Para a polícia de São Paulo, não restam dúvidas: Isabella Nardoni, de cinco anos, foi assassinada, numa ação conjunta que envolveu o seu pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá.
Chega ao fim, pelo menos em sua fase de investigações, um drama que, durante quase três semanas, chocou o país e transformou a morte de uma menina frágil e doce numa espécie de circo de horrores, cenário que envolveu policiais dispostos a tudo por um brilhareco, promotores públicos ávidos pelos holofotes e a indispensável colaboração de uma grande parcela da mídia que busca a audiência a qualquer preço.
A investigação aponta (embora ainda haja contestação por parte dos advogados de defesa e negativas veementes por parte dos dois acusados) que Anna Carolina teria agredido Isabella a ponto de deixá-la desacordada e que Alexandre, imaginando que a filha já estava morta, resolveu simular um assalto, fazendo um buraco na grade de proteção da janela e jogando a menina do 6º andar do prédio em que morava.
Anna, num surto de raiva, teria agredido a menina sem intenção de matá-la e Alexandre, para proteger a mulher, se tornou cúmplice (ou assassino, a depender do laudo que confirmará se Isabella foi morta durante a agressão ou por causa da queda) de um crime bárbaro e injustificável, que merece punição rigorosa.
Acidental ou não, a morte de Isabella Nardoni é mais um exemplo da brutalidade animalesca que vitima crianças inocentes e indefesas.
Sociedade big brother
Confirmada a culpa, Anna Carolina e Alexandre devem ser condenados e pagar pelo crime que cometeram. Condenados, na verdade, eles já estão desde o dia do crime, quando eram considerados apenas suspeitos. O circo armado pela imprensa em torno do caso Isabella revelou um tipo de sensacionalismo barato, digno dos pasquins de quinta categoria, desses para quem ética, isenção, imparcialidade e respeito não passam de abstrações. Ou aberrações.
Em momento algum foi concedido o benefício da dúvida a Alexandre e a Anna Carolina. Mesmo após a concessão de um habeas corpus, eles continuaram prisioneiros dos microfones, das câmeras e das máquinas fotográficas, numa marcação cerrada que se estendeu aos amigos e familiares.
O caso foi/está sendo explorado à exaustão pelos jornais e emissoras de rádio e televisão. De programas popularescos e apelativos a telejornais tidos como respeitáveis, ninguém ficou imune ao picadeiro.
Não é de todo absurdo imaginar que há uma torcida velada para que o resultado final das investigações seja prorrogado ao máximo. Afinal, vende-se jornal como nunca e a audiência vai às alturas cada vez que a imagem de Isabella e o infortúnio do pai e da madrasta, o sofrimento da mãe, a tristeza dos coleguinhas de escola e a indignação das pessoas comuns são mostradas continuadamente.
Quando mais a tragédia render, melhor. Para os abutres, obviamente.
Nestes tristes tempos de sociedade big brother, a vida virou um espetáculo.
E, infelizmente, a morte também.
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Professor, Itabuna, BA