COPA 2006
Locutor e torcedor
‘Andreas Wenzel, um dos locutores do estádio Olímpico de Berlim no jogo em que a Alemanha eliminou a Argentina nos pênaltis, deve perder o emprego. Ele não se conteve ao anunciar uma substituição e aproveitou para incentivar os torcedores alemães, dizendo que o time da casa precisava de apoio. A Fifa entrou em ação e substituiu Wenzel imediatamente. A atitude do veterano e famoso locutor alemão provocou críticas: ‘Os comentários dele são inaceitáveis’, afirmou Markus Siegler, porta-voz da Fifa.
Shevchenko feliz
O principal jogador da Ucrânia, o atacante Andrei Shevchenko, disse que está orgulhoso da campanha de sua seleção na Copa, derrotada na quartas-de-final pela Itália: ‘Enfrentamos uma excelente equipe, que mereceu ganhar’, afirmou o jogador.
Audiência recorde
O jogo entre Alemanha e Argentina, na sexta-feira, bateu um novo recorde de audiência da TV alemã durante o Mundial. Cerca de 25 milhões de pessoas assistiram ao jogo, superando a marca anterior de 23,8 milhões, da partida entre alemães e poloneses.
Beckenbauer elogia Zidane
O presidente do Comitê Organizador do Mundial, o alemão Franz Beckenbauer, elogiou a atuação dos Bleus. Com a grande partida feita pelo meia Zidane, Beckenbauer brincou, lamentando que o francês queira encerrar a carreira. ‘Me pergunto por que quer parar se é tão bom quanto há quatro anos. Se joga bem assim, deve continuar. Agora, os quatro que estão nas semifinais estão no mesmo nível’.
Maxi cobiçado
Pelo menos três equipes italianas estão de olho no futebol do argentino Maxi Rodriguez. A imprensa do país noticiou que Milan, Internazionale de Milão e Roma já deram sinais de que querem contar com o jogador para a próxima temporada.
Aragonés renova
O técnico Luis Aragonés renovou o contrato à frente da seleção espanhola até a próxima Eurocopa, em 2008, anunciou em entrevista coletiva Jorge Pérez Arias, secretário-geral da Real Federação Espanhola de Futebol, depois de uma reunião com o treinador.’
Júlia Dias Carneiro
Em telinhas ou telões só dá Copa
‘FRANKFURT. É dura a vida de quem quer ignorar a Copa do Mundo em Berlim. Entra-se numa loja de eletrônicos e lá estão os jogos passando em todas as TVs à venda. Vai-se ao cabeleireiro e um cartaz na porta informa que, sim, lá também se pode assistir às partidas, enquanto se corta o cabelo. Senta-se em qualquer restaurante ou bar de esquina e há sempre uma telinha ou um telão mostrando as partidas.
É senso comum entre os berlinenses que jamais se teve tantos lugares transmitindo as partidas na cidade quanto nesta Copa. Por outro lado, em se tratando de Berlim, esses lugares são tão variados quanto inconvencionais. Há de cafés a antigas fábricas de cerveja; de lojas de doces a piscinas desativadas; de uma miniatura do Estádio Olímpico (com marca da Adidas) a uma antiga estação elétrica (marco industrial da antiga Berlim oriental).
– Tem tantos lugares transmitindo os jogos que posso sair de casa durante uma partida que não perco absolutamente nada. Em cada esquina vejo um pouco do que está acontecendo e, se tem um gol, sei imediatamente – resume o clima o arquiteto alemão Henning Pöpel, de 34 anos.
Berlim tem espaço também para platéias segmentadas. O público gay tem lotado as sessões do Kino International, tradicional cinema na avenida Karl Marx. O evento em que os jogos são exibidos ganhou o nome de ‘Gaywatch’ (para quem não lembra, referência ao seriado americano ‘Baywatch’).’
HQ
Xamã dos quadrinhos
‘Se sua intenção não for arranjar um inimigo, jamais pergunte ao chileno Alejandro Jodorowsky sobre o tanto de LSD que ele e Moebius ingeriram na hora de elaborar ‘Incal’. Reza a lenda que o escritor, cineasta, ator, pintor, mímico, diretor teatral e xamã, como prefere se definir, consumiu com o colega desenhista francês uma quantidade de ácido lisérgico capaz de lobotomizar o mais resistente dos cérebros ao produzirem a mítica HQ, que a Devir publica agora no Brasil, 25 anos depois de seu lançamento na França. Jodorowsky nega. E se irrita. A ponto de quase bater o telefone na cara do GLOBO.
– Nunca precisei de droga nenhuma para nada. LSD pode abrir a porta que for da percepção. Mas as imagens que os doidões vêem não brotam de drogas, brotam da imaginação. E a minha é muito afiada – afirma, com a autoconfiança dos 77 anos, o roteirista que mudou a forma de se pensar ficção científica nas histórias em quadrinhos.
No cinema, não foi muito diferente. Nunca mais se viu o bangue-bangue do mesmo jeito depois que ele dirigiu ‘El topo’, 1970, o primeiro hit do circuito midnight (que consiste na exibição de filmes à meia-noite, para um público seleto) dos EUA. E até hoje ele choca. Em maio, durante o 59 Festival de Cannes, Jodorowsky apresentou em um telão na orla da Croisette a versão restaurada do longa, seguida de outro de seus cults , ‘A montanha sagrada’, de 1973. Deixou uma multidão boquiaberta, sobretudo quando ele entra em cena como pistoleiro.
