Esta eleição para a presidência da Câmara do Deputados deve entrar para a história, qualquer que seja o vencedor. Para começar: nunca houve uma situação como a de agora, com dois candidatos da base aliada do governo aparentemente engalfinhados e um tertius da oposição muito bem situado.
O debate televisivo entre os três candidatos travado na segunda-feira (29/1) também foi inédito porque os colocou diante da sociedade que representam e os submeteu a uma espécie de eleição simulada. Agora, os 513 deputados terão que pensar duas vezes antes de fazer uma escolha que poderá desagradar o eleitor, que desta vez não está alheio.
Quando falamos no Legislativo estamos tratando da democracia representativa. A TV Câmara, que transmitiu o confronto, é uma emissora com vocação pública, mas com sinal distribuído na rede de TV por assinatura. O acesso não é universal, pois uma ínfima parte da audiência televisiva do país tem condições de pagar para sintonizá-la. E para restringir ainda mais o acesso do público, a Mesa Diretora da Câmara optou por realizá-lo… às 11 horas da manhã. Neste horário e nesta época, ninguém está ligado à TV, a não ser as crianças ainda em férias.
A Mesa Diretora, que obedece ao comando de um dos candidatos, Aldo Rebelo, se estivesse efetivamente interessada em dar mais exposição ao debate poderia ter sugerido às televisões da rede aberta que o retransmitissem naquela ou em outra hora. As emissoras não se recusariam porque são concessões públicas e precisam agradar aos concessionários.
Coisa fingida
A mídia também carrega parte da culpa pois nenhum dos três grandes jornais nacionais, em suas edições de segunda-feira, chamou a atenção dos leitores-eleitores para debate histórico que se realizaria naquela manhã. Rádios e telejornais apresentaram flashes do debate, a mídia eletrônica comercial não repetiu a proeza de maio e junho de 2005 quando levou as CPIs até à cidadania.
Isso não significa que a grande imprensa esteja desinteressada da disputa pela presidência da Câmara. Ao contrário, a cobertura tem sido intensa, porém voltada para a contenda em si. E, obviamente, baseada em declarações dos contendores. Pelos jornais, parece que Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia tornaram-se inimigos mortais. Não é bem assim. Suas diferenças são estritamente pessoais e envolvem problemas de terceiros.
A mídia não compreendeu que a sociedade precisa acompanhar esta disputa além da cobertura das páginas políticas, geralmente freqüentadas pelos iniciados. Desperdiçou preciosa oportunidade de reforçar a noção de democracia representativa ao preferir a confortável posição de intermediária exclusiva de um confronto político. Mais correto seria permitir que o debate chegasse integralmente à sociedade e fosse, em seguida, analisado pela mídia.
Restou a impressão de coisa fingida: dois dos candidatos fingiram que estavam disputando uma eleição renhida, a Mesa Diretora fingiu que estava interessada em levar a disputa à sociedade e a mídia, novamente, fingiu que está a serviço do interesse público.
[Atualizado às 15h25 de 30/1]