Três matérias no Globo de sábado (9/4) mostraram bem por que hoje ler jornais é cada vez mais penoso. A primeira foi a pequena nota sobre a menina de 15 anos estuprada por cinco homens, idades entre 41 e 54, e depois estrangulada com seu próprio cinto, e seu corpo lançado numa ribaceira da Serra do Mendanha, em Campo Grande, Rio de Janeiro.
A segunda foi a página inteira concedida a um escritor auto-nomeado ‘outsider’, embora totalmente integrado à vulgarização da cultura que nos assola – em boa parte patrocinada pela mídia, que por outro lado só é viável, em seus padrões atuais, por causa dessa própria imbecilização que promove.
E a terceira foi outra página inteira para nos convencer de que a cultura de que precisamos é essa aí que as companhias telefônicas nos patrocinam, ininterruptamente.
Alguns detalhes dessas matérias escancaram vários aspectos da grave doença cultural que acomete crescentemente a nossa sociedade – e sem que os últimos ministros da Cultura o tenham sequer percebido.
No caso do estupro, assassinato e descarte da menina, os cinco estupradores assassinos foram festejar depois num bar a façanha (o que possibilitou sua posterior identificação e prisão). No caso do escritor ‘outsider’ – porém integradíssimo à cultura da vulgaridade hoje dominante –, sua notoriedade advém de suas experiências como barman em boate gay, das capas sado-masô de seus livros fúteis, dos contos eróticos que escreve para o sítio de uma companhia telefônica (olha a ‘cultura’ das teles aí de novo), e de sua formação de publicitário – carreira na qual, iludindo os incautos, ganhou mais do que qualquer professor.
Com esse tipo de cultura, não adianta depois reclamar da violência. A vulgarização da cultura leva à desvalorização do ser humano (e de sua própria vida), e à destruição da natureza e à danação do futuro, dando vez às monstruosidades a que hoje assistimos, inertes.
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Médico, Resende, RJ