Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

TECNOLOGIA
Miguel Helft

Novos ricos do Google financiam empresas

‘The New York Times, San Francisco – Chris Sacca tinha um emprego dos sonhos como guru da tecnologia Wi-Fi (de conexão de Internet sem fio) no Google.

No entanto, com suas opções de ações garantidas, ele deixou a companhia de busca na Internet neste mês, para começar uma carreira como investidor de risco.

Sacca, de 32 anos, une-se a um grupo crescente de milionários do Google que esperam multiplicar suas fortunas recém-adquiridas financiando novos empreendimentos na área de tecnologia. Três anos depois de o Google ter aberto o capital, uma rede de veteranos da companhia se espalha pelo Vale do Silício. Alguns ingressam nas firmas de capital de risco que financiaram o boom da tecnologia nos anos 90.

Outros criam fundos de investimento ou apóiam companhias embrionárias com seu próprio dinheiro, como ‘investidores anjos’.

‘Eu tinha um dos melhores empregos do mundo’, afirmou Sacca, que, como diretor de iniciativas especiais do Google, chefiou projetos cruciais, entre eles a criação de uma rede Wi-Fi gratuita na cidade natal da companhia, Mountain View, na Califórnia. ‘Mas há um mundo de oportunidades.’ Assim, depois de quatro anos no Google, decidiu trabalhar por conta própria e criar um fundo de risco. Como muitos profissionais do Vale do Silício, Sacca gosta de trabalhar em companhias pequenas. E o Google, hoje com mais de 16 mil empregados, está longe de ser um novo empreendimento. Em suas novas carreiras, ex-alunos do Google como Sacca recorrem cada vez mais a antigos colegas em busca de dinheiro e idéias.

Eles unem esforços para recrutar investidores, identificar empreendedores e contratar engenheiros e administradores talentosos.

Alguns veteranos do Google esperam transformar seus laços tênues numa poderosa rede no Vale do Silício, onde teias de dinheiro e conexões ajudaram a criar muitas companhias.

‘Para fortalecer a rede, planejamos reunir todos os ?ex-googlers? que estão criando e investindo em companhias’, disse Aydin Senkut, um ex-gerente de vendas que ingressou no Google em 1999, quando a empresa tinha 62 funcionários. Senkut saiu em 2005 para se tornar um investidor anjo.

A união normalmente compensa no Vale do Silício. O PayPal, sistema de pagamentos online, formou vários empreendedores em série que fundaram e financiaram algumas das mais fortes companhias de Web 2.0, entre elas YouTube, LinkedIn e Slide. Vários ex-integrantes do PayPal investem nas companhias uns dos outros. Um co-fundador, Peter Thiel, que hoje administra um fundo hedge de US$ 3 bilhões em San Francisco, é o padrinho do que as pessoas chamam, brincando, de Máfia do PayPal.

Não há garantias, é claro, de que a safra crescente de investidores vindos do Google terá sucesso, individualmente ou em grupo.

‘O desafio para os rapazes do Google é mostrar que valor eles podem agregar além de apresentar pessoas para alguém do Google’, afirmou Paul Kedrosky, da Kauffman Foundation, que fomenta o empreendedorismo. Segundo ele, o núcleo da Máfia do PayPal é formado por fundadores e empregados pioneiros que aprenderam muito ao transformar seu empreendimento inicial numa grande companhia de pagamentos online. O eBay acabou comprando o PayPal por US$ 1,5 bilhão.

Mas existem muitas pessoas no Vale do Silício que apostam na capacidade dos ?ex-googlers?. ‘O Google está no centro do ecosistema de propaganda online’, disse Roger Lee, sócio da Battery Ventures, uma importante empresa de investimentos em empresas emergentes.’