– Gastei US$ 500 mil do meu bolso para restaurar os dois filmes. Mas valeu. Ele agora vai sair em DVD e circular pelo mundo. Mas antes, vou exibir este ‘El topo’ restaurado no circuito americano para ver como eles reagem agora.
Neto de um judeu russo que, fugido da Ucrânia, radicou-se no Chile, depois de ter atravessado os Andes no dorso de uma mula, carregando apenas a Torá com ele, Jodorowsky herdou do avô o interesse pelo misticismo e a perseverança. Depois que Mick Jagger, Andy Warhol e Samuel Füller elegeram ‘El topo’ uma experiência genial, ele recebeu o convite para adaptar o romance ‘Duna’, de Frank Herbert. Chamou um time de ilustradores e designers famosos para ajudá-lo, entre eles o quadrinista Jean ‘Moebius’ Giraud. Entre 1975 e 1977, eles trabalharam no projeto, que acabou inviabilizado.
– Falei: ‘Moebius, uma porta fechou, mas outra se abriu. Vamos pegar esse material e fazer alguma coisa gráfica com ele’. ‘Incal’ nasceu daí – lembra o diretor, que comemorou ao saber do fracasso da adaptação de ‘Duna’, dirigida em 1984 por David Lynch. – Quando soube que ele iria dirigir, fiquei aliviado. Além de mim, Lynch era o único diretor com estilo para adaptar a obra de Herbert. Mas foi bom saber que o filme é a bosta que é. Se ele fosse bom, eu morreria de inveja.
Com o cancelamento de ‘Duna’, Jodorowsky convenceu Moebius a criar John Difool, o detetive particular que nas seis edições de ‘Incal’ se enfia em uma conspiração ‘anarco-ecumênica’ depois de encontrar um artefato mágico.
– Quando ‘Incal’ saiu, não havia ‘Star wars’. E não se falava em símbolos e em arquétipos nas HQs. Eu e Moebius misturamos tarô, cabala, Jung e o que sobrou de nosso ‘Duna’. Como ele era muito adiantado para sua época, não envelheceu. Por isso, até hoje ele é publicado como uma novidade. Às vezes me perguntam se ele é uma investigação junguiana. Mas eu estou me lixando para Jung e para Freud. ‘Incal’ é uma obra jodorowskiana e moebiusiana. É nosso universo – diz o escritor que, em 1962, criou com o dramaturgo Fernando Arrabal e o cartunista Roland Topor o Panic, uma derivação do movimento surrealista, que incorporava elementos da pop-art, do rock’n’roll, da literatura de ficção científica e dos gibis.
Vivendo em Paris, Jodorowsky ainda tem uma produção vasta na indústria dos quadrinhos. Seu ‘La caste des Méta-Barons’ (que foi parcialmente publicado no Brasil pela extinta revista ‘Heavy Metal’), desenhado pelo argentino Juan Giménez, é sucesso de vendas na França. O faroeste ‘Bouncer’, desenhado por François Boucq, é outro best-seller em bandas européias. No entanto, hoje, sua parceria mais festejada é com o mestre italiano da HQ erótica: Milo Manara. Juntos, eles fazem a série ‘Os Bórgia’, editada em português pela Conrad. Neste momento, Jodorowsky desenvolve o terceiro e último volume da série: ‘O veneno e a fogueira’.
– Embarquei nessa obra porque queria deixar claro que a Igreja foi fundada por gângsters, por bandidos – refere-se à influência da família Bórgia sobre o Vaticano, com a conversão de Rodrigo Bórgia no Papa Alexandre VI . – Não tenho muito a dizer sobre o novo Papa (Bento XVI) . Aliás, só terei a dizer algo sobre isso no dia em que existir uma papisa. Saber que um homem se masturba diante de uma comunidade religiosa não me interessa. O que me importa é a revolução poética, não a revolução política.
Mas Jodorowsky tem um credo: o psicoxamanismo. Todos os seus projetos hoje se baseiam nessa ‘modalidade psicanalítica que substitui a palavra por atos simbólicos’. E ele a aplica como terapia:
– Uma historinha para explicar o psicoxamanismo. Tinha um amigo mulato que vivia em crise por não se encaixar entre os negros nem entre os brancos. Ele me procurou e, um dia, eu o pintei de branco dos pés à cabeça e pedi que ele passeasse pelo Champs-Elysées com uma negra a seu lado. No dia seguinte, eu o pintei de preto e pedi que ele fizesse o mesmo trajeto ao lado de uma branca. No terceiro dia, fiz ele sair ao natural, de mãos dadas com uma mulata que era minha amiga. No passeio, ele se apaixonou por ela, casou-se, teve filhos e nunca mais se preocupou com a sua cor. Entendeu agora o meu xamanismo?
Inclusive nos filmes que Jodorowsky desenvolve neste momento, sua crença estará presente. ‘Kingshot’ será um filme de gângster metafísico com Nick Nolte, Santiago Segura e o roqueiro Marilyn Manson – cuja cerimônia de casamento ele celebrou. Em ‘Psico-magia’, o segundo projeto, bem mais ousado, ele quer romper com narrativas clássicas e escalar não-atores. E para a exibição do longa, ele planeja uma solução alternativa:
– O cinema experimental não tem vez no circuito. Nas salas grandes, passa só cinema comercial. Nas pequenas, ditas de arte, só cinema político, comprometido com causas sociais e com o realismo. Eu preciso de outra coisa. Preciso de um cinema terapêutico, que passe de graça. Para isso, vou mobilizar projeções em muros públicos e convocar pessoas pela internet. Cinema autoral de risco só funciona assim. A revolução artística hoje só será possível se ela circular sem dinheiro industrial algum.’
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