Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O nome é passa-moleque

Quando tomou conhecimento da compra de toneladas de feijão podre pelo presidente Juscelino Kubitscheck, a imprensa fez um estardalhaço tremendo, ocupando as manchetes por vários dias. Era exatamente o que o governo desejava: uma cortina de fumaça para encobrir a aquisição por milhões de dólares do malfadado e ultrapassado porta-aviões que viria a chamar-se Minas Gerais. Atualmente, outros fatos estão sendo utilizados para disfarçar acontecimentos fraudulentos.

Sebastião Nery afirma na Tribuna da Imprensa, em 6/8/04:

‘De Lula para Getúlio, há a distância da Terra para o Sol. Não há sonda da Nasa que chegue lá. Mas o poder sempre tem uma cara parecida, quaisquer que sejam o tamanho, o tutano e o copo dos poderosos. Durante 20 anos, Lula fez discursos para chegar ao governo. Nada prestava, só ele e seu PT. Agora, presidente, quando os escândalos pipocam por toda parte, ele continua o mesmo. Fazendo discurso, e só. O presidente do Banco Central é pego em flagrante armando trapalhadas para enganar a Receita. Não consegue explicar nada. O que faz Lula? Faz discurso. Diz que é tudo ‘trica e futrica’ da imprensa e da oposição. Governo sem argumento vira governo Tiririca. Descobrem que o presidente do Banco do Brasil usa doleiros piratas para cevar suas contas em paraísos fiscais. Em vez de tentar explicar, vem com desculpa fiada. É presidente do banco oficial do país e continua trabalhando escondido para o Citibank, que é metido em velhas falcatruas aqui. Sem poder justificar, diz que está de saco cheio. Imagina nós. E Lula, o que faz? Diz que é tudo ‘trica e futrica’. Governo Tiririca!’

Sob o título ‘Conselho Federal de Jornalismo’, Alberto Dines escreve no Último Segundo (15:49, 6/8):

‘Acossado por uma saraivada de acusações disparadas por uma parte da imprensa contra membros da sua equipe econômica, o governo fez a opção mais desastrada: enviou ao Congresso um antiquado e controverso projeto para a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Na justificativa, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini declara candidamente que a nova entidade deverá ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ o exercício da profissão e a atividade jornalística. Diz ainda que ‘atualmente não há nenhuma instituição com competência legal para normalizar, fiscalizar e punir as condutas inadequadas dos jornalistas’.’

A iniciativa é a mais inábil e atarantada já produzida na esfera da imprensa por algum governo desde a redemocratização em 1985. Tanto no espírito como na forma é rigorosamente autoritária e corporativa. A oportunidade, a justificativa e o conteúdo não poderiam ser mais funestos e inconvenientes. Parece homenagem ao onipotente Estado Novo, com toques de Mussolini, George W. Bush e Hugo Chávez. Confunde alhos com bugalhos, desconfia que há um problema na mídia brasileira, não consegue identificá-lo e, obviamente, parte na direção oposta da solução correta. O problema do nosso jornalismo não está nos jornalistas, está na concentração dos veículos de comunicação, na propriedade cruzada e está, sobretudo, em algumas empresas jornalísticas que desprezam suas responsabilidades e ignoram as contrapartidas sociais pelos privilégios oferecidos na Carta Magna.’

Ao enviar ao Congresso o projeto para a criação do Conselho Federal de Jornalismo o presidente ameaça superar o famoso Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), criado pelo do falecido Sérgio Porto. Sua submissão ao FMI e aos banqueiros pode transformá-lo num Lech Walesa, o desmoralizado ex-premier polonês que hoje não consegue se eleger vereador. Seria Lula um último filhote como Walesa? Muito em breve saberemos.

Ao intrometer-se no jornalismo, o presidente foi realmente longe demais e, cá da arquibancada, começamos a entender que tudo parece não passar de um passa-moleque para encobrir a gatunagem reinante, verdadeiro mar de lama que nos invade do Oiapoque ao Chuí.

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Jornalista, São José dos Campos, SP