 

LIVROS
Antonio Gonçalves Filho

Turbulências literárias

‘Livros que fazem a defesa intransigente do ateísmo por pensadores contemporâneos, obras sobre temas improváveis – como a história das emoções ou a da feiúra -, biografias e ensaios que analisam o terrorismo moderno marcaram o ano editorial com lançamentos cujas vendas surpreenderam os próprios editores. Como de costume, a literatura estrangeira teve mais espaço que a brasileira nos catálogos das editoras. Não foi um bom ano para a última também por conta do fraco desempenho do mercado editorial na área. São poucos os estreantes. Muitos dos livros de ficção brasileira lançados são títulos assinados por veteranos. As apostas em jovens escritores estrangeiros foram igualmente tímidas em 2007. Dominaram o mercado autores consagrados ou premiados, como J.M. Coetzee ou Ian McEwan, que compareceram, respectivamente, com Homem Lento e Na Praia. Nessa lista cabem ainda John Banville, autor do lírico O Mar, e Martin Amis, que apresentou sua reflexão sobre os gulags de todas as épocas em Casa dos Encontros. Porém, o destaque do ano fica mesmo para o franco-americano Jonathan Littell e As Benevolentes, grande prêmio de romance da Academia Francesa no ano passado e best-seller automático.

O livro de Littell joga por terra as tentativas de matar o romance a golpes críticos como o do italiano Alfonso Berardinelli, autor do recém-lançado Não Incentivem o Romance, um dos muitos que decretaram a morte desse gênero literário que o autor de As Benevolentes mantém vivo – e muito vivo – com sua aguda percepção do que significou (e significa) a tragédia nazista para a humanidade. Littell usa memorialismo como disfarce. São memórias de um oficial nazista (fictício) que conseguiu sobreviver e conta sua história instalado numa cidade do interior da França. O escândalo é que o próspero industrial e ex-oficial de Hitler não se arrepende. O livro incomoda e é uma armadilha mortal para humanistas. Ainda assim, é preciso ler Littell.

O ano foi pródigo também em edições e reedições de grandes autores mortos como o chileno Roberto Bolaño, os italianos Elio Vittorini e Leonardo Sciascia, o uruguaio Juan Carlos Onetti, o polonês Andrzej Szczypiorsky e poetas modernos como Sylvia Plath e Kaváfis. Bolaño, que viveu apenas 50 anos, foi apresentado ao leitor brasileiro com três obras escritas até o ano 2000 – A Pista de Gelo, Noturno do Chile e Os Detetives Selvagens. A literatura de Bolaño esbarra na de Onetti, herdando desse a crítica ao autoritarismo latino-americano e ao falso moralismo. E também o humor.

Vittorini e seu Homens e Não, embora pessimista como As Benevolentes, é o anti-Littell. Militante comunista, lutou contra o fascismo durante a ocupação nazista e conta em seu livro a história de um líder partigiano. Seu patrício Leonardo Sciascia, também nascido na Sicília, foi como ele um escritor politizado, mas, ao contrário de Vittorini, buscou um elemento facilitador no gênero policial para contar, em A Cada um o Seu (Objetiva), a história de um farmacêutico de vilarejo ameaçado de morte por cartas anônimas.

O polonês Andrzej Szczypiorsky, contemporâneo de Vittorini e Sciascia, conheceu como eles a opressão nazista e passou por um campo de concentração. Seu A Bela Senhora Seidenman conta a experiência de judeus no gueto de Varsóvia, elegendo uma viúva que se faz passar pela esposa de um oficial polonês. O memorialismo de Szczypiorsky é um contraposto real à ficção de As Benevolentes de Littell, que parece mais sintonizado com seus contemporâneos ateus, como Michel Onfray (Tratado de Ateologia), Christopher Hitchens (Deus Não É Grande) e Richard Dawkins (Deus, Um Delírio), o trio mais conhecido entre tantos que já decretaram a falência do fundamentalismo religioso e político. No entanto, esse é um tema que continua a render muitos livros.

Entre os vários títulos que trataram do assunto, três se destacam: O Vulto das Torres, de Lawrence Wright, O Bazar Atômico, de William Langewische e Sobre o Islã, de Ali Kamel. O primeiro revela o marco zero do radicalismo islâmico e o nascimento da Al Qaeda. Já Langewische fala da proliferação nuclear em países do Terceiro Mundo. Ali Kamel tenta desfazer alguns equívocos provocados por outros livros sobre o tema, que tendem a confundir muçulmanos com terroristas.

