Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

POLÍTICA
Fernando Henrique Cardoso

Oportunidade perdida

‘Preparei este artigo antes de viajar para os Estados Unidos, onde participo, hoje, de uma série de discussões na Universidade de Brown, em comemoração dos 40 anos da primeira edição do livro que fiz com Enzo Faletto sobre Dependência e Desenvolvimento na América Latina. É a minha despedida de Brown, depois de haver sido professor at large (título que requereu curta permanência docente anual) durante cinco anos.

Confesso que não gosto de escrever com tanta antecipação. A natural falta de interesse do leitor de jornal por notícias e mesmo por análises não atualizadas requer temas momentâneos. Temas que, ultimamente, têm sido francamente desanimadores para quem acredita que a política não se limita a uma luta mesquinha pela conquista e preservação do poder. Causa-me repulsa a falta de compromisso com a verdade dos fatos, a desonestidade intelectual e, principalmente, o tratamento cínico dispensado a indícios graves de improbidade na administração pública e a benevolência com que são tratados infratores amigos ou aliados. Como ainda agora no episódio dos cartões corporativos. A insensibilidade do presidente e de seu governo é tanta que pouco se lhes dá a opinião pública. Com a popularidade inflada pelos bons ventos da economia, joga-se irresponsavelmente com a idéia de que a preocupação com a moralidade pública e o respeito à lei é coisa de elite branca que tem tempo para ler jornal.

Quanta diferença com o que se vê hoje nos Estados Unidos. Quem não leu deve ler a íntegra do discurso de Barak Obama A more perfect Union. Nele Obama reconecta a luta política aos melhores valores de uma República que foi fundada com bases em ideais, entre eles o da igualdade. Um ideal sempre imperfeitamente realizado, mas que constitui até hoje o móvel das melhores e mais nobres lutas políticas do povo americano. Obama não se apropria do ideal para utilizá-lo como arma eleitoral e dividir o país. Mostra, assim, a grandeza de sua liderança.

Reproduzo um trecho representativo do sentido de seu discurso. Nele reconhece e critica a agressividade do pastor Jeremiah Wright nos sermões sobre raça proferidos na Igreja da Trindade. Repudia, por outro lado, a crítica que apenas sataniza o pastor e explica: ‘O erro profundo dos sermões do reverendo Wright não é que ele tenha falado sobre raça em nossa sociedade. É que falou como se nossa sociedade fosse estática, como se nenhum progresso houvesse existido, como se ela ainda estivesse ligada irreversivelmente a um passado trágico. Isso numa nação que tornou possível para um dos membros da congregação disputar o cargo mais elevado de sua terra e de construir uma coalizão entre brancos e negros, latinos e asiáticos, ricos e pobres, jovens e velhos. Mas o que nós sabemos, o que nós vimos, é que a América pode mudar. Este é o verdadeiro espírito desta nação. O que nós já conseguimos nos dá esperança – a audácia da esperança – para fazer o que nós precisamos e devemos fazer amanhã.’

Que diferença! Seria demais esperar que Lula, que também é símbolo de uma sociedade dinâmica em que as forças da mobilidade social contam mais do que a origem, percebesse que o País, para avançar, precisa realizar o muito imperfeitamente realizado ideal da igualdade perante a lei e que a moralidade pública é condição da igualdade republicana, e não preocupação de privilegiados? Não é isso que se deveria esperar do chefe da Nação? O que se vê, porém, é um presidente que não hesita em reviver a velha cantilena dos ‘dois Brasis’, da elite branca e dos oprimidos, dos maus e dos bons, e não raro justificar as práticas políticas mais atrasadas. Isso num país que o colocou no topo da vida pública e que se caracteriza por ter uma elite composta pelos ‘brancos da terra’, tisnados com orgulho pelos mais variados sangues, do indígena ao europeu, do negro ao asiático.

Exagero da minha parte? Ou a cantilena dos ‘dois Brasis’ não foi o mote do discurso que Lula fez recentemente em Pernambuco? Para afagar Severino Cavalcanti, chamou-o de vítima do preconceito das elites de São Paulo e do Paraná, que teriam urdido uma trama para seu afastamento da vida pública. Teoria conspiratória risível, se dita por uma pessoa comum. Inaceitável, porém, vindo do presidente da República. Será a prévia do que virá pela frente na campanha eleitoral de 2010?

Que perda de oportunidade histórica! Por que não pensar em Mandela, que saiu de 28 anos de cadeia e falou da necessidade de reconciliação entre negros e brancos na terra do apartheid? Sem negar e repudiar, é claro, a injustiça do racismo. E não se diga que os antecedentes de grandeza só vêm do exterior. Basta lembrar de José Bonifácio, que desde o início do século 19 mostrava que o Brasil, como nação, teria de fundamentar-se na diversidade das raças e no reconhecimento de que os valores da democracia e do Iluminismo não se poderiam circunscrever, como pensava Jefferson, a uma elite restrita, formada por brancos e ricos. Ao contrário, afirmava o Patriarca, se déssemos educação aos negros e aos indígenas, portadores de Razão como todo ser humano, eles se tornariam cidadãos.

Por que, ao invés de passar a mão na cabeça de quanto aloprado exista ao seu lado, de ver amigos em quem se deixa corromper e inimigos em quem honestamente dele diverge, nosso presidente, com todas as credenciais que tem de homem que nasceu no meio do povo mais pobre e venceu, não une os brasileiros em torno do ideal fundador de toda grande República?

Por que, ao invés de congregar e definir valores comuns, se perde em picuinhas e se entusiasma tanto em inaugurar pedras fundamentais de obras que não se constroem? Raramente o País teve conjuntura econômica e mesmo social tão favorável para dar um salto grandioso na construção de uma Nação decente. Não obstante, a oportunidade se está perdendo pela falta de visão de quem lidera.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República’

DOSSIÊ
Eugênia Lopes

Crise do dossiê abre guerra de CPIs

‘Enquanto o Palácio do Planalto diz que vai investigar o vazamento do dossiê com informações sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a fragilidade das explicações dadas pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, anteontem, reforçou a tendência de abertura de uma comissão parlamentar de inquérito exclusiva no Senado para investigar o caso. É o que pretendem os parlamentares da oposição.

Na base governista, a orientação é de explorar ao máximo a CPI mista, de deputados e senadores, onde contam com o dobro de votos da oposição, e constranger ex-ministros do governo FHC (1995-2002) em relação a gastos efetuados por suprimento de fundos (despesas diárias urgentes ou extraordinárias, realizadas sem licitação), que inclui pagamentos feitos pelos cartões corporativos.

Na avaliação dos oposicionistas, em uma CPI só do Senado, as chances de obtenção dos gastos da Presidência são maiores. A oposição não quer abandonar a CPI integrada, mas pretende deixá-la morrer aos poucos. ‘Ela vai morrer de inanição porque não quer investigar nada’, resume o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

‘Vamos cumprir o ritual: deixar a CPI mista correr, mas ao mesmo tempo fazer a comissão só do Senado funcionar a pleno vapor’, promete o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

EQUILÍBRIO

No Senado, a correlação de forças entre governo e oposição é mais equilibrada, apesar de a base aliada ter a maioria dos votos. Daí, a expectativa dos senadores com a criação de uma comissão exclusiva.

