Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O peso das notícias no papel e no monitor

Em sua coluna de domingo [9/12/07], Clark Hoyt questiona o que cabe ser publicado na versão impressa do jornal e o que deve ser divulgado apenas no sítio e nos blogs dos colunistas. No dia 19/11, a PublicAffairs Books, editora independente especializada em livros sobre política, postou seu catálogo de lançamentos na rede. Entre eles estava o livro What Happened: Inside the Bush White House and What’s Wrong with Washington (O que aconteceu: Dentro da Casa Branca de Bush e o que está errado em Washington, em tradução livre). De autoria de Scott McClellan, ex-secretário de imprensa da Casa Branca, o livro aborda o vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame.

A editora divulgou um trecho no qual McClellan conta que, em uma coletiva em 2003, informou aos repórteres que o estrategista político Karl Rove e o então chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis ‘Scooter’ Libby, não estariam envolvidos no vazamento – o que não era verdade. O escândalo acabou por levar Libby a julgamento por perjúrio e obstrução à justiça.

Em poucas horas, o trecho já era comentado na internet e em emissoras de notícias da TV a cabo, questionando o real envolvimento de Bush e Cheney nos esforços para enganar o público sobre o papel dos funcionários da Casa Branca no vazamento. ‘O presidente Bush pediu a McClellan para mentir ou não?’, perguntava a revista online Salon. Um inquérito sobre as revelações de McClellan chegou a ser pedido pelo senador democrata Bill Pascrell Jr. Um dia depois, no entanto, o debate sobre o assunto havia morrido. Segundo Peter Osnos, editor-chefe da editora, o ex-secretário de imprensa acredita que Bush não sabia que haviam pedido que ele passasse aos jornalistas uma informação falsa.

Marola

O caso serve para refletir sobre o que deve ser publicado no impresso ou não, diz Hoyt. O NYTimes publicou nota sobre o livro de McLellan apenas em seu sítio. Alguns leitores questionaram os motivos. A primeira pessoa a falar do assunto no jornalão foi Mike Nizza, do blog The Lede, que monitora 300 sítios regularmente. Como muitos blogs de notícias, o The Lede traz mais compilações de notícias que artigos originais. Por exemplo, Nizza não entrou em contato com a editora ou com McClellan para escrever algo sobre o episódio.

Scott Shane, repórter que cobriu o caso Libby para o jornal, também não procurou o ex-secretário de imprensa para escrever sobre o assunto. Como havia entrevistado McLellan há pouco tempo, sobre outro tema, aproveitou para usar informações obtidas nesta conversa. Além disso, o repórter – com base em entrevistas anteriores – não acreditava que McLellan acusaria Bush de mentir. Por esta razão, não achou válido comentar o polêmico trecho do livro. Para Douglas Jehl, chefe-adjunto de redação da seção encarregada de cobrir a Casa Branca, deveria ter sido feito um esforço para obter uma declaração de McClellan sobre o caso.

Na opinião de Hoyt, como o blog tem espaço ilimitado, o jornalista acaba não refletindo sobre o que publicar ou não; o contrário ocorre com o jornal impresso, que, com espaço limitado, precisa ter informações bem selecionadas. Ainda assim, Hoyt defende que o diário deveria ter publicado algo no papel, já que mais de 80% dos leitores não costumam visitar o sítio na internet.