Das biografias lançadas, duas se destacam, Einstein, por Walter Isaacson, que, entre outras coisas, fala do sentimento de culpa do cientista com relação à bomba atômica, e a autobiografia do alemão Günter Grass, Nas Peles da Cebola, em que conta sua passagem pelo nazismo como membro da Juventude Hitlerista. Dos poucos lançamentos brasileiros de ficção, para ficar em apenas cinco dos melhores livros do ano, a lista poderia incluir O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza, O Amor Não Tem Bons Sentimentos, de Raimundo Carrero, Vira e Mexe, Nacionalismo, de Leyla Perrone-Moysés, A Copista de Kafka, de Wilson Bueno e O Sol se Põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho, ficção sobre um escritor que viaja ao Japão e faz menção a um romance inacabado de Tanizaki, autor lembrado com o lançamento de Em Louvor da Sombra. Finalmente, dos livros sobre temas improváveis, História da Feiúra, de Umberto Eco, lidera uma lista de lançamentos na qual figura ainda Uma História das Emoções, de Stuart Walton, curioso compêndio de um autor que se opõe ao relativismo cultural.’

 

Antonio Gonçalves Filho

Reflexões sobre o nazismo ocupam os melhores títulos

‘Livros que fazem a defesa intransigente do ateísmo por pensadores contemporâneos, obras sobre temas improváveis – como a história das emoções ou a da feiúra -, biografias e ensaios que analisam o terrorismo moderno marcaram o ano editorial com lançamentos cujas vendas surpreenderam os próprios editores. Como de costume, a literatura estrangeira teve mais espaço que a brasileira nos catálogos das editoras. Não foi um bom ano para a última também por conta do fraco desempenho do mercado editorial na área. São poucos os estreantes. Muitos dos livros de ficção brasileira lançados são títulos assinados por veteranos. As apostas em jovens escritores estrangeiros foram igualmente tímidas em 2007. Dominaram o mercado autores consagrados ou premiados, como J.M. Coetzee ou Ian McEwan, que compareceram, respectivamente, com Homem Lento e Na Praia. Nessa lista cabem ainda John Banville, autor do lírico O Mar, e Martin Amis, que apresentou sua reflexão sobre os gulags de todas as épocas em Casa dos Encontros. Porém, o destaque do ano fica mesmo para o franco-americano Jonathan Littell e As Benevolentes, grande prêmio de romance da Academia Francesa no ano passado e best-seller automático.

O livro de Littell joga por terra as tentativas de matar o romance a golpes críticos como o do italiano Alfonso Berardinelli, autor do recém-lançado Não Incentivem o Romance, um dos muitos que decretaram a morte desse gênero literário que o autor de As Benevolentes mantém vivo – e muito vivo – com sua aguda percepção do que significou (e significa) a tragédia nazista para a humanidade. Littell usa memorialismo como disfarce. São memórias de um oficial nazista (fictício) que conseguiu sobreviver e conta sua história instalado numa cidade do interior da França. O escândalo é que o próspero industrial e ex-oficial de Hitler não se arrepende. O livro incomoda e é uma armadilha mortal para humanistas. Ainda assim, é preciso ler Littell.

O ano foi pródigo também em edições e reedições de grandes autores mortos como o chileno Roberto Bolaño, os italianos Elio Vittorini e Leonardo Sciascia, o uruguaio Juan Carlos Onetti, o polonês Andrzej Szczypiorsky e poetas modernos como Sylvia Plath e Kaváfis. Bolaño, que viveu apenas 50 anos, foi apresentado ao leitor brasileiro com três obras escritas até o ano 2000 – A Pista de Gelo, Noturno do Chile e Os Detetives Selvagens. A literatura de Bolaño esbarra na de Onetti, herdando desse a crítica ao autoritarismo latino-americano e ao falso moralismo. E também o humor.

