Os jornais de quinta-feira (22/1) tentam interpretar as primeiras medidas e declarações do novo presidente dos Estados Unidos. Certamente, nunca antes na História um programa de governo em um país despertou tanto interesse no resto do mundo. E o que se lê nas edições de quinta sobre a estratégia de mudanças pretendida por Barack Obama indica que a comunicação será um elemento fundamental em seu governo.
‘Transparência e o império da lei’, foi o que anunciou – e esse é o trecho mais destacado pela imprensa.
A primeira decisão de Barack Obama foi a suspensão dos julgamentos militares por 120 dias e o anúncio de que a prisão de Guantánamo será fechada no prazo máximo de um ano. Símbolo dos atos ilegais do governo Bush, Guantánamo se celebrizou pelas cenas de abusos que circularam o mundo na internet. Passaram larga temporada por lá, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, dezenas de suspeitos que não contaram com as mais básicas condições de defesa. Sua existência representa o que foi a Justiça na era Bush.
A segunda medida de impacto tomada pelo novo presidente americano – a Ordem Executiva sobre Ética – estabelece limites para a ação de lobistas, que fizeram a festa durante o governo Bush, e cria um sistema aberto de informações entre o governo e a população. Trata essencialmente de transparência.
Bom exemplo
Obama foi eleito graças ao uso inteligente dos novos meios de comunicação, envolvendo as redes sociais na internet a partir da ação organizada de cerca de 400 mil voluntários, que logo se multiplicaram e transformaram sua candidatura, de uma mera curiosidade, na mais avassaladora e empolgante campanha de que se tem notícia na democracia americana.
Para não deixar dúvida quanto ao propósito de continuar utilizando essa rede aberta de informações, o novo presidente assinou a nova ordem executiva diante de representantes dos funcionários públicos.
Um bom exemplo para alguns países, onde decisões fundamentais para o funcionamento do governo são tomadas em sessões quase clandestinas do Congresso, madrugada adentro.
Um bom exemplo também para a imprensa de certos países, que costuma de beneficiar dos vazamentos de informação e dossiês para compor o que antes era chamado de jornalismo investigativo.
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Os juros da concórdia
A decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central de baixar a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, foi bem recebida pela imprensa. Manchete na maioria dos grandes jornais de quinta-feira (22) e na imprensa especializada em economia, a decisão parece marcar uma nova tendência na política monetária, segundo dizem os analistas citados.
O índice do corte surpreendeu os especialistas, que esperavam um movimento ainda conservador do Copom. Era tido como certo o corte dos juros, mas a aposta mais corrente era de uma redução de no máximo 0,75 ponto percentual.
A medida é apresentada pela imprensa como uma mudança nos padrões do Banco Central, finalmente convencido de que não há perigo à vista de aumento da inflação. Pelo contrário: por conta da crise ou do medo da crise, o cenário é de esfriamento da atividade econômica e as preocupações com aumentos de preços se dissiparam.
Os jornais ainda não apostam numa mudança de tendência, mas observam que os principais bancos também baixaram as taxas de juros reais que vinham praticando, e pode-se esperar para os próximos dias algum sinal de competição entre eles por clientes dispostos a buscar financiamento.
Efeito psicológico
Ao surpreender o mercado com uma redução significativa, segundo os jornais, o Banco Central pode estar buscando um alinhamento com a política econômica oficial. Responsável pela estabilidade monetária e pelo equilíbrio no valor da moeda nacional, o BC vinha destoando da declarada estratégia desenvolvimentista do governo com um tratamento extremamente cauteloso quanto aos juros.
A mudança foi entendida pelos bancos como um sinal de que a política econômica e a política monetária começam a convergir para um ponto comum, apontado pela gravidade da crise. Conforme já se arriscam a profetizar alguns analistas, é possível que a economia comece a reagir já a partir de março.
No patamar estratosférico em que andam os juros no Brasil, 1% pode não representar grande coisa. Mas o efeito psicológico do corte já faz a imprensa, pela primeira vez em muitos meses, a elaborar algumas frases menos pessimistas.