‘É mais fácil virar o voto de um senador do governo. Os senadores são muito mais preocupados com a opinião pública do que os deputados’, argumenta Agripino.

Autor do requerimento de abertura da CPI mista, contudo, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) considerou ‘inoportuna’ a criação de uma comissão restrita ao Senado. ‘A CPI só do Senado não é um instrumento para ter mais êxito do que uma CPI mista. Não faz diferença perder por 14 votos a 7, como é o caso da CPI mista, e perder de 6 votos a 5, como é em uma comissão só do Senado’, conclui Sampaio.

PENTE-FINO

Enquanto a oposição busca meios de viabilizar uma nova comissão composta só por senadores, a estratégia da base aliada no Congresso é passar um pente-fino, por ordem cronológica, nos documentos que estão chegando à CPI mista com os gastos de cartões corporativos e contas tipo B (em que a despesa é justificada por nota fiscal depois de o servidor receber uma verba).

‘Temos de começar a olhar esses documentos por ordem cronológica, a partir de 1998’, explica o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). ‘Vamos auditar os documentos e, se houver alguma irregularidade, vamos convocar o envolvido. O que for considerado gasto irregular terá de ser devolvido para os cofres públicos.’

Seria o caso, por exemplo, do ex-ministro da Reforma Agrária Raul Jungmann, que, em 51 meses, gastou R$ 15.691,61 em alimentação, na maioria das vezes em restaurantes e supermercados de Brasília. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), a legislação proíbe o uso de recursos de suprimento de fundos para despesas com comida em Brasília. A expectativa é de que ao longo da semana o Ministério do Planejamento envie à CPI documentos para dar munição à base aliada.

Os governistas acreditam que a oposição terá muito mais a perder com a análise dessa papelada. Para eles, as irregularidades em contas do atual governo já foram exploradas e dificilmente aparecerão ‘casos exóticos’, como a compra de uma tapioca de R$ 8,30 com cartão corporativo, feita pelo ministro do Esporte, Orlando Silva.’

 

A batata quente está no colo do senador Álvaro Dias’

‘O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), da tropa de choque do governo na CPI dos Cartões, é taxativo ao cobrar explicações do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) sobre o vazamento de dados do governo Fernando Henrique. ‘A resolução desse assunto, a elucidação desse fato, está na mão do senador’, assevera o petista, frisando que o problema não é manejar, mas divulgar dados secretos. ‘Foi cometido um crime: o vazamento. E a pessoa que tem toda condição de elucidar esse crime é o senador. Ele tentou levar esse assunto para a Casa Civil, mas a batata quente está no colo dele.’ Eis a entrevista:

Com base nas informações de que que o senador Álvaro Dias teve acesso aos gastos da gestão FHC, o sr. acha que ele deveria ser convocado pela CPI para se explicar?

Olha, eu acho que ele deve explicações. Deve todas as explicações. A resolução desse assunto, a elucidação desse fato, está nas mãos do senador Álvaro Dias. Então, estamos aguardando que ele nos ajude a elucidar quem quebrou o sigilo.

Isso passa por uma eventual convocação pela comissão?

Estamos analisando como é que pode ser feito. Não há ainda de nossa parte nenhuma opinião conclusiva. Agora, nós achamos que ele é hoje a principal pessoa a elucidar esse fato.

O senador tucano declarou que não foi o responsável pelo vazamento, que apenas viu o dossiê.

Ele tem de responder, porque todo dia os fatos conduzem a fato do conhecimento dele. Ele tinha amplo conhecimento.

A discussão sobre o vazamento dos dados tomou o Congresso. E a questão da elaboração do dossiê, como fica? A questão de quem reuniu os dados está sendo deixada de lado?

O crime cometido foi o de vazamento. É um banco de dados de documentos sigilosos. Foi cometido um crime: o vazamento. E a pessoa hoje que tem toda condição de elucidar esse crime é o senador Álvaro Dias. Ele tentou levar esse assunto para a Casa Civil, mas a batata quente está no colo dele.

O que esperar das mais de 3 mil caixas de papéis e documentos que o governo promete entregar à CPI?

Uma parte dos papéis já chegou. Tem de ser feita uma auditoria nas contas desses dez anos, de 1998 a 2008. Só uma auditoria pode dizer.

Como pode ser avaliada a participação da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e sua secretária-executiva, Erenice Alves Guerra, na coleta desses dados que vieram à tona?

Ela assumiu desde a primeira hora que havia um banco de dados. E era público. Portanto, ela nunca escondeu que havia um banco de dados, que é o Suprim. Não tinha o que esconder. O problema não é manejar documentos secretos – isso o governo, a Câmara, manejam diariamente. O problema é vazar.’

 

Em qualquer circunstância, Dilma cometeu um crime’

‘O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), acusa o governo de atacar o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para ‘desviar o foco do que interessa, que é a preparação do dossiê para intimidar, ameaçar e calar’. ‘É uma ação imoral, irresponsável, daqueles que não querem assumir seu papel, que é governar e responder a qualquer tipo de denúncia’, afirma. Para Maia, a questão do sigilo dos dados relativos à Presidência está em segundo plano, quando se analisa a participação da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no episódio: ‘Em qualquer circunstância, Dilma cometeu um crime.’ A seguir, a entrevista:

O senador Álvaro Dias está sendo cobrado pelo governo. Como fica a oposição em relação a isso? Ele deve ou não ser convocado pela CPI?

Eu acho que o governo, um governo imoral, corrupto, sem a menor condição ética de governar este país, parte para o ataque em cima de um senador dos mais preparados, dos mais qualificados, tentando desviar o foco do que interessa, que é a preparação do dossiê para intimidar, ameaçar e tentar calar aqueles que têm a função constitucional de fiscalizar os atos do governo e da ministra Dilma, que, se estivesse num governo sério, já teria pedido demissão há mais tempo.

Na sua avaliação, portanto, o governo quer desviar o foco sobre a produção do dossiê?

Claro, o senador não é responsável por nada do que ocorreu dentro do Palácio do Planalto. Essas informações saíram do Palácio do Planalto por decisão de cargos comissionados do governo. Agora, tentar transferir responsabilidade, desviar o foco, é uma ação mais uma vez imoral, irresponsável, daqueles que não querem assumir seu papel, que é governar e responder a qualquer tipo de denúncia ou de questionamento em relação aos atos. Esse governo prefere o ataque em vez da transparência. Nesse caso específico, a ministra Dilma cometeu um crime.

Os papéis relativos aos gastos da Presidência com cartões devem ser mantidos em sigilo ou não?

O questionamento, em nossa representação ao Supremo Tribunal Federal (STF), é sobre isso, a questão do sigilo. Na nossa interpretação, não deveria. Mas, como o governo trata e o próprio TCU acolheu em determinado momento a questão do sigilo dessas informações, já que essa é a visão do próprio governo, pela ótica da própria ministra Dilma ela cometeu esse crime, da quebra do sigilo. Agora, na posição inversa, se as informações não são sigilosas e estão sendo negadas ao Congresso, aí ela cometeu outro crime, de responsabilidade. Então, em qualquer uma das circunstâncias, a ministra Dilma cometeu um crime.

