A imprensa brasileira, ou aquela facção dominante que nos últimos anos assumiu um protagonismo central nas disputas políticas, tem dificuldades para lidar com a inflação de egos que ameaça implodir a oposição partidária.
São muitos os sinais, desde 2006, de rancores acumulados entre próceres oposicionistas nas frustradas tentativas de derrubar do governo federal a aliança liderada pelo Partido dos Trabalhadores.
Os principais jornais esconderam a crise enquanto ela fermentava e agora parecem desnorteados diante do fato consumado.
A criação, pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab, de mais um partido híbrido com vocação para a adesão é apenas o elemento mais ruidoso dessa enorme confusão.
Por trás das defecções mais ou menos importantes no principal partido oposicionista se desenrola um drama ainda mais interessante, que a imprensa, com raras exceções, ainda não relatou devidamente.
Trata-se do esvaziamento formal de um projeto de social-democracia nos moldes europeus, conforme foi sonhado pelo sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Cardoso, cuja carreira política foi lançada pelo falecido senador Orestes Quércia, que tinha como principal operador no antigo MDB o advogado Antônio Roque Citadini, vê desmoronar o sonho de um grande partido capaz de conduzir o Brasil à modernidade.
Tijolos em queda
O Brasil avança, mas parte das bandeiras da social-democracia mudou de mãos e o intelectual que migrou para a política tem a lamentar grandes perdas nos dois capítulos de sua biografia.
O PSDB se esvazia na quantidade e demonstra que não tem quadros de qualidade capazes de reverter o processo de desmanche.
Alguns analistas investem em tentativas de explicar o fenômeno.
Nenhum deles ainda se arriscou a investigar, como causa, o fato de que o PSDB abandonou seu ideário assim que chegou ao poder.
Aqui e ali apenas pontuam citações.
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e Gilberto Kassab, eleito sob as asas dos tucanos para a prefeitura da capital, são a antítese da liderança sonhada por Fernando Henrique.
Quem testemunhou o brilho da corte tucana em Brasília, nos oito anos entre 1994 e 2002, sabe o que é decadência.
A imprensa está ocupada em contar os tijolos que caem, mas não explica a demolição.
O Brasil perde com a falta de um debate ideológico mais qualificado e não se fala no papel da imprensa em todo esse imbroglio.