Os jornais desta sexta-feira [29/10] dão repercussão à suposta mensagem do papa Bento 16, divulgada por religiosos brasileiros e inserida de última hora na campanha eleitoral. Discute-se principalmente se o fato interfere ou não nas intenções de voto, e a maioria dos analistas procurados pela imprensa entende que as cartas estão na mesa e que nem mesmo o papa poderá alterar a tendência do eleitorado em favor da candidatura governista.
Os jornais acabaram indo na mesma direção que tomou conta de toda a campanha: a discussão barroca e obscurantista sobre o aborto. No entanto, o fato mais relevante envolvendo a suposta declaração do papa, transmitida por um bispo que atua mais como cabo eleitoral do que como sacerdote, é que, sendo verdadeira, trata-se de intervenção descabida de um chefe de Estado em assuntos internos de outro país.
Haverá quem diga que Bento 16 não fala como estadista do Vaticano, mas como líder religioso. Firulas. O texto com as supostas palavras do papa já está nas ruas, o que revela o objetivo eleitoral da declaração.
Duas capas
No outro lado do espectro de cobertura da campanha, a revista Época faz um experimento interessante. Nas bancas, o leitor pode escolher entre uma capa com a entrevista de Dilma Rousseff ou a outra, onde o entrevistado é José Serra. Para os assinantes, uma revista que tem na capa os dois candidatos. Outra novidade: as perguntas encaminhadas a Dilma e Serra foram selecionadas entre as mais de 600 questões enviadas pelos leitores num período de 48 horas.
Além de mostrar agilidade, a revista se desvia das armadilhas da campanha e oferece aos seus leitores a oportunidade de conhecer melhor cada candidato e suas propostas de governo. De quebra, Época esclarece como funciona o presidencialismo brasileiro e publica a pesquisa Valores Brasil 2010, sobre as expectativas dos brasileiros em relação ao próximo governo.
Esse deveria ter sido o espírito da cobertura de toda a imprensa, durante toda a campanha.