Guerra civil ou conflito militar? Na última semana, os meios jornalísticos e políticos americanos estão enfiados numa discussão semântica a respeito do Iraque: o banho de sangue entre xiitas e sunitas pode ser classificado como uma guerra civil, luta fratricida entre seitas religiosas, ou trata-se de um levante contra a invasão anglo-americana?
A Casa Branca não admite a denominação de guerra civil porque significa a falência do governo imposto pelos invasores. Mas o termo ‘insurreição’ ou qualquer sinônimo significa a mesmíssima coisa: não adiantou derrubar e prender Saddam Hussein, o país está ingovernável.
A semântica é fascinante, mas ela não resolve problemas concretos. Inclusive aqui, entre nós. Exemplo: virou moda condenar a imprensa simplesmente por que adotou o termo ‘mensalão’ para caracterizar a sucessão de escândalos iniciada em maio de 2005. O último a reclamar foi o jornalista e professor de jornalismo Bernardo Kucinski, anteriormente ligado ao governo, em entrevista à Folha de S.Paulo, no sábado (9/12).
Ele está certo: alguns pagamentos aos deputados da base aliada não foram mensais, em alguns casos nem foram periódicos. Mas como sentenciou o Procurador Geral da República num despacho histórico, trata-se de uma ‘organização criminosa’ que envolveu 40 pessoas no Executivo e Legislativo.
Em vez de mensalão, serve valerioduto? E se valerioduto também não servir, que tal chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome? Corrupção endêmica não seria mais apropriado?
Será que o complô da imprensa contra o governo Lula resume-se a uma questão semântica? Neste caso, como no Iraque, não há divergências. Estamos dizendo a mesma coisa com palavras diferentes.