Chamo a atenção, ainda, para o fato de que diplomas legislativos que vieram à luz durante o período de João Goulart, tidos como contrários aos interesses do empresariado foram, entretanto, mantidos em vigor durante todo o regime militar instaurado em 1964, como a Lei 4.131, de 1962, que disciplinou a remessa de lucros ao estrangeiro, a Lei Delegada nº 4, também daquele ano, que autoriza a intervenção do Estado no domínio econômico mediante tabelamentos e congelamentos, dentre outras medidas, a Lei Delegada nº 5, que criou a Sunab, extinta já no primeiro governo de FHC, a Lei 4.132, originária de um anteprojeto elaborado por Miguel Seabra Fagundes, que disciplinou a desapropriação por interesse social, prevista como nova hipótese autorizativa desta atuação do Estado na Constituição de 1946, a Lei 4.137, que inaugura a defesa da concorrência nos moldes do direito norte-americano no Brasil.
Ricardo Antônio Lucas Camargo, advogado, Porto Alegre
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Anos de Chumbo, chumbados – Alberto Dines
CASTELLO BRANCO
Trama para filme de sucesso
O livro é excelente. Dá conta de principais fatos políticos do século 20 no Brasil. O texto revela profunda pesquisa em arquivos íntimos do biografado e nos legados oficiais e literários sobre as personalidades envolvidas nos ‘golpes’ que redundaram no de 1° de abril de 1964. O livro de Lira Neto tem a marca do inédito e proporciona agradabilíssima leitura. A narrativa dos episódios históricos constituem trama que quaisquer cineastas transformariam sem esforço em película de sucesso nas telonas da sétima arte. Castello – a marcha para a ditadura representa leitura obrigatória para se saber mais da história política do maior país da América do Sul, inclusive, para se entender, por comparação, a atual conjuntura dos bastidores do Palácio do Planalto.
Kelsen Bravos, professor, Fortaleza
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Um enigma chamado Humberto de Alencar Castello Branco – Armazém Literário
TINTIN, 75 ANOS
Criminoso ou datado?
Quando criança, ou seja, há um bom tempo, li várias aventuras de Tintin. Pode ser que a memória me traia, mas, do que me lembro, Tintin levava uma pequena pistola de bolso, que usou poucas vezes, ao contrário da máquina fotográfica e do bloquinho, de uso cotidiano. Mais freqüente era o uso de armas tomadas de eventuais agressores, de vários modelos e calibres. Lembro também que o grande vilão era o grego Rastropoulos (é isso?), que o imperialismo europeu e americano era denunciado com veemência (vide O lótus azul, ou aquela aventura que se passa na América Latina, quando conhece o general Alcazar, episódio em que também satiriza as revoluções e contra-revoluções da época), e que a escravidão era combatida pelo herói. Do ponto de vista ambiental, embora não tenha lido a aventura na África, penso ser necessário interpretar o texto conforme o pensamento da época (década de 1930), quando a questão era desconhecida.
Outro dia tentei ler ‘As caçadas de Pedrinho’ para meu filho, que protestou contra o crime ambiental da morte da onça, descrita em detalhes por Monteiro Lobato. Teria sido o escritor brasileiro um criminoso, ou apenas retratado o pensamento da época?
Marcelo Fairbanks, São Paulo