Vittorini e seu Homens e Não, embora pessimista como As Benevolentes, é o anti-Littell. Militante comunista, lutou contra o fascismo durante a ocupação nazista e conta em seu livro a história de um líder partigiano. Seu patrício Leonardo Sciascia, também nascido na Sicília, foi como ele um escritor politizado, mas, ao contrário de Vittorini, buscou um elemento facilitador no gênero policial para contar, em A Cada um o Seu (Objetiva), a história de um farmacêutico de vilarejo ameaçado de morte por cartas anônimas.

O polonês Andrzej Szczypiorsky, contemporâneo de Vittorini e Sciascia, conheceu como eles a opressão nazista e passou por um campo de concentração. Seu A Bela Senhora Seidenman conta a experiência de judeus no gueto de Varsóvia, elegendo uma viúva que se faz passar pela esposa de um oficial polonês. O memorialismo de Szczypiorsky é um contraposto real à ficção de As Benevolentes de Littell, que parece mais sintonizado com seus contemporâneos ateus, como Michel Onfray (Tratado de Ateologia), Christopher Hitchens (Deus Não É Grande) e Richard Dawkins (Deus, Um Delírio), o trio mais conhecido entre tantos que já decretaram a falência do fundamentalismo religioso e político. No entanto, esse é um tema que continua a render muitos livros.

Entre os vários títulos que trataram do assunto, três se destacam: O Vulto das Torres, de Lawrence Wright, O Bazar Atômico, de William Langewische e Sobre o Islã, de Ali Kamel. O primeiro revela o marco zero do radicalismo islâmico e o nascimento da Al Qaeda. Já Langewische fala da proliferação nuclear em países do Terceiro Mundo. Ali Kamel tenta desfazer alguns equívocos provocados por outros livros sobre o tema, que tendem a confundir muçulmanos com terroristas.

Das biografias lançadas, duas se destacam, Einstein, por Walter Isaacson, que, entre outras coisas, fala do sentimento de culpa do cientista com relação à bomba atômica, e a autobiografia do alemão Günter Grass, Nas Peles da Cebola, em que conta sua passagem pelo nazismo como membro da Juventude Hitlerista. Dos poucos lançamentos brasileiros de ficção, para ficar em apenas cinco dos melhores livros do ano, a lista poderia incluir O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza, O Amor Não Tem Bons Sentimentos, de Raimundo Carrero, Vira e Mexe, Nacionalismo, de Leyla Perrone-Moysés, A Copista de Kafka, de Wilson Bueno e O Sol se Põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho, ficção sobre um escritor que viaja ao Japão e faz menção a um romance inacabado de Tanizaki, autor lembrado com o lançamento de Em Louvor da Sombra. Finalmente, dos livros sobre temas improváveis, História da Feiúra, de Umberto Eco, lidera uma lista de lançamentos na qual figura ainda Uma História das Emoções, de Stuart Walton, curioso compêndio de um autor que se opõe ao relativismo cultural.’

 

FOTOGRAFIA DE GUERRA
Tonica Chagas

Imagens do front, por Capa e Gerda

‘Por volta de 1933, depois de presos por participar de protestos contra o nazismo e o anti-semitismo, o húngaro André Friedmann e a alemã Gerda Pohorylle emigraram para Paris, onde se conheceram e mudaram seus nomes para Robert Capa (1913- 1954) e Gerda Taro (1910-1937). De lá, unidos pelo amor, por princípios políticos e pela profissão, os dois jovens partiram juntos, em 1936, para cobrir a luta – perdida depois de três anos e 500 mil mortos – dos republicanos espanhóis contra as tropas do general Franco. Na violência do episódio, ele criou fama e o padrão seguido ainda hoje no fotojornalismo da frente de batalha. Ela, que quase sempre é lembrada apenas como namorada dele ou heroína comunista, foi a primeira fotógrafa a morrer no front.