O que esperar das 3 mil caixas de documentos prometidas à CPI?

Pode não se chegar a nada. Agora, se entregar o gasto das Presidências, certamente muitas coisas poderão aparecer. Mas não podemos dizer nada antes que os documentos cheguem. Infelizmente, os documentos que são foco da investigação, esses estão bem escondidos em algum subterrâneo do Palácio do Planalto.’

 

TELES
Irany Tereza e Nilson Brandão Junior

‘A supertele terá de brigar para se destacar’

‘O presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Sérgio Rosa, considera um movimento natural de mercado a incorporação da Brasil Telecom (BrT) pela Oi. Apesar das resistências em comentar um negócio ainda em andamento, ele aceitou falar ao Estado, apenas em tese, sobre o mercado de telefonia. Em defesa do acordo, ele alega que, além da lógica empresarial, a formação de um grupo de telefonia nacional seria capaz de evitar a formação de um duopólio, que considera inevitável no atual quadro, com o domínio dos espanhóis, da Telefónica, e dos mexicanos, do grupo de Carlos Slim, que controla a Embratel e a Claro. Cauteloso, esquivou-se de perguntas sobre os detalhes operacionais e financeiros do acordo. Admitiu, contudo, que a chamada ‘supertele’ não nascerá como campeã natural no setor. Terá de brigar aguerridamente por um lugar de destaque, o que vai exigir um agressivo plano de investimentos. Rosa parece o caso típico de ex-militante de esquerda (começou a militância na clandestina Libelu) que vive agora conectado ao mundo dos negócios. Durante os anos de faculdade de Jornalismo, na USP, participou do movimento estudantil.

Já no BB, virou sindicalista, filiado à CUT. Hoje, comanda o principal investidor institucional do País, o fundo do próprio banco, com patrimônio de R$ 138 bilhões e participação nas maiores empresas brasileiras. Esteve envolvido nos últimos meses nos dois principais negócios recentes do capitalismo brasileiro. Além do processo de criação da supertele, acompanhou os entendimentos para a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata pela Vale, onde ocupa o cargo de presidente do conselho de administração. Veja a seguir, trechos da entrevista:

Por que a negociação Oi-BrT tem demorado tanto?

Depende do que você chama demorar. Os primeiros contatos foram feitos em dezembro. Há cinco anos se falava da possibilidade, mas a lógica da operação tem três meses. Quando fechamos o acordo com o Citi e o Citi destituiu o Opportunity, imediatamente as duas partes comunicaram que estavam em contato com a Italia Telecom para a venda da empresa (Brasil Telecom). Isso foi em 2005. Era a coisa mais lógica do mundo. A Italia Telecom tinha 38% do bloco de controle e dizia para todo mundo que tinha interesse em consolidar suas operações no Brasil. Ficamos muito surpresos quando isso acabou não acontecendo. Inverteu-se a mão e eles se demonstraram mais vendedores do que compradores. Tivemos de negociar a aquisição da parcela da Italia Telecom, que foi concluída em 2007. Aí a gente teve de pensar: e agora, o que faremos com a empresa? Começamos a discutir alternativas quando surgiu essa.

Em algum momento você achou que o negócio Oi-BrT não iria sair?

As coisas não estão finalizadas. Em tese, aqui na Previ, a gente acredita nos fundamentos de certas operações. Quando os fundamentos econômicos são fortes, a gente sabe que isso tem uma força muito grande de resolver as dificuldades. Agora, por outro lado, em negociações complexas, às vezes, você tem 99% das questões acertadas e 1% de questões pendentes derrubam o negócio. A gente acreditava, por um lado, que o negócio fazia sentido. Ou seja, tem um racional econômico por trás dele muito forte. Por outro lado, a gente sabia que tinha muitos obstáculos a vencer. Ainda tem a própria questão regulatória para vencer.

Obstáculo interno é a disputa interna entre sócios?

Disputa interna entre os sócios, interesses de muitas partes diferentes, discussões de preço. Tudo isso é parte relevante em um negócio desse tipo. E ainda temos pela frente a questão regulatória.

O preço foi mesmo a primeira coisa a ser decidida?

Tenho dificuldade de dizer isso porque a transação não está fechada.

É que sempre se pensa que o preço é a última coisa a ser acertada…

Você sabe que não? Normalmente, na maior parte dos negócios, é muito trabalhoso você entrar nas discussões de detalhes. E se você não tiver uma visão, mesmo aproximada, de que o preço converge, dificilmente você entra na negociação dos detalhes. Só se começa a botar exércitos de advogados se há uma noção geral de que os valores entre comprador e vendedor se aproximam.

A sociedade não perde com a junção? A concorrência não diminui?

Eu acho que não. A gente tem um cenário no Brasil, concretamente, onde você tem a disparada muito grande de dois participantes desse mercado (telefonia). Eles, nitidamente, por várias razões, se consolidaram, sobretudo nas áreas de maior dinamismo, que é área de telefonia celular.

Você está falando dos espanhóis (Telefónica) e dos mexicanos (Embratel/Claro)?

É. E essas duas empresas (Oi e BrT), por restrições de capital, por serem empresas uma com problemas societários claros e a outra com mais dificuldade de acessar capital em condições adequadas, ficaram menores. A tendência, nos parece, com o cenário de hoje, e não havendo nenhuma alteração, está muito mais para um duopólio no futuro.

Essas empresas (Oi e BrT) iriam ser compradas, no final das contas?

Na manutenção desse quadro, provavelmente. A área de telefonia fixa é de monopólios regionais, por enquanto. Na verdade, ter hoje uma, duas ou três empresas de telefonia fixa faz pouca diferença. Ninguém concorre na área do outro. Em celular, todo mundo concorre com todo mundo. E há uma tremenda concentração. Dos 120 milhões de celulares hoje no Brasil, a Oi e a BrT têm 20 milhões. Duas das quatro grandes empresas têm um sexto desse mercado.

Então não bastaria as duas empresas se juntarem. Elas têm de ter um plano de investimento muito agressivo, para enfrentar os outros dois.

Tem de ter plano de investimento. Para equilibrar, né? Para equilibrar, talvez, a parada. Mas, enfim, efetivamente, a possível junção das duas cria alguma base para isso.

A Oi e a BrT agüentam as despesas da reestruturação e um plano de investimento? Se elas se juntarem e continuarem menores ainda não correm o risco?

Vai ser uma disputa. Ninguém está dizendo que está criando um campeão natural, não. A possibilidade de as duas estarem juntas cria um bom competidor, não um campeão natural. Até porque esse mercado cada vez mais depende do posicionamento global. Você tem de negociar tecnologia com os grandes fornecedores. Uma empresa com atuação global, internacional, tem muito mais força na negociação do que outra de base muito regional, muito localizada.

Internacionalizar é uma possibilidade?

É uma possibilidade. Mas, por favor, estou falando apenas em tese. Creio que se criam condições para isso. Quer dizer, não posso falar porque, obviamente, isso vai ser um planejamento que a empresa vai fazer. Em tese você cria uma possibilidade. Você aumenta as condições de planejar.

É fácil para a Previ resistir a pressões políticas em decisões negociais?

