Como se previa a queda de braço da grande imprensa com a Petrobras não ficou muito tempo em cartaz. Os ânimos aparentemente já estão serenados: a Petrobras fez o imperioso recuo (ver aqui), os que espernearam contra o seu blog reconheceram que exageravam. Portanto, agora é a hora para dizer algumas coisas que talvez possam ser ouvidas.
Ponto Um: a Petrobras cometeu uma infração deontológica ao ignorar a noção de exclusividade: o jornalista que chega primeiro à fonte não pode ser prejudicado; se não há respeito à precedência, não há concorrência nem diversidade. A estatal queria impor uma homogeneidade do tipo chinês. Como se sabe, a China está no outro lado do mundo.
Ponto Dois: o tal jornalismo ‘investigativo’ que se pretende preservar não depende de informações oficiais, impressas; é obtido em fontes informais, em off ou através de cruzamentos obtidos em bases de dados de terceiros.
Ponto Três: o debate sobre mídia deve ser contínuo e sistemático; quando é espasmódico como agora, além de suspeito, confunde o leitor. A sociedade pode defender a mídia desde que a mídia acostume a sociedade a discuti-la com naturalidade, sem escamoteações.
Ponto Quatro: a Petrobras já cometeu pecadilhos maiores e a mídia fez que não viu, não estrilou. Não lhe interessava.
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[Comentário para a coluna ‘Mídia na Semana’, do Observatório da Imprensa na TV exibido em 9/6/2009]
Discutir a imprensa é bom para a imprensa e bom para a sociedade, mas é preciso que esta exposição seja sistemática, contínua e não espasmódica. A reação da grande imprensa ao novo blog da Petrobras é exagerada. A estatal errou, errou sim, ao decidir que publicará as perguntas dos repórteres antes que suas matérias sejam publicadas. Mas a Petrobras tem todo o direito de publicar as informações completas depois da divulgação pelos veículos para que o leitor compare as duas versões. Esta tempestade é artificial.