O legado deles, produzido com uma Leica e uma Rolleiflex nas linhas de fogo da primeira metade do século 20, é revisto em Nova York na exposição This Is War! Robert Capa at Work e na primeira retrospectiva do trabalho de Gerda Taro, que o International Center of Photography (ICP) exibe até 6 de janeiro, acompanhadas por mais duas mostras sobre a Guerra Civil Espanhola (leia nesta página). ‘O melhor trabalho de Capa nos deu algumas das mais inesquecíveis imagens dos principais conflitos do século 20’, diz Willis Hartshorn, diretor do ICP. ‘E o trabalho de Gerda não é só marcante dentro da fotografia de guerra daquele período, mas porque exemplifica a mudança de papéis das mulheres da época.’

Em Paris, ainda com seu nome de registro, o fotógrafo já trabalhava para jornais e revistas cobrindo movimentos políticos. Quando Gerda o conheceu, ela passou a gerenciar o trabalho dele e também começou a fotografar. Para vender mais, os dois decidiram trabalhar como se ambos fossem um freelancer americano chamado Robert Capa.

Defensores das causas esquerdistas, eles partiram para Barcelona assim que começou a guerra na Espanha. Fotografavam lado a lado, muitas vezes registrando a mesma cena. As fotos de cada um feitas nesse período são distinguíveis pela diferença na proporção dos negativos, os dela no formato quadrado da Rollei e os dele no retangular da Leica. Fotos e relatos da guerra assinados pelos dois juntos eram publicados por revistas européias de renome como a Vu, francesa, e a suíça Züricher Illustrierte.

Em Cerro Muriano, perto de Córdoba, no dia 5 de setembro de 1936, Capa, com apenas 22 anos, fez uma de suas fotos mais famosas, a de um miliciano caindo ao ser atingido por um tiro fatal. A imagem, símbolo da Espanha republicana, já provocou muitas discussões a respeito de sua veracidade. Em This Is War!, são vistas todas as imagens registradas por Capa naquele dia, entre elas várias do mesmo miliciano antes e depois de ser morto.

O casal regressou a Paris no fim daquele ano, mas voltou à Espanha em fevereiro de 1937. Nessa segunda viagem, ele ficou apenas até o fim do mês. É difícil definir a autoria das fotos feitas pelos dois naquelas semanas porque, além de creditar seus trabalhos como ‘Capa & Taro’, ambos trabalharam com câmeras Leica. Quando ficou sozinha, Gerda começou uma carreira independente na imprensa esquerdista francesa e, a partir de março, suas fotorreportagens na revista Regards e no jornal Ce Soir foram publicadas com o crédito ‘Photo Taro’.

Em meio aos bombardeios, o olhar de Gerda focalizou a feminilidade e coragem de espanholas de salto alto em sessões de treinamento de tiro ou trocando sorrisos com milicianos. Buscando angulações diferentes de câmera, ela registrou a despreocupação inocente de meninos brincando de soldado e a alegria de marinheiros tocando sanfona e gaita de fole num barco de guerra. Um de seus trabalhos mais impressionantes foi fotografar vítimas civis num hospital e necrotério de Valência, depois que a cidade foi bombardeada.

A Guerra Civil Espanhola foi a primeira e última grande cobertura feita por Gerda. Em julho, acompanhou por duas semanas a resistência dos republicanos na defesa de Brunete, próxima a Madri. No dia 25, quando a posição deles caiu, a fotógrafa se viu no meio de uma retirada às pressas e tentou escapar num carro de feridos. O veículo foi atingido por um tanque e ela foi atirada para fora. Morreu no dia seguinte, quatro dias antes de completar 27 anos. Seu corpo foi levado para Paris, onde a homenagearam como mártir antifascista.

Capa morreu em 25 de maio de 1954, ao pisar numa mina quando fotografava manobras dos franceses no delta do Rio Vermelho. Estava perto o suficiente para fazer boas imagens, mas não para continuar a fazê-las.’