Primeiro, não ocorre dessa forma. Segundo, é muito fácil resistir porque hoje a gente está praticamente obrigado a resistir. A gente não consegue tramitar nenhuma decisão de investimento que não tenha estudo técnico, fundamentado. No passado, se você olhar a documentação que havia apoiando a decisão de investir em telefonia, vai ver a precariedade, independente de estar certo ou errado o investimento. Era praticamente uma recomendação do diretor para fazer aquela operação. Estudo técnico, estudo de preço, acordo de acionista, era tudo superfrágil. Hoje, para qualquer coisa que a gente vai fazer, a documentação é detalhada tanto por exigência interna, de regimento, quanto por sabermos que, numa fiscalização da Secretaria de Previdência Complementar, eles vão pedir isso. Então, eu não consigo passar adiante nenhuma proposta de investimento que não tenha embasamento.

A documentação a que você teve acesso mostra que a Previ entrou por decisão própria na BrT e foi colocada na Telemar? É isso?

Eu acho que a Previ participou voluntariamente do leilão. Acho que por uma decisão de bom negócio de investimento. Acho que a maneira como participou foi pouco, não foi bem analisada internamente. A maneira como entrou na BrT, por meio do fundo (do Opportunity), regulamento, condições depois de governança, tudo isso estava precariamente analisado. Posteriormente, surgiu a oportunidade de também participar na Telemar. Em função do ágio da Telemar, que era muito baixo, era uma oportunidade de negócios. Mas acho que também atendia a um interesse. Não dá para dizer tranqüilamente que (a Previ) foi empurrada, embora existam evidências não só internas, como sobretudo aqueles vazamentos dos grampos da época, e tal, de que havia, sim, partes interessadas no governo em que os fundos e, particularmente a Previ, aderissem a esse consórcio. Houve análise precária das conseqüências, tanto da estrutura de governança quanto do potencial conflito de interesses que no final acabou acontecendo e dificultando a presença da Previ nesses dois negócios.

E quando a Previ teve de escolher entre BrT e Telemar, por que optou pela BrT, quando o mercado esperava a opção pela Telemar?

Aí foi uma questão tática. A Anatel nos colocou a seguinte questão: tínhamos de suspender nossos direitos políticos, como participação em conselho, em acordo de acionistas e tomada de decisão em uma das duas companhias. Na Telemar, a gente não tinha nenhum histórico de conflito, como tínhamos na BrT. Tínhamos o Banco do Brasil e o BNDES com poderes societários importantes dentro do bloco de controle da Telemar. Não tínhamos tomado nenhum golpe dos sócios privados. Quer dizer, não era uma decisão crítica ficar afastado do conselho da Telemar. Já na BrT, era.’

 

Ethevaldo Siqueira

Tributos sobre celular já chegam a quase 50%

‘Os brasileiros, em geral, não têm idéia do quanto pagam de impostos sobre nenhum produto ou serviço, especialmente em três áreas essenciais: energia elétrica, combustíveis e telecomunicações.

Examinemos apenas o caso da telefonia celular. Nenhum país no mundo tributa em nível tão elevado esses serviços quanto o Brasil. Nós, usuários, pagamos impostos, taxas e fundos no total de 46,4% do valor dos serviços. Em conseqüência, as tarifas brasileiras são caras e o tempo médio de comunicação por usuário do celular no País é um dos menores entre os países emergentes.

E pior: no governo Lula, esse nível de tributação vem crescendo. Em 2003, era de 38,4%. Em 2004, passou a 40,7%. Em 2005, subiu para 44,4%, para chegar a 46,4% em 2006.

A fórmula perversa do cálculo do imposto ‘por dentro’ torna cumulativa a incidência dos tributos e esconde do usuário a verdadeira alíquota cobrada. É um critério imoral e sem transparência.

O Senado faz hoje um dos mais completos diagnósticos do Sistema Tributário Nacional e mostra alguns absurdos da voracidade fiscal que atinge diversos setores da economia brasileira, em especial, o de telecomunicações, como denuncia o relatório da Subcomissão Temporária da Reforma Tributária (Caert), órgão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Essa subcomissão tem como presidente o senador Tasso Jereissati e como relator o senador Francisco Dornelles.

Ninguém duvidaria da afirmativa de que a tributação excessiva leva ao encarecimento dos serviços (quase US$ 0,50 por minuto nos celulares pré-pagos) e força o usuário a falar menos tempo. Compare, leitor, a situação dos países do grupo Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e China. O campeão disparado em tempo de uso do celular é a Índia, com a média de 472 minutos por mês (quase oito horas). Em segundo lugar, vem a China, com 395 minutos (quase sete horas). Em terceiro, a Rússia com 107 minutos (menos de duas horas). Em quarto, o Brasil, com 79 minutos (pouco mais de uma hora).

Esses números constam de um dos mais completos estudos sobre o tema, denominado Matriz Global dos Serviços Wireless (Global Wireless Matrix), elaborado pela Merril Lynch. Na lista de mais de 50 países emergentes, o Brasil é o penúltimo, só ganhando do Marrocos, que tem o tempo médio de 50 minutos por mês.

CONTRADIÇÃO

Para o usuário, a situação do mercado celular brasileiro é contraditória. Do lado das operadoras, o acesso ao telefone celular é fácil e rápido. Quanto à tributação, ao contrário, o País tem a estrutura mais distorcida do mundo, inviabilizando boa parte das vantagens da competição.

Assim, o próprio governo torpedeia os programas de inclusão digital, encarecendo produtos e serviços e castigando da forma mais dura e injusta os usuários mais pobres do celular, integrantes das classes C, D e E, que constituem 80% dos assinantes de celular.

Comparemos a situação do Brasil com a dos países desenvolvidos. O cidadão americano fala em média 834 minutos por mês e paga, em média, US$ 0,05 por minuto. O europeu fala 153 minutos e paga US$ 0,19 por minuto. Ou seja: em relação ao usuário americano, o brasileiro fala apenas um décimo do tempo mensal médio e paga dez vezes mais. Em relação ao europeu, paga o dobro da tarifa média européia por minuto e fala a metade do tempo.

Mesmo diante de todos esses problemas, a telefonia celular se expande em ritmo acelerado no Brasil e nos demais países do grupo Bric. Nesse quarteto, o Brasil, com 67 celulares por 100 habitantes, só tem menor penetração do celular do que a Rússia, que tem 119. A China ocupa o terceiro lugar, com 42, e a Índia, o quarto, com 22.

Uma curiosidade: o Bric é responsável por mais de 50% da demanda mundial de celulares.

FUNDOS ABSURDOS

Um dos tributos mais absurdos na telefonia celular é a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF), conhecida como Fistel. No fim de março, as empresas de celular depositaram R$ 1,6 bilhão na conta do Fistel. E, ao longo do ano, pagarão mais R$ 600 milhões pelos novos usuários que ingressarão no serviço.

O Fistel foi criado basicamente para financiar o orçamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ou seja, para cobrir despesas de fiscalização e regulação do setor. Com a expansão de quase 400% da base instalada de telefones fixos e móveis nos últimos oito anos, o Fistel passou a arrecadar o equivalente a quatro orçamentos da Anatel.

