E quando a população estiver inteiramente conectada à rede mundial de computadores, a world wide web, o que será dos noticiosos impressos? O que será das revistas impressas? O que os noticiosos impressos apresentam hoje que já não seja encontrado na Grande Teia, na web, na internet? Se quero saber do clima, da bolsa de valores, do horóscopo, do cinema, dos shows, das mortes – não tenho que perder um segundo sequer, vou à internet. E já começo a acreditar que o que não existe no Google é porque não existe mesmo.
Se fosse uma guerra entre o meio impresso e o meio digital… mas nem chega a ser uma guerra. É tão natural ver o meio digital abarcando os demais meios: programas de auditório, telenovelas, telejornais são transmitidos na internet; jornais impressos mantêm suas plataformas nas internet; emissoras de rádios disponibilizam sua programação integral na internet. É absolutamente uma terra sem lei, uma região desprovida de fronteiras geográficas, lingüísticas, ideológicas. Ou melhor: na internet o usuário cria as suas próprias leis, defende aquelas que deseja defender e descumpre tantas quantas deseje descumprir.
Há algum tempo existem modelos para criar seu próprio jornal, qual o espaço e em que localização devem ser agregadas as notícias de esportes, de economia, de política, de cultura. Em que campo ficam as informações fixas – clima, tempo, mudanças cambiais, comportamento de ações na bolsa, horóscopo, memória da data (o que aconteceu de importante naquele dia em anos passados).
Os modelos primam por tornar agradável aos olhos receber a carga diária de informações. E oferecem espaço para os vídeos de humor mais vistos nos últimos dias e na última hora. Resenha de filmes em cartaz, com a ficha completa, trailers, prêmios ganhos, entrevistas com diretor, ator, atriz, roteirista, além de informar sua posição na venda de ingressos.
“Um jornal é uma bandeira”
Tem sido reservado aos meios noticiosos impressos o espaço preferencial para análises e reflexões sobre temas importantes de nosso cotidiano: mudanças no cenário político, atuação dos governantes e dos parlamentares, julgamentos importantes no Supremo Tribunal Federal, questões de segurança pública, qualidade da educação pública, situação da saúde pública. E casos de corrupção no governo, no Congresso Nacional e no Poder Judiciário.
Mas, mesmo esse “espaço por excelência” já deixou de ser bóia de salvação para o meio impresso. O que, em sã consciência, impede que um intelectual, um economista gabaritado, um empresário bem sucedido, um economista bem embasado na vida dos mercados divulgue na internet suas reflexões e análises sobre algum palpitante tema da atualidade? Nada, absolutamente nada. E com um atrativo a mais: na internet se pode criar em fração de segundos um fórum de “leitores” para debater os pontos merecedores de louvor ou de reparos. Coisa impensável no meio impresso – tanto pela velocidade quanto pelas diversas manhas e artimanhas da edição dos comentários.
É digno de nota a muito interessante entrevista publicada no jornal Folha de S.Paulo (pág. A16, de 11/7/2011) com o jornalista espanhol Juan Luís Cebrián, um dos fundadores do El País. Para Cebrián “o Google e o Facebook são os concorrentes dos jornais”. Este é o título e também a sua grande tese ao longo da entrevista.
Cebrián discorreu sobre as mudanças advindas com a internet e seu impacto nos meios noticiosos impressos. Abordou o componente ideológico tão próprio dos jornais e tão alheio à nova realidade mostrada na internet: “Se alguém leva a Folha ou o Estado de S.Paulo debaixo do braço, está se identificando com algo. Um jornal é uma bandeira, de certa maneira. E na internet não há bandeiras”.
Linhas tortas
Resta, ainda, a questão do mercado publicitário. Mas para este existir há que se presumir um bom número de leitores. E se os leitores deixam de cultivar o hábito de ler jornal impresso… por que motivo continuaria existindo publicidade nos jornais? O mesmo vale para as revistas impressas.
A própria publicidade já demonstra grande familiaridade com o meio virtual. Aparecem na forma de anúncios (banners) laterais ou verticais, em janelas que se abrem (pop-ups), em pequenos ícones direcionando o leitor (internauta) para um endereço publicitário específico, onde as imagens e os sons falam mais do que as palavras impressas, sejam quais forem. Não, o mercado publicitário tem já seus dias contados para anunciar em jornais e revistas impressas. Tão contados quanto contados sejam os receptores (leitores) ainda resistentes à galáxia desbravada pela dupla Bill Gates & Steve Jobs.
É como se – por linhas tortas, é verdade – o recém-extinto News of the World se despedisse de seu público leitor acenando aos seus irmãos de plataforma:
“Olha aí rapazes… eu sou vocês, amanhã!”
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[Washington Araújo é mestre em Comunicação pela UnB e escritor; criou o blog Cidadão do Mundo; seu twitter]