 

Em três museus, modernos e contemporâneos

‘No período entre as duas guerras mundiais do século 20, a fotografia virou um símbolo de modernidade e se estabeleceu como forma de arte. Hoje ela tem papel preponderante na produção artística contemporânea. Exemplos dessas etapas são revistos em exposições especiais que três instituições culturais nova-iorquinas exibem neste fim de ano.

No Guggenheim Museum, Foto: Modernity in Central Europe, 1918-1945 explora o uso da fotografia justamente no entre guerras, quando ela se tornou um fenômeno na Alemanha, Checoslováquia, Hungria, Áustria e Polônia. Em cartaz até 13 de janeiro, a mostra traz 170 trabalhos originais e material impresso por meio dos quais se comparam diferenças regionais, temáticas ou técnicas. A recuperação após a 1ª Guerra, a vida moderna, o aprofundamento das diferenças sociais e econômicas, o surrealismo e o retorno da guerra são representados por imagens de mestres reconhecidos como o húngaro László Moholy-Nagy, a dadaísta alemã Hannah Hõch, o vanguardista russo El Lissitzky, e de alguns de seus contemporâneos menos conhecidos, como o polonês Edward Hartwig e o austríaco Herbert Bayer.

O Museum of Modern Art (MoMA), que desde 1985 já exibiu obras de 63 artistas internacionais contemporâneos na mostra anual New Photography, apresenta este ano trabalhos da americana Tanyth Berkeley, do canadense Scott McFarland e da sul-africana Berni Searle. A New Photography 2007 fica em cartaz até 1º de janeiro.

Em retratos quase no tamanho natural, Tanyth, de 38 anos, tem performers de rua, transsexuais, gente estranha e amigos íntimos como tema de preferência para desafiar conceitos de beleza feminina. McFarland, de 32 anos, combina digitalmente vários negativos para criar imagens superdetalhadas e reconsiderar a noção de que uma foto é a representação de um momento parado no tempo. Numa série de fotos feitas no Jardim Botânico de San Marino, na Califórnia, ele contrasta imagens de canteiros de mudas com as de áreas já cultivadas; sombras esquisitas e uma luz muito uniforme em algumas plantas dão pistas da intervenção feita pelo fotógrafo. Já Berni, de 43 anos, produz fotos, vídeos e instalações a partir de suas memórias e experiências pessoais. Em Approach, por exemplo, ela mesma aparece descalça, subindo e descendo sobre montes de cascas de uva para lembrar o processo tradicional de produção de vinho e a cultura vinícola trazida ao seu país por colonizadores holandeses e franceses.

No Metropolitan Museum, a fotografia produzida a partir da década de 1960 acaba de ganhar uma galeria exclusiva para exibir obras de sua coleção em duas exposições por ano. A primeira delas, Depth of Field: Modern Photography at the Metropolitan, poderá ser vista até 23 de março e reúne obras de Dennis Oppenheim, Felix Gonzalez-Torres, Gordon Matta-Clark, Douglas Huebler, de Bernd e Hilla Becher e dos seus estudantes Thomas Struth, Thomas Ruff e Andreas Gursky, de Cindy Sherman e Richard Prince. Depth of Field também pode ser vista no site do Metropolitan (www.metmuseum.org).’

 

CINEMA
Jotabê Medeiros

Lula mantém em 2008 cota de tela igual a 2007

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilberto Gil publicaram ontem no Diário Oficial da União o decreto no qual determinam a cota de tela a ser cumprida no País – a obrigatoriedade de as salas de cinema exibirem filmes nacionais em território brasileiro. A despeito da reivindicação de cineastas de que fosse aumentada em até 15%, ficou mantida a cota de tela de 2007 – mínimo de 28 dias de exibição em salas individuais, 70 dias para quem tem até 2 salas, 126 dias para quem tem 3 salas, 196 dias para 4 salas, 280 para quem tem 5 salas, e assim progressivamente, até o máximo de 644 dias para quem tem mais de 20 salas (com mais 7 dias por sala adicional). A multa para o descumprimento do decreto é de 5% da renda diária da bilheteria.