Eis os números: sob a rubrica do Fistel, foram arrecadados, de 2000 até hoje, R$ 8,5 bilhões, enquanto o orçamento da Anatel total nesse período foi de R$ 1,6 bilhão. Os R$ 6,9 bilhões excedentes foram tragados pelo Tesouro Nacional, ou, na linguagem burocrática, ‘contingenciados’, para engordar o superávit primário.

O mesmo acontece com o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust), que acumula mais de R$ 6 bilhões, sem qualquer aplicação. Daqui a dois anos, o Fust completará R$ 10 bilhões de puro confisco.

É por isso que o ministro Franklin Martins já está de olho nesses fundos.’

 

CECÍLIA MEIRELES
Francisco Quinteiro Pires

O destino de Cecília

‘O futuro da obra de Cecília Meireles (1901-1964) depende dos desdobramentos de dois fatos: a preservação do seu acervo e uma decisão judicial do ano passado. Entre 1944 e 1964, ela organizou uma biblioteca particular de cerca de 10 mil volumes no imóvel onde morou com o segundo marido, Heitor Grillo, no Cosme Velho, no Rio. Nesse sobrado, Cecília guardou uma série de textos e documentos que até hoje permanecem inéditos. E que, ao lado dos milhares de obras de outros autores, ficaram ao deus-dará durante 20 anos, em razão de brigas familiares envolvendo direitos autorais. As rixas impediram a maior circulação de seus títulos.

Para entender o porquê é preciso visitar a árvore genealógica da família Meireles. Cecília teve três filhas com o artista plástico português Fernando Correa Dias. Da primogênita para a caçula: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Quando Cecília Meireles morreu em 1964, os direitos autorais sobre suas obras passaram para as filhas, cada qual tendo direito a uma cota de um terço. Segundo o artigo 32 da Lei de Direitos Autorais (9.610/98), a maioria dos co-autores – neste caso, os detentores dos direitos – é que decide em caso de divergência.

Maria Elvira morreu em 1987 e sua parte foi transmitida para o único filho: Ricardo Strang. ‘Minha mãe era a mediadora de Maria Fernanda e Maria Mathilde, que sempre brigaram por terem temperamento opostos’, diz Strang. Foi a partir daquele momento que, diz Strang, Maria Fernanda, ‘que não encontrou mais resistência’, passou a cuidar da casa do Cosme Velho, onde está até hoje o acervo de Cecília Meireles. Segundo Strang e Alexandre Carlos Teixeira, um dos filhos de Maria Mathilde e agente literário da obra de Cecília Meireles, durante 20 anos ninguém além de Maria Fernanda teve acesso ao imóvel e, por tabela, à biblioteca, que sofriam a ação implacável do tempo e do abandono.

Procurada pela reportagem do Estado, Maria Fernanda preferiu não comentar o assunto. Médico reformado da Marinha, Ricardo Strang morou em Belém (PA) entre 1987 e 2000, quando mudou para Londrina (PR), onde vive até hoje. Teixeira não se envolvia muito com ‘a propriedade material’ deixada pela avó, embora ele fosse o agente literário da poeta.

A situação se complicou quando Maria Fernanda, no começo dos anos 2000, rejeitou a administração dos direitos autorais feita pelo sobrinho Alexandre Carlos Teixeira. Dali em diante a Justiça seria palco de ações entre Maria Fernanda, Maria Mathilde e Ricardo Strang até um acórdão do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio chegar à conclusão, em julho do ano passado. A essa decisão não cabe recurso, segundo o consultor da FGV-Rio Pablo de Camargo Cerdeira, consultado pelo Estado.

Essa sentença ratifica o poder de decisão da maioria na celebração de contratos em relação às obras de Cecília Meireles sem a interferência da minoria. Em outras palavras, Maria Fernanda (a minoria, por deter um terço) deve se submeter às decisões da maioria, representada pela Maria Mathilde e Ricardo Strang (juntos, eles detêm os dois terços).

Em agosto do ano passado, dois meses depois do acórdão, Maria Mathilde fez um contrato escrito, ao qual o Estado teve acesso, em que cedia a parte dela para o sobrinho Ricardo Strang. Assim, quando morresse, ela evitaria pulverizar sua cota entre os três filhos. Ela faleceu dois meses depois da transferência. Segundo Strang e Alexandre Carlos Teixeira, ela pretendia com a cessão dar fim às disputas que tornavam o mercado editorial arredio à publicação das obras da autora de Romanceiro da Inconfidência. Dono de dois terços dos direitos intelectuais, Strang é hoje representado pelo primo e advogado Alexandre Carlos Teixeira, que negocia com as editoras.

‘Essa transferência é excelente, porque evita o conflito’, diz Sérgio Branco, professor de Direito na FGV-Rio. Segundo Branco, a Lei de Direitos Autorais tem o objetivo de remunerar o criador para ele continuar produzindo. ‘O problema é que o direito dura demais, 70 anos contados a partir da morte do autor, um prazo excessivamente absurdo’, ele diz. ‘São três gerações que brigam, e a obra deixa de circular, cai no esquecimento, a sociedade não tira o seu proveito’, completa.

No fim do ano passado, Episódio Humano (editoras Batel e Desiderata) chegou às livrarias. Ele reúne crônicas de Cecília Meireles, primeira obra inédita publicada após a decisão do TJ e a cessão de direitos por Maria Mathilde. Maria Fernanda entrou com uma notificação extrajudicial contra a Batel, dirigida por Carlos Barbosa, que foi editor da Nova Fronteira durante 25 anos até sair da empresa no ano passado. Ela alegava não saber qual o conteúdo do contrato de edição de Episódio Humano. Maria Fernanda tem o direito de contestar judicialmente o repasse do que lhe cabe nos contratos, se julgar que a quantia repassada é indevida.

O diretor-superintendente da Nova Fronteira, Mauro Palermo, diz que ‘tudo o que se faz respaldado legalmente é com mais certeza, mais investimentos e até tiragens maiores’. Palermo afirma existir mais ‘conforto’ na negociação dos contratos quando se lida diretamente com uma maioria. A editora tem 32 obras da Cecília em catálogo. ‘Alguns projetos já deixaram de ser feitos por falta de consenso’, ele diz. Segundo Palermo, a editora tem em vista planos relacionados à autora.

Organizador da produção em prosa da escritora, editada pela Nova Fronteira, o professor da UFRJ Leodegário A. de Azevedo Filho diz que a editora carioca tem material para aproximadamente quatro volumes em prosa inéditos. A previsão inicial era de 25 ao todo. Carlos Barbosa confirma que as conferências e os artigos de Cecília não saíram ainda, apesar dos volumes já editados sobre viagem, educação e crônicas em geral.

A oportunidade para reeditar obras fora de catálogo está dada pela decisão do TJ. Já o material inédito, que contém anotações, cadernos de estudo, traduções, cartas e obras de Cecília Meireles, tem o destino ligado à reforma da casa do Cosme Velho e à preservação do acervo, medidas pelas quais Alexandre Carlos Teixeira é o atual responsável.’

