Não é fácil prever o resultado das mudanças que acontecem no mundo da comunicação. O formato impresso vai acabar? Blogs e sites de autores desconhecidos formarão opinião tanto quanto os veículos da grande imprensa? Haverá espaço para o jornalismo investigativo na internet ou apenas para a notícia rápida? Se qualquer notícia pode tomar dimensões incontroláveis, a empresa precisará ter mais cuidado com sua imagem? São muitos os questionamentos e poderíamos fazer um artigo apenas com as perguntas frequentes que hoje são levantadas. Em lugar disso, gostaria de discutir algumas afirmações que já se tornaram senso comum e trazer uma pequena contribuição para a compreensão do comportamento das novas mídias sociais.
A afirmação mais comum – que eu já ouvi em diversos encontros de comunicação e de diferentes profissionais – é a de que a quantidade de informação produzida sobre empresas, produtos, personalidades e assuntos é incontrolável e impossível de ser administrada. Argumenta-se que a cada fração de segundo, em algum lugar do ciberespaço, brota um dado, um fato, uma opinião… E que tal qual um movimento caótico, em que o bater de asas de uma borboleta nos Estados Unidos pode tornar-se um ciclone no México; também um simples boato pode levar a uma queda acentuada da Bolsa de Valores, por exemplo.
Não é bem assim. Existe muita informação replicada e pouca opinião. Mesmo os blogs, que se propõem a ser opinativos, não são. Jornalistas consagrados costumam republicar em seus blogs o que soltaram na coluna do dia, com poucas alterações ou acréscimos (Lauro Jardim, Noblat…). Os jornais e revistas online repercutem o texto que sai nas agências de notícias e elas não são muitas: Leia, Reuters, Estado, Brasil e algumas outras. Também é comum, no dia seguinte, saírem online as matérias que foram destaque nos jornais e revistas. Desse modo, não é difícil construir uma lista dos assuntos que compõem a pauta do dia.
Conhecimento e domínio da língua escrita
E os blogs e sites de pessoas desconhecidas que hoje formam opinião e direcionam consumo? Existem muitos blogs, mas poucos possuem um número de seguidores fiéis e representativos. Aqueles que conseguem se destacar no anonimato da web logo são levados para integrar sites populares. Os blogueiros que realmente atuam como formadores de opinião são raros.
As mídias sociais também não são eficientes em formar opinião. Houve muita expectativa de que as novas mídias abririam espaço para qualquer cidadão comum e desconhecido expressar sua opinião e repercuti-la por redes sociais. No entanto, esta expectativa começa a ruir. No Facebook, por exemplo, reúnem-se amigos de trabalho, colegas de faculdade, familiares… Para um público de conhecidos, é comprometedor expor nossas opiniões, mesmo porque em 400 caracteres fala-se muito pouco, menos ainda no Twitter com seus 140 toques. Geralmente, as pessoas utilizam esses espaços de maneira fútil e narcisista (contar que está em viagem, divulgar suas fotos, mostrar o novo namorado ou fazer piadas rápidas) ou então para espalhar boatos. Deu muito trabalho para a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde controlar nas redes sociais a onda de boataria que acompanhou a gripe H1N1 e depois as especulações sobre os efeitos da vacina.
O fato é que nas redes sociais é quase impossível acontecer uma discussão séria sobre política, economia, sociologia ou mesmo expressar sentimentos e emoções. Se o anonimato é fundamental para que as pessoas se sintam livres para dizer o que pensam, e o Facebook paga o preço por isso, dele decorre outro problema. No anonimato, não é preciso cuidar com o que e a forma do que se diz, os boatos se propagam com maior facilidade e rapidez. Então, parte-se para uma troca de xingamentos e opiniões mal fundamentadas que também impedem qualquer discussão mais séria. Para se ter um exemplo claro do que digo basta entrar em qualquer fórum de discussão no Orkut.
Assim, podemos afirmar que a opinião continua sendo um bem escasso mesmo na sociedade informacional. No mesmo ritmo em que ocorre a popularização da informação, cresce a necessidade de filtros, moldes, dessa informação, ou seja, intérpretes que condensem todo conteúdo disponível numa lógica racional e inteligível. Esse trabalho intelectual exige certo nível de conhecimento e domínio da língua escrita que é um bem escasso e caro.
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Assessora do Banco do Brasil, doutora em Sociologia pela UnB