Na quarta-feira, a Ancine já tinha publicado uma instrução normativa regulamentando o cumprimento e a aferição da exibição obrigatória de filmes nos circuitos nacionais. Entre as novas regras, está a obrigatoriedade de exibição, no primeiro semestre, de no mínimo 30% da cota de tela fixada no decreto do presidente. O exibidor poderá requerer à Ancine a transferência de dias de obrigatoriedade de um determinado complexo para outro (limitado a um terço do total).

O decreto também trata da diversidade de títulos nacionais a serem exibidos por cada sala de cinema ou complexo. Assim, o número mínimo de títulos a serem exibidos é de 2 filmes diferentes, e o máximo é de 11 títulos diferentes (incluindo todas as obras cinematográficas lançadas entre dezembro de 2007 e dezembro de 2008).

Segundo Nilson Rodrigues, diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine), houve de fato ‘uma estagnação da participação do filme brasileiro no mercado’. Segundo Rodrigues, isso se dá principalmente em decorrência do sucesso de poucos títulos. ‘A maior parte dos títulos tem performance de mercado muito fraca, o que dificulta aos distribuidores o cumprimento da cota de tela.’

O desempenho do cinema nacional tem colocado em trincheiras opostas dois dos principais detentores de estatísticas sobre o mercado, o boletim Filme B e o Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do Rio de Janeiro.

Segundo o sindicato, o público em 2007 deve ficar entre 89 milhões e 90 milhões de espectadores (em 2006, alcançou 91,2 milhões), o que representaria uma queda entre 1,5% e 2,5%. Já o boletim Filme B divulgou que, a um mês do fim de 2007, o crescimento do público de filme nacional tinha sido de 9,5%.

Segundo análise de Jorge Peregrino, diretor do sindicato, o público do filme nacional está ‘estagnado’. Ele exemplifica com o crescimento do número de salas de cinema (em 2006, havia 2.220 salas de cinema no País; 2007, 2.355, ou 151 novas salas, um crescimento de 6%). Proporcionalmente, o público diminuiu.

De acordo com o sindicato, foram 9.932.474 espectadores de filmes nacionais em 2006 e o número estimado para 2007 é de cerca de 10 milhões (graças ao sucesso de Tropa de Elite, filme de José Padilha, visto por 2,4 milhões de espectadores).’

 

FANTÁSTICO
Shaonny Takaiama

‘Foi uma tremenda surpresa’

‘Patrícia Poeta garante que foi pega de surpresa com a notícia de que iria substituir Glória Maria no Fantástico. Em entrevista ao Estado, ela afirma que só foi avisada da substituição esta semana. Veja trechos:

Desde quando você sabia que substituiria Glória Maria no Fantástico?

Foi durante uma conversa esta semana com os diretores de Jornalismo e do programa. Tremenda surpresa. Não sabia que a Glória estava pensando em dar uma parada.

As suas participações no Fantástico eram uma forma de se familiarizar com o comando do programa?

Não. Quando voltei de Nova York, vim para o programa para fazer reportagens especiais. Em nosso esquema de plantão, eu e a Renata (Ceribelli) nos revezamos nas folgas da Glória .

Como você se sente entrando no lugar da Glória Maria?

A Glória Maria é uma profissional tão especial, tão única, que torna qualquer comparação impossível. Ela tem uma história muito bonita na televisão e no jornalismo. Cada reportagem que ela faz leva junto essa história de vida. Na apresentação era a mesma coisa.

Você fará reportagens de viagem e comportamento como ela?

Sempre fiz reportagens sobre comportamento e cinema para o Fantástico. O que mais gosto no programa é o espaço para novas idéias e para atuar em diferentes funções. Dou sugestões, levo idéias da rua para o programa e gosto de editar minhas próprias reportagens.

O que você tem a acrescentar ao comando do Fantástico?

O meu desafio será encontrar o meu espaço, contribuir com o Fantástico fazendo as coisas do meu jeito. Participo do programa do início ao fim, da produção à apresentação.’

 

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