 

ZIMBÁBUE
Elias Thomé Saliba

Se os crocodilos falassem…

‘No Zimbábue, país africano antigamente conhecido por Rodésia, os eclipses acontecem como maldição ou castigo: as narrativas tradicionais dizem que o crocodilo, desiludido com o comportamento dos homens na Terra, engole o Sol e deixa o mundo na total escuridão. Essa poderosa lenda – no fundo, uma expressiva metáfora da fúria dos ancestrais mortos com os vivos – serve de inspiração para a preciosa reportagem que Peter Godwin escreveu sobre o Zimbábue entre os anos de 1996 e 2004, quando o país mergulhou numa crise dramática, com o regime instaurado por Robert Mugabe: Quando Um Crocodilo Engole O Sol (tradução de Lourdes Sette). Misturando registros da memória com testemunhos diretos de suas passagens por países africanos, Godwin consegue nos fornecer um retrato detalhado e, ao mesmo tempo, panorâmico sobre a situação real de uma região a respeito da qual, até hoje, só recebíamos informações fragmentadas ou filtradas pela censura.

Mas é reportagem que se lê como um romance, já que Godwin, atuando como jornalista de importantes publicações norte-americanas, articula a narrativa de suas idas e vindas ao país com a própria história familiar. Filho de pais ingleses, Godwin nasceu no Zimbábue e pertence, como ele mesmo diz, àquela ‘pequena tribo de africanos brancos’. Ele permaneceu no país até 1983, quando, após o término da guerra civil, Mugabe assumiu o poder e soltou as tropas da sua ‘5ª Brigada’ (treinada na Coréia do Norte) sobre a população civil de Matabeleland. Foi um massacre em larga escala, denunciado por Godwin em reportagens no Sunday Times. O que lhe valeu inúmeras ameaças de morte, e o título de ‘espião estrangeiro e inimigo do Estado’. Sua irmã, Georgina, que comandava programas de rádio, também foi obrigada a sair do país – embora continuasse a transmitir seus programas de Londres. Mas seus pais, fortemente ligados à população local, nunca saíram do país e sempre tiveram orgulho de suas cidadanias zimbabuenses. Depois de 40 anos trabalhando no hospital de Harare, a mãe de Godwin, a doutora Mary Helen, adquiriu tarimba suficiente para reconhecer as centenas de doentes de aids que entram diariamente nos consultórios abarrotados e carentes de quaisquer recursos.

A narrativa começa e termina com a morte do pai. Entre o início e o fim da história, Godwin faz uma descoberta que balança ainda mais a sua identidade de crônico desenraizado: seu pai é um judeu polonês, que adotou um nome fictício e a cidadania britânica para fugir da hecatombe nazista. A história do pai e de suas peripécias com a nova identidade também se interpola no enredo central, sublinhando ainda mais o tom comovente e sincero da narrativa.

Até hoje, a babosa é uma planta sagrada para os zulus do Zimbábue, porque, entre outras coisas, ela está associada à morte: eles cavam suas sepulturas embaixo delas porque essas plantas suculentas são venenosas para as hienas, que poderiam, de outra forma, desenterrar os corpos e comê-los. Rudyard Kipling já sugeria isso num poema famoso, intitulado As Hienas. Por isso, até hoje no Zimbábue, quando a pessoa expressa o desejo de ter o corpo cremado, ‘por causa das hienas de Kipling’, é a esse terrível fato que ela está se referindo. O pai de Godwin sabia disso quando, ao morrer, expressou o mesmo desejo ao filho. Mas, no Zimbábue as cremações são proibidas, exceto para uma pequena minoria de africanos que praticam o hinduísmo. Para realizar o último desejo do pai, Godwin recorreu, então, ao ‘jeitinho’: conseguiu que ele fosse declarado intempestivamente um ‘hindu honorário’ e seu corpo conduzido a uma pira. É a bela e dramática cena final do livro, que também pode ser lida como símbolo da inutilidade de quaisquer de nossas distinções étnicas e culturais: ele teve um pai que nasceu judeu polonês, tornou-se cristão inglês e, depois, cidadão de Zimbábue – e, ao morrer, ainda acabou sendo cremado como um hindu africano!

Mas são muito breves os momentos de afetividade familiar que atenuam a tragédia da verdadeira história do Zimbábue nas últimas décadas. Uns dizem que a pior coisa que aconteceu à África foi a chegada dos brancos. E que a segunda pior coisa foi a sua partida. O colonialismo durou apenas o suficiente para destruir grande parte das culturas e tradições nativas, mas não o suficiente para forjar qualquer substitutivo duradouro. Depois de tanta tinta gasta e tanta literatura, ainda não sabemos distinguir o que teve mais impacto negativo, se as distorções coloniais impostas ou as grotescas e cruéis lideranças pós-colonialistas que surgiram. E deveríamos ter a honestidade de admitir isso. Godwin demonstra singular empatia e profundo conhecimento da cultura e da tradição, mas as histórias que ele conta mostram como ainda é difícil apelar para a cultura tradicional quando ela sofre abusos de poder por todos os lados: a religião oscila entre aquilo que é profundamente intuitivo e aquilo que é supersticiosamente tolo. Rituais antigos zimbabuenses ensinam uma convivência correta com a dureza do clima, o trato da terra e a alternância das colheitas, mas também sancionam a iníqua exploração das mulheres pelos homens.

A economia regrediu a níveis alarmantes e o índice de mortalidade no país chegou àquele patamar cujo único recurso só pode ser a propalada ‘ajuda humanitária’. Com a aids atingindo quase dois terços da população adulta, o grupo populacional dos ‘adultos produtivos’ não passa dos 33 anos, deixando cidades compostas unicamente por órfãos: há vilas inteiras onde os habitantes mais velhos são crianças de 12 anos, que andam quilômetros para encontrar água, lenha e a comida – cada vez mais escassa nos campos crescentemente ocupados com plantações de babosa!

Godwin reafirma que não quer culpar ninguém, mas, talvez inspirado na experiência médica da mãe, deixa escapar, em certo trecho, que sua narrativa pretende realizar uma espécie de ‘biópsia da culpa’. Deslize compreensível, já que foi sempre muito difícil compor uma reportagem sem fazer derrapar a coerência e – no caso dramático do Zimbábue – sem perder a esperança. Porque o país de Mugabe parece ter se transformado no crudelíssimo cenário de uma distopia sem esperança. E até mesmo na tradição dos ancestrais – nada inverossímil quando comparada à realidade -, se os crocodilos falassem, estariam se perguntando: quanto tempo mais será necessário de tantas e tamanhas brutalidades para superar a situação pós-colonial?

Elias Thomé Saliba é historiador, professor da USP e autor, entre outros, de As Utopias Românticas e Raízes do Riso’

 

REVISTA
O Estado de S. Paulo

O corpo-a-corpo com a realidade aparece na Zé Pereira

‘A revista Zé Pereira tem um princípio démodé nas redações do Brasil: ela faz um corpo-a-corpo com a realidade, porque sabe que, nesse contato, estão os rastros dos fatos. O encontro com eles pode suscitar aspectos curiosos e engraçados. O real ganha sabor, cheiro. Zé Pereira faz questão de não se levar a sério. Ela resgata aquela veia jornalística do deboche, dentro da qual corre mais livremente o sangue bem vermelho da crítica, por vezes coagulado em grandes veículos midiáticos.

Na edição 4 (64 págs., R$ 2, mais informações no www.revistazepereira.com.br), a publicação mensal realiza um passeio com Gerson King Combo, o Rei Black da soul music carioca, pelo Mercadão de Madureira, relatado na seção Aristocracia Carioca. Gerson atuou nas bandas de Wilson Simonal e Erlon Chaves e foi um dos fundadores da Banda Black Rio. Ele é irmão de Getúlio Cortes, autor de Negro Gato, gravada por Roberto Carlos. Nos anos de 1990, afastado do cenário musical, Gerson teve certo reconhecimento: as falas improvisadas sobre a base funk foram vistas como precursoras do rap. Hoje, vinis como Gerson King Combo, de 1977, apesar de lançado em CD, podem ser comprados por até R$ 250. ‘Eu preferia um pouco menos de fama e um pouco mais de dinheiro’, ele confessa.

Para realizar as habituais compras de sábado no mercadão, Gerson Rodrigues Cortes, de 63 anos, duas vezes viúvo e flamenguista, abriu mão do tradicional chapéu com penacho e da capa preta. Ele foi envergando somente um detalhe do traje que o consagrou como Rei Black dos subúrbios cariocas dos anos 1970: um cordão com pingente de dente de tigre.

Portando um galhinho de arruda e óculos escuros, ele fala para a revista sobre assuntos variados: de racismo e causos a histórias do início do rock e da black music. (Em tempo, numa das visitas ao mercadão, Gerson levou a neta. Ao avistar uma imagem religiosa, de 1,80 m, do Exu Tranca-Ruas na entrada da loja Orixás em Festa, ela disse bate-pronto: ‘Vovô!’ (Gerson é católico, freqüentador das missas de domingo). O visual adotado, que fez a netinha confundi-lo com um entidade, foi idéia de César Camargo Mariano, dada no começo dos anos 1970.

No começo da carreira, ele flertou com o rock. E manteve-se afastado do pessoal do samba: os sambistas viam os roqueiros como homossexuais. Hoje ele está reconciliado com o samba, é vizinho da Tia Doca da Portela. O problema é com o funk carioca, que faz a apologia do crime e do sexo explícito. ‘Esse funk é um modismo que não vai vencer. A não ser que queiramos que vire uma Sodoma e Gomorra’, sentencia.

Depois da morte da segunda esposa, Angélica, com quem aprendeu as artes da culinária e dançou em shows feitos pelo radialista Jair Taumaturgo, ele teve apenas namoros eventuais. Diz que nunca sofreu preconceito nas relações; ele conta que antes e hoje continua a ser mais paquerado por mulheres de pele clara. Com 12 composições inéditas no bolso, ele explica que com o tempo suas músicas se tornaram mais românticas, diferente do começo da carreira.

Lá está o clássico Mandamentos Black: ‘Falar como fala um black/ Andar como anda um black/ Usar sempre o cumprimento black.’ Ele acredita que, atualmente, a afirmação do negro não é tão necessária quando comparada com a necessidade de 30 anos atrás. Assim mesmo, ele diz que não era politizado. Quando foi prestar depoimento na década da black music no Departamento de Ordem Pública e Social (Dops), o delegado o interrogava para saber qual era a ideologia professada. ‘Eu disse que era dançar e namorar.’ Tempos depois, essa autoridade virou amiga de Gerson King Combo.’

 

TELEVISÃO
Patrícia Villalba

Um caldeirão sem mágica

‘Não é difícil imaginar Luciano Huck lançando pó de asa de morcego e pirlimpimpins num caldeirão. Mas ele se apressa em dizer que não há mágica na trajetória do cara que já foi considerado o ‘porta-voz dos mauricinhos’ e que, hoje, é um dos apresentadores mais bem-sucedidos da TV, com carisma entre todo tipo de público e trânsito em todas as classes sociais.

Trabalho, trabalho e trabalho – e nada do ‘loucura, loucura, loucura’ que lançou como bordão. Foi isso, mais uma boa dose de paciência, que levaram o Caldeirão do Huck, da Globo, à liderança no sábado à tarde, depois de perder em audiência para o Programa Raul Gil, da Record.

Essa é uma disputa que ficou no passado, assim como o programa Circulando (CNT), onde Huck invadia festas ou o H, da Band, que lançou beldades seminuas ao estrelato. Há nove anos, Huck é global – ‘Estou no lugar certo’, constata. Assim, no lugar certo – os divertidos bastidores de gravação do Caldeirão -, ele recebeu o Estado para esta entrevista.

Você conseguiu se firmar em um horário histórico, que já foi do Chacrinha, mas em uma linha bem diferente. O êxito indica que a audiência mudou?

Hoje, a televisão é diferente. Acho que (a conquista) do sábado à tarde foi um exercício mútuo de paciência e de trabalho com a Globo, e também a sensibilidade de entender o que o público esperava do horário, do Caldeirão e de mim.

E você começou a acertar quando entrou na onda dos reality shows?

Eu não faço reality. A palavra reality é muito ampla, se você parar para pensar. A televisão é reality, tudo é reality. O Caldeirão foi um exercício de paciência e trabalho, muito trabalho.

Sofreu muito quando chegou à Globo e perdia em audiência para o Raul Gil?

Isso aconteceu por muito pouco tempo, só nos dois primeiros anos. E eu acho natural, tinha um processo de acomodação que era necessário. Em televisão, você não pode ser ansioso. Televisão é paciência, calma. Hoje, eu sou da casa, ando por isso aqui e adoro. Adoro o Projac. E gosto de televisão. Estou no lugar certo.

Desde a época em que começou na TV, invadindo festas, já pensava em estar na Globo?

Nunca planejei o que sou hoje. Sou um cara que gosta de comunicação e que está aprendendo a fazer televisão no dia-a-dia. E sempre gostei de trabalhar. É clichê, mas é verdade: o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário. Não tem mágica.

Não vou perguntar qual é o segredo do sucesso, mas você deve saber que tem fama de Midas. Como faz isso sem planejamento?

Lógico que tem planejamento, depende do quê. Eu sempre trabalhei muito e não tenho vergonha disso, gosto de trabalhar. Para mim, é muito difícil separar onde começa o trabalho e termina o lazer, são coisas muito misturadas. Eu venho todos os dias aqui por prazer. A minha turma de trabalho são os meus amigos. A gente senta para fazer reunião de pauta e chora de rir. O programa hoje é muito planejado. Em televisão de alto rendimento, que é o que a gente faz, você tem de planejar.

O Caldeirão faz uma mistura que vai do educativo Soletrando ao deseducativo funk do Créu. Como você dosa isso?

Eu não tenho esse tipo de policiamento, mesmo. Faço um programa que respeita o telespectador, mas não significa que vou botar menos ou mais disso. Vou tocar o que o povo quer ouvir, e não tocar o que o povo não quer ouvir. E a música está mais na trilha. O programa é embalado por música, mas poucos cantores se apresentam nele hoje em dia. O Pancadão do Caldeirão é o terceiro CD mais vendido do País há 3 meses.

Na Bandeirantes, você tinha um programa jovem. Na Globo, você usa o carisma que tem com a juventude, mas não faz um programa apenas para jovens…

Passaram 12 anos. Eu tenho 36, tinha 24. Muda muita coisa, imagine o que aconteceu na sua vida em 12 anos. Na Globo não dá para segmentar sua audiência. Ou você fala para todo mundo ou não vai dar certo, ainda mais num sábado à tarde.

Ele leva ao público jovem, e de classe média, histórias de gente do povo, como o endividado que vai tentar a sorte…

Não tem isso no programa. Eu nunca vou pelo viés da dívida.

Não é isso que estou dizendo. Digo que tem a banda do momento e também o cara que vai cumprir a tarefa para subir na vida.

Tem mesmo. Eu sou um cara que não tem o menor preconceito de nada. Podem até ter preconceito com relação a mim, mas eu não tenho preconceito com relação a nada. Tenho todo tipo de amigo, acho que todo mundo tem uma boa história para contar. E acho que o programa não tem de ter preconceito de nada, qualquer boa história interessa.’

 

Ugly Betty e House inéditos

‘O canal Sony volta a exibir nesta quarta-feira, às 20 horas, episódios inéditos do 1º ano de Ugly Betty. Os fãs, após longa espera – e ansiedade com a mega revelação do último capítulo apresentado no canal -, poderão conferir os dez capítulos que faltam para o fim da temporada.

Nesta semana, a Sony mostra o episódio I’m Coming Out, em que Betty se envolve em um evento que a Mode prepara para a New York Fashion Week. I’m Coming Out tem participações especiais de Katharine McPhee, ex-participante do reality American Idol, Ella Thomas e Tim Gunn, de Project Runway, que ataca de repórter do mundinho da moda.

Já no Universal Channel, a novidade é a exibição de três episódios inéditos de House a partir do dia 17 deste mês, às 23 horas. Esses são os capítulos que já estavam com o Universal Channel.

O canal promete apresentar os outros quatro capítulos da série produzidos no pós-greve dos roteiristas americanos. Esses episódios irão ao ar nos Estados Unidos a partir do dia 28 deste mês e o Universal Channel promete um esquema com equipes trabalhando 24 horas por dia para legendar esses capítulos e colocá-los no ar por aqui no menor tempo possível.

Os três episódios que serão apresentados a partir deste mês no Universal são: Uma Mentira Maravilhosa (no ar dia 17), Congelada (será exibido dia 24) e Não Mude Nunca (irá ao ar no dia 1º de maio).’

 

Ubiratan Brasil

Lost só para alugar, contra a pirataria

‘A greve dos roteiristas nos EUA deixou sérios vestígios, como o atraso nas novas temporadas das séries de TV. Com isso, a maioria não conseguiu cumprir com o projeto inicial, encurtando o número de episódios. Mesmo assim, as séries de maior sucesso estrearam na época prometida e algumas, como Lost, criaram nova artimanha para combater a pirataria. Assim, neste mês, a Walt Disney vai lançar em DVD a quarta temporada apenas para locação, reduzindo o tempo entre a exibição na TV e a chegada em disco. Serão 13 episódios, divididos em seis discos. A cada 15 dias, chegam dois capítulos inéditos para locação. A estratégia entra em ação no dia 23, quando o consumidor já poderá alugar o disco 1, que traz os episódios 1 e 2. Os demais discos têm lançamento nos dias 7 e 21 de maio, 4 e 18 de junho e 2 de julho. Com isso, a distribuidora espera diminuir os prejuízos provocados pelos fãs mais ardorosos, que conseguem baixar pela internet os episódios logo depois de exibidos nos EUA, alguns até com legenda em português. Conhecida em mais de 70 países, a série promete continuar grande: cerca de 16 milhões de pessoas assistiram ao primeiro episódio desta temporada.’

 

Etienne Jacintho

O romance está no ar

‘A Warner estréia nesta quinta-feira, às 21 horas, a série Pushing Daisies, um conto de fadas moderno que esbanja criatividade, originalidade e cores, além de caprichar na trilha sonora. O romance, com uma pitada de investigação criminal, fala do amor entre Ned (Lee Pace) e Chuck (Anna Friel), que se conhecem desde a infância. Ned pode trazer pessoas de volta à vida com um toque. Ao segundo toque, elas morrem de vez. E, claro, Chuck morre e é ressuscitada por Ned. O problema é que eles não podem mais se tocar.

Em Londres, o Estado conversou com o casal mais fofo da TV hoje. Ao saber que a jornalista era brasileira, a dupla festejou. Nos dez minutos de papo concedidos, quatro foram só elogios ao Brasil – ou seja, a entrevista ficou curtinha… ‘Fui para Arraial D’Ajuda (Bahia). É meu lugar favorito’, falou Anna. ‘Os brasileiros são as melhores pessoas do mundo. Os corpos dos homens são ‘uau’! E os homens também podem olhar para as mulheres maravilhosas.’ Já Lee se encantou pelo Rio. ‘Fui para lá há uns dois anos e me diverti muito… Fui para Brasília também, mas nem foi tão bom (risos).’ O ator voltou ao Brasil recentemente. Ficou em São Paulo e virou freqüentador da Vila Madalena. Depois, partiu para a Bahia, a conselho de Anna.

Como vocês definem Pushing Daisies e seus personagens?

Anna – É uma série otimista e alegre. Há tanta miséria neste mundo que era hora da TV mostrar algo bonito, doce, um conto de fadas. Há personagens excêntricos como Ned e Chuck, que estão muito apaixonados. Ned tem o poder de trazer pessoas de volta à vida com um toque e ele traz Chuck de volta, mas nunca mais poderá tocá-la – ao segundo toque, a pessoa morre de vez. E, em flashback, você vê Ned e Chuck novinhos e acompanha o romance até os dias atuais.

Lee – Ned traz Chuck de volta e a vida deles se torna muito complicada (risos).

O que vocês sentiram quando leram pela primeira vez o roteiro, já que a série é muito diferente do que está no ar hoje?

Lee – Gostei, pois é difícil ter a oportunidade de fazer algo novo e diferente na TV e acreditar que o público quer isso. De uma certa forma, todo mundo segue modelos que já funcionaram no passado. A série pode ser considerada uma soap opera ou investigação criminal, mas é criativo, a história de amor é única, as investigações são únicas também. O estúdio e a emissora estão incentivando a gente a seguir nossos instintos. E isso ajuda porque Ned é estranho (risos)!

Vocês não ficaram com medo de a audiência rejeitar ou não entender a série?

Anna – As pessoas querem algo diferente. Six Feet Under, quando estreou, as pessoas falaram ‘nossa que estranho’ e se tornou uma das séries de maior sucesso na TV.

Lee – Se o público quer ver médicos sexies salvando vidas e dormindo uns com outros, há essa opção; e se ele quer ver um programa diferente, ele vê o nosso. E estamos lidando com assuntos profundos, com morte e vida. Ned matou o pai de Chuck e isso é algo complicado. Eles têm de se amar muito para superar.

E o visual da série?

Anna – Mostraram uma idéia de como seria o visual, as cores, a música. Mas fiquei em choque quando vi pela primeira vez. Parecia filme!

Lee – A equipe é muito boa e a qualidade surpreende. É cinematográfico.

VIAGEM FEITA A CONVITE DO WARNER CHANNEL’

 

 

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