Jornais e telejornais, portais e rádios, todos estavam na quarta (31/1) ocupados com a disputa pela presidência da Câmara. É natural: nesta quinta-feira saberemos qual o deputado que ocupará o terceiro posto na hierarquia da República, o sucessor do sucessor do presidente.
Neste ano, a disputa oferece ingredientes inéditos porque de certa forma decide-se o futuro do PT, confrontado ironicamente pelo grupo ideológico da base aliada. Mas até a véspera a mídia não prestou muita atenção a um dado histórico de grande relevância.
A legislatura que se encerra pode ser considerada como a mais vergonhosa da história republicana. O mensalão ou valerioduto, o besteirol e a renúncia de Severino Cavalcanti, os sanguessugas, as manobras da Mesa Diretora para livrar parlamentares dos castigos inevitáveis, a avalanche de concessões de rádio e TV para parlamentares, a indecente tentativa de aumento de 92% nos vencimentos foram os episódios mais chocantes. E, graças a eles, a Casa do Povo, vitrine da sociedade brasileira, transformou-se num show de horrores e indecência. Bandidos chegaram a declarar que se os deputados podiam fazer aquelas bandalheiras, eles não ficariam atrás.
Vigilância requerida
O desafio da nova Câmara dos Deputados é gigantesco. Além das reformas que tornarão viáveis os programas e os sonhos de crescimento, a Câmara precisará converter-se numa fábrica de estímulos positivos – estímulos, sobretudo, de ordem moral.
Ao contrário do que afirmou o ministro Tarso Genro, a mídia não promoveu a ‘destruição cruel’ do Legislativo. O Legislativo suicidou-se e a mídia flagrou este suicídio com grande fidelidade.
Agora, devidamente treinada, nesta nova legislatura tem a obrigação de manter a mesma vigilância.