partido dos Trabalhadores armou o Dossiê Vedoin, mas, sim, alguns seus militantes ‘aloprados’, da mesma forma não se pode lançar suspeitas sobre uma instituição que será essencial para o desarmamento dos espíritos.
Ressaca eleitoral
O Estado de S.Paulo foi o mais ‘alckimista’ da imprensa nacional. Foi alckmista mesmo antes da escolha de Alckmin: foi peça-chave na oposição à candidatura de José Serra pelo PSDB. O jornalão deve ter acordado nesta manhã com dupla ressaca.
Sarney derrotado
Antes que se comece a dizer que a mídia gaúcha foi a responsável pela vitória de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, é preciso lembrar que Roseana Sarney foi derrotada apesar do férreo controle que a sua família exerce sobre a mídia no Maranhão. Comparativamente, o poder dos Sarney é ainda mais forte, já que se exerce tanto no plano político como no plano da mídia. É bom não esquecer que o leitor lê, o eleitor vota.
Para não esquecer
Os debates pela TV, as entrevistas às rádios e as sabatinas nos jornais ofereceram ao eleitorado mais subsídios do que os horários da propaganda comandados pelo TSE. Nunca houve tal participação da mídia. Este é um dado que não pode ser esquecido quando se discute o desempenho da mídia nestas eleições de 2006.