Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Números que valem

A credibilidade está nos números. Mais que slogan de matemático, é uma idéia de respeito em diversas áreas, desde o jornalismo até o discurso de governistas – e oposicionistas, especialmente. Diante do volume de informações provenientes (às vezes, inconvenientes) de diferentes mídias e meios, os algarismos servem de orientação. Chega de boiar em meio a palavras e expressões desconexas! Vamos remar entre percentuais, índices e cifras! O fato é que as estatísticas, que vêm para esclarecer, caem na mesma prática imprecisa da informação. São tantos os números divulgados que não sabemos em quais deles podemos nos segurar.

O IBGE anunciou recentemente que o desemprego teve forte queda no Brasil, de 12,2% em maio.

– Veja, o país está crescendo.

Ao mesmo tempo, a renda teria caído pelo 15º mês consecutivo.

– É o fim. Estamos nos matando por migalhas.

No bolso

Esse exemplo leva em conta uma única pesquisa. Imagine se comparado aos IPCs, IGPMs e PQPs da vida. Só em 2004 já tivemos certeza de que o PIB cresceu como nunca e encolheu como sempre, e que a ampliação da indústria já foi digna do padrão chinês e, mais tarde, do sudanês. Cada vírgula é valorizada como se fosse uma comprovação tácita e indiscutível do que for que queiram provar. Não há, portanto, consenso sobre a ‘numerização’, a não ser o dos meios de comunicação, de que o público adora números, mesmo que na maioria das vezes não os entendam. Os únicos algarismos que fazem sucesso entre o povo parecem ser os da Mega Sena, mesmo que apenas um ou outro, lá de vez em quando, possa sorrir com aqueles zeros.

Quando, em Brasília, discutia-se o aumento do salário mínimo para 260 ou 275 reais, os números voltaram a comandar o espetáculo. Deputados comentavam publicamente a quantidade de votos necessária para que governo ou oposição vencessem uma batalha que o brasileiro até agora não sabe se foi por ele ou de olho nos números eleitorais dos partidos, no segundo semestre.

Se na TV, no rádio ou no jornal fica difícil compreender o que significam, e se são verdadeiros ou não os emaranhados de algarismos apresentados, além das casas lotéricas há outro lugar em que o valor dos números é compreendido: no bolso. Se 260 ou 275, a real valia não difere muito, mas é, ao menos, assimilada. Triste e infelizmente. Nesse caso, pesquisadores, jornalistas e políticos não precisam tentar explicar. Tem assunto em que nem os números mais exatos são capazes de convencer.