É consenso entre os ‘vaticanistas’ e os estudiosos dos meios de comunicação de que o sucesso (aqui entendido como a capacidade de levar a palavra cristã ao mundo) de João Paulo II nestes mais de 25 anos de papado se deve, em grande parte, à compreensão exata que tinha sobre a eficácia da mídia em reproduzir os atos que promovia. Há os que afirmam que cada encontro, cada pose, cada aperto de mão era cuidadosamente planejado para ser um espetáculo midiático, de grande poder persuasivo sobre a audiência.
Karol Woityla sabia, de maneira intuitiva, inata ou treinada, como instrumentalizar a mídia a serviço do Vaticano. Talvez essa postura fosse inevitável, migrando a explicação para o movediço terreno da globalização, que justifica e legitima quase a totalidade dos fenômenos contemporâneos. Estava nas características pessoais de João Paulo II, porém, mesclada com a necessidade de construção de mitos de nossa era, que proporcionou as condições ideais de atuação do papa peregrino.
João Paulo II submeteu a figura do sumo pontífice à lógica própria de consumo da mídia. Utilizou-se de um eficaz e paradoxal jogo que, ao mesmo tempo, pedia desculpas por erros do passado, mas não admitia o uso de métodos contraceptivos. A igreja avançava e recuava de maneira constante. O que parece é que João Paulo II estava à frente de seu tempo, e foi justamente essa antevisão que limitou as possibilidades de uma abertura maior da igreja em seu papado. Ele compreendeu que 26 anos era pouco tempo ante uma instituição milenar e que rupturas poderiam provocar um cisma e precipitar um processo de diminuição do poder católico frente à ‘ameaça islâmica’ (sem sentido beligerante, observa-se). João Paulo II teria sido assim, o tal papa transitório de que tanto temos ouvido falar recentemente.
Pode-se afirmar que João Paulo II percebeu de forma oportuna que a sua lenta agonia e abnegação poderia contribuir também para reforçar os laços com a igreja. E neste derradeiro momento, surge à igreja católica o desafio de escolher o substituto do papa pop. O que não será nada fácil porque, como bem lembra a música dos Engenheiros do Havaí, o pop não poupa ninguém.
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Estudante de Jornalismo da Unisinos