Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que eu sei sobre o Caso Paula

Às 12h02 da última quarta-feira [11/2] meu celular deu o sinal de que recebera uma mensagem. Abri e li:




‘Caro Noblat: minha filha sofreu um ataque de neonazistas na Suíça onde trabalha oficialmente. Teve o corpo retalhado a faca com a sigla de um partido de extrema direita. Grávida de gêmos, abortou-os. Você me conhece do bairro de São José, no Recife.. Nós nos reencontranos no aniversário de 80 anos de Armando Monteiro Filho. Trabalho com Roberto Magalhães. Assinado: Paulo Oliveira’.


Lembrei de Paulo. Imediatamente tentei falar com ele. Consegui seu celular por meio do deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que sabia do que acontecera.


Magalhães e o senador Marco Maciel (DEM-PE) haviam acionado o Ministério das Relações Exteriores, como me contaria depois Paulo.


Liguei e falei com Paulo em Zurique, onde ele chegara na véspera. Paulo me contou o que publiquei neste blog às 15h52 daquele mesmo dia.


Trocamos pelo menos meia dúzia de telefonemas antes que eu postasse a notícia. Pedi-lhe fotos de Paula grávida. Ele acionou Jussara, sua mulher,que estava no Recife, e as fotos vieram por e-mail – três. Em todas, Paula exibe a barriga crescidinha.


Pedi fotos que comprovassem a agressão sofrida por Paula. Quem as remeteu por e-mail foi o economista suíço Marco Trepp, companheiro de Paula.


Os dois pretendiam se casar. Foi o que a própria Paula me disse por telefone. ‘Providenciei os papéis brasileiros que provam que eu sou solteira. Mas eles ainda terão de ser traduzidos oficialmente aqui para que possam ter validade’.


Perguntei como ela se sentia. ‘Mal’, respondeu. E não quis mais falar. Devolveu o celular ao pai.


Debruço-me sobre algumas questões abordadas por leitores do blog na seção de comentários.


1. Paula estava grávida ou mentiu?


As fotos que publiquei são de uma grávida. Tanto as que mostram Paula feliz quanto as que mostram sua barrica riscada por um estilete ou outro objeto cortante.


Dona Jussara me garantiu esta tarde que Paula estava sendo acompanhada por um ginecologista suíço. Que tem o resultado do exame de ultrasom que atestou sua gravidez. E o do exame que descobriu o sexo dos gêmeos. Espera entregá-los à imprensa em breve.


Na rápida conversa que tive com Paula, perguntei se ela seria submetida a uma curetagem. Ela respondeu que os médicos que a atenderam na manhã daquele dia lhe haviam dito que a placenta continuava colada à parede do útero. E que talvez acabasse sendo expelida naturalmente.


2. Por que Paula, depois de agressão que diz ter sofrido, correu para um banheiro da estação de trem ao invés de procurar ajuda de moradores da região?


A estação de trem é próxima do local da suposta agressão. O local é uma área semideserta. Os agressores, segundo relato do pai da Paula, a deixaram só de calcinha e sutiã. Nevava. Para onde correr?


Do banheiro, Paula telefonou para seu companheiro Marco, que chegou pouco depois acompanhado de uma ambulância e de dois detetives da polícia de Zurique.


Foi no banheiro, segundo o pai da Paula, que ela começou a perder sangue e temeu estar abortando.


Um dos detetives, Hug Andreass, pôs em dúvida a história contada por Paula tão logo a ouviu. Insinuou que ela poderia ter se autoflagelado. E advertiu-a de que seria processada se estivesse mentindo.


Foi por causa do comportamento de Andreass que duas policiais, em nome da chefatura de polícia de Zurique, visitaram, ontem, Paula no hospital e lhe pediram desculpas.


3. Paula pode ter estado grávida, perdido as gêmeas antes da suposta agressão e se autoflagelado?


Em tese, sim. Mas ainda não foram apresentadas provas de que isso aconteceu.


Os médicos que a socorreram na noite de domingo podem comprovar se ela chegou ao hospital perdendo sangue.


É de se imaginar que a polícia examinou o banheiro da estação onde ela foi encontrada. É fácil para os médicos provarem que ela nunca esteve grávida.


Dizer que ela hoje não está grávida, ou que não estava ontem, ou anteontem, não significa que ela não estivesse grávida na noite do domingo. Ou antes disso.


Há casos de mulheres que abortam e que se autoflagelam depois. Mas por que Paula retalharia nas duas coxas e na barriga a sigla do partido de ultradireita que governa a Suíça?


Logo ela que estava pronta para casar com um suíço e continuar morando na Suíça?


Logo ela que tem o emprego estável e bem-remunerado de advogada em Zurique da empresa dinamarquesa A P Moeller/Maersk, líder mundial em transporte de contêineres?


Paula trabalhou para a Maersk em São Paulo. Convidada pela empresa, mudou-se para a Suíça.


Uma pessoa descontrolada emocionalmente, a ponto de retalhar o próprio corpo, seria capaz de desenhar com um estilete a sigla de um partido político nas coxas e na barriga só para conferir credibilidade à história de que fora atacada por três neonazistas?


Aguardemos novos fatos.


***


Gravidez de Paula era de alto risco, admite o pai


Reproduzido do blog do autor, 14/2/2009 – 14h15


‘Se minha filha foi vítima de agressão, como me disse, ou de um distúrbio psicológico, isso não faz diferença para mim como pai. Não tenho porque duvidar do que ela me contou. Vim a Zurique para ficar ao lado dela e lhe dar toda a assistência possível’, me disse há pouco por telefone o advogado Paulo Oliveira.


A filha dele, Paula, continua internada no Hospital da Universidade de Zurique desde a última quinta-feira. Ela ignora até agora o que concluiu os médicos do hospital que a examinaram: Paula não estava grávida quando supostamente foi agredida na noite do último domingo por três neonazistas. E pode ter sido ela mesma a autora das dezenas de cortes em seu corpo.


Paula está com hemorragia desde ontem à noite.


O psiquiatra suíço do hospital que cuida dela aconselhou o pai a tirar o aparelho de televisão do quarto e a não conversar sobre as conclusões da equipe médica que a examinou.


No fim da tarde de ontem, o chefe de polícia de Zurique, Philipp HJotzenkoecherle, procurou Oliveira e lhe propos que ninguém mais falasse com jornalistas sobre o assunto.


Oliveira respondeu que fora obrigado a levar o caso ao conhecimento público porque a polícia, no início da semana, se negara a dar informações até mesmo à embaixadora Vitória Cleaver, responsável pelo consulado-geral do Brasil na cidade.


O companheiro de Paula, o economista suíço Marco Trep, prestou depoimento à polícia ontem à tarde.


A Oliveira, anteontem, no apartamento onde mora com Paula, Trep confessou o receio de também vir a ser vítima dos supostos agressores de sua mulher, que ainda não foram identificados.


‘Não falo alemão, Marco fala mal o inglês, mas entendi perfeitamente quando ele se referiu ao receio de ser agredido. Ele o fez duas vezes’, relembra Oliveira. Em seguida, Trep mudou-se para a casa de parentes.


Oliveira me confirmou que Paula sofre de lúpus, ‘uma doença rara, mais frequente nas mulheres do que nos homens, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico, exatamente aquele que deveria defender o organismo das agressões externas causadas por vírus, bactérias ou outros agentes’. Sua gravidez, portanto, era de alto risco, admite Oliveira.


Paula vinha sendo tratada por um especialista na doença, médico do próprio hospital onde ela está internada. Somente ontem à noite, ao perguntar à filha sobre os exames que comprovariam sua gravidez, