Já não há dúvidas de que as novas tecnologias deverão alterar regras, e o próprio espetáculo futebolístico, inclusive com relação à arbitragem. Tudo indica que estas novas tecnologias poderão influir na própria organização da cobertura jornalística.
Quem deu uma pista nesta direção foi o ex-jogador e agora comentarista da Globo Paulo Roberto Falcão, um dos astros da seleção de 1982, aquela que não trouxe a Copa mas encheu de orgulho o coração dos brasileiros.
Em entrevista à Folha de S.Paulo na quinta-feira (1/7) à tarde, a propósito das duras críticas do ex-jogador holandês Johan Cruyff às atuações da seleção do técnico Dunga, Falcão concordou basicamente mas acrescentou uma explicação que interessa muito ao jornalismo esportivo: ele não foi à África do Sul e preferiu acompanhar os jogos na central montada pela Globo no Brasil, porque através da TV poderia observar e avaliar muito melhor o desenrolar das partidas, sem o cansativo e desgastante atropelo de viagens.
Modelo obsoleto
Pode-se inferir, portanto, que, assim como os juízes erram grosseiramente a poucos metros dos jogadores, comentaristas situados a milhares de quilômetros dos gramados – mas dispondo de dezenas de câmeras de TV de várias emissoras mundiais, moderníssimos programas de computador e poderosas bases de dados – terão à sua disposição mais e melhores imagens para analisar as partidas.
Longe do pelotão dos jornalistas reunidos na tribuna da imprensa, poderão blindar-se das opiniões e emoções dos colegas sentados ao lado.
Nos estádios, os jornalistas são obrigados a falar do jogo mas também do frio, das vuvuzelas, dos torcedores e do clima das ruas, circunstâncias paralelas que poderiam ser cobertas por repórteres não-esportivos.
Sem querer, Falcão introduziu uma reflexão que poderá reanimar as coberturas desportivas e o obsoleto modelo de negócios do circo da Copa. Estar perto dos acontecimentos não significa necessariamente ter a melhor visão da realidade.