Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O delírio da cobertura



O caso da morte da menina Isabella Nardoni já deixou de ser um espetáculo mórbido, uma novela de apelativo mau gosto, para se tornar uma superprodução do gênero. Aqueles que ainda esperavam um sinal de racionalidade no trato público da tragédia achavam que já tinham visto de tudo.


Pois tem mais: a polícia teve que pedir ao ministério da Aeronáutica que fechasse o espaço aéreo na região norte da cidade de São Paulo para evitar riscos com o congestionamento de helicópteros das emissoras de televisão e de rádio que pretendem cobrir ao vivo a reconstituição do crime, marcada para domingo (27/4).


Não tem limites o delírio da mídia no caso Isabella. Agora nossos paparazzi inventaram uma versão aérea de sensacionalismo: pretendem filmar de helicóptero a reconstituição do crime no próximo domingo. A polícia pediu à Aeronáutica para interditar o espaço aéreo. A Aeronáutica recusou: o pedido da polícia civil não se enquadra em nenhuma das diferentes situações que justificariam a interdição.


A Aeronáutica tem razão, mas a polícia também tem razão: se as quatro redes de TV colocarem helicópteros em torno do edifício, além da perturbação que isso causará naquela parte da cidade, podemos ter o caos nas alturas ou mesmo uma colisão aérea.


O caso Isabella deixou de ser uma tragédia, também deixou de ser jornalismo, sequer é circo. Reduziu-se a uma brutal exibição de morbidez como há muito tempo não víamos. Retrato da nossa mídia e retrato das necessidades daqueles que consomem nossa mídia. É um horror.