LIBERDADE DE EXPRESSÃO
ANJ critica suspensão de jornal no Amapá
‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou ontem nota em que condena a suspensão de edição eletrônica da Folha do Amapá, decidida pela Justiça. ‘Trata-se de caso evidente de censura à imprensa’, afirma a nota. A alegação do juiz-auxiliar Anselmo da Silva, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá, é de que haveria ‘propaganda eleitoral antecipada negativa’ em reportagem sobre o governador Waldez Góes. Para a ANJ, trata-se de uma definição jurídica ‘esdrúxula’.’
CAOS EM SP
Pânico – SPCC
‘‘Explodiram o aeroporto de Congonhas!’, um amigo me informou na tarde de segunda-feira. No mesmo instante, leio no UOL: ‘O saguão do aeroporto de Congonhas, na zona sul, foi evacuado e parcialmente fechado por conta de uma suspeita. O esquadrão antibombas da polícia não encontrou nada.’
Olho pela janela. Tarde ensolarada, fria. O congestionamento, acima do normal. Vejo a Cantareira, o Pico do Jaraguá, a Cidade Universitária. A mesma vista de sempre. Os aviões seguiam a rota. Congonhas não explodiu.
Recebo o spam: ‘Isso é urgente! Por favor, esteja em sua casa às 18 h!!! Às 18 h vai ter uma ação de violência na cidade, a diretoria de uma grande empresa recebeu uma carta da polícia às 10 h de hoje avisando a respeito disso… Todos os funcionários vão ser dispensados a partir das 16 h, que não era pra ninguém ficar nas ruas, os órgãos públicos tão repassando essa carta às empresas ligadas ao governo, como no caso da diretora da empresa que recebi esta informação. Por favor, avise o máximo possível de pessoas que você conhece!!! Atenção, isso não é trote, é sério… Por favor, avisem todos que você conhece!!!’
O texto me hipnotizou. A polícia enviou uma carta às 10 h. O Sedex mais rápido da Terra. Faltou o ‘de’ em ‘que recebi’. Fora a pontuação esquisita, os três pontos sem lógica, o exagerado uso de exclamação. Todo jornalista tem o vício de, diante de um monitor, editar o que estiver na tela. Há um dever cirúrgico de melhorar um texto. No significado bombástico se pensa depois.
O autor acertou ao não colocar crase no ‘a partir de’. Ele é bom de crase. Mas há construções incompletas, como ‘haverá um ataque de violência na cidade’. O ataque de violência simplesmente haverá, acontecerá, existirá? Fora que ‘avisando a respeito disso’ é um fim de pensamento preguiçoso. Vago. ‘Avisando do ataque violento à cidade’ seria melhor.
‘Os órgãos públicos tão repassando essa carta…’ Lá vem ela de novo, a carta. Imaginei diretores de estatais, empresas púbicas e mistas xerocando a carta da polícia e mandando, depois de ofícios, cópias para colegas de outras empresas por motoboy ou fax, empresas ligadas ao governo.
Claro, era um ‘hoax’, um boato alarmante virtual. O café 24 horas da esquina, que não fecha nem no feriado, abaixou as portas. Na rua, palavras como guerra civil, toque de recolher. O diretor do Deic, Godofredo Bittencourt, foi à TV: ‘Em São Paulo, não há toque de recolher. O que existe é toque de polícia na rua.’ Nada adiantou. Amigos me aconselharam a ficar em casa. Quando vi William Bonner ao vivo, em São Paulo, ‘para prestar solidariedade ao povo paulistano’, e antes do poeminha piegas da repórter Neide Duarte, falando em meu nome (‘estamos, sentimos, queremos’), desliguei a TV num ato de indignação e decidi: ‘Eu é que vou fazer uma ação de violência à cidade e dar um rolê.’
Frio de 14º. Uma blitz no meio da Paulista. Deserta! Diminuí a velocidade e ainda disse ‘boa-noite’ ao PM que apontava uma calibre 12 para o céu.
Peguei a namorada. Lojas fechadas. Cinemas fechados. O América, Almanara, McDonald’s, Bob’s, bancas de jornal, Galeto’s, até estacionamentos fechados. Nego, isso era às 20h30! Botequins da Vila Madalena? Fechados. Todos! Do Filial à Mercearia. Ruas dos Jardins, Centro e Pinheiros, desertas. Restaurantes tradicionais como Rodeio, Spot, Mestiço, Arábia, fechados, até os japas da Consolação.
Três boates de strip-tease da Rua Augusta estavam abertas. Mas aparentemente desertas. Meninas esperavam fregueses sentadas nas calçadas. Tinham caprichado no visual. Nos olhavam e riam, como se também demonstrassem indignação: ‘Viu? Ninguém aparece, não é ridículo?’
Ridículo, eu repetia dirigindo pela cidade vazia. Ridículo, ridículo. Fiquei envergonhado. Ver a minha cidade trancada, tremendo de medo. Esconder-se de quem? Ninguém quis encarar o PCC.
Achamos um único restaurante aberto, o Gero, da família Fasano. Quer saber? Vamos torrar hoje, brindar à guerra civil. O mundo acabará, e ninguém pagará o meu cartão.
Dentro, um clima amistoso, 20% das mesas ocupadas. Numa delas, Boni jantava com um amigo. Inspirado em Marçal Aquino, um bisbilhoteiro assumido, passei a escutar a conversa alheia. Falavam de praias desertas. Paradoxo. O inventor da TV brasileira, relaxado, enquanto o País, tenso, a assistia.
Pedimos de tudo, couvert, entrada, um Pinot chileno, massa, sobremesa, café. Não tenho medo. Nem de gastar, nos minutos que antecedem o armagedon. Me senti um milionário numa peça de Ibsen. Me senti um Rothschild, comendo caviar no deque do Titanic. Ao pedir a conta, me perguntaram se deixei o carro com o manobrista. ‘Não, deixei na rua, pro PCC tomar conta’, respondi.
A noite estava linda. Resolvemos comemorar o temor coletivo e passear a pé de mãos dadas no meio da rua. No coração dos Jardins. Me senti no meu livro Blecaute (em que São Paulo fica deserta).
Todo mundo pirou. E não confiamos no próprio Estado. Ou você deixaria o seu carro pro Cláudio Lembo tomar conta? Já as TVs faturaram. Audiência recorde. Nos vemos na próxima rebelião.
Ah, celular na cadeia não é falta grave, segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça. O ministro Gilson Dipp afirma que a Lei de Execuções Penais não inclui a posse de celular entre as faltas graves. Claro que não. A Lei é de 1984. Os celulares chegaram a São Paulo no começo dos anos 90. Em vez de ajudar…’
TELEVISÃO
As contas do crime
‘A relação entre a violência e TV mostrou-se cada vez mais estreita – e por vezes perigosa – esta semana com os ataques em São Paulo. Um dos frutos dessa relação, o Linha Direta, completa sete anos no dia 1º de junho com dois saldos: audiência na faixa dos 23 pontos e a prisão de 361 foragidos denunciados no programa, num total de 278 edições.
Além da prisão de foragidos no Brasil, que a Globo faz questão de atribuir às denúncias dos telespectadores da atração, o Linha Direta também colhe os louros das prisões de procurados pela Justiça brasileira que viviam no exterior, como na Itália, Portugal, Espanha, Paraguai, Bolívia e Venezuela.
Um dos casos que impressionam é o da prisão de Diva Maia, presa no Rio horas depois de ter ido ao ar o programa sobre o seu caso.
A data também será comemorada com a exibição de um Linha Direta Justiça sobre o roubo da Taça Jules Rimet. Será o episódio de número 23 de uma série de casos famosos retratados pelo programa como o assassinato de Angela Diniz, o seqüestro do menino Carlinhos, os crimes de Chico Picadinho e casos dos assassinados durante o regime militar, como Vladimir Herzog.’
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Globo não pode tocar Roberto Carlos
‘Uma decisão da Justiça promete tirar o sono da Globo. Por uma decisão da juíza da 19ª Vara Cível do Rio, Ana Lúcia Soares, a emissora está proibida de executar, sem autorização prévia, qualquer música de um dos associados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Roberto Carlos e Djavan são alguns do músicos que não poderão mais ser tocados na rede. O órgão abriu processo contra a emissora no ano passado e quer receber o equivalente a R$ 10 milhões por mês da rede pela execução de músicas. A rede está recorrendo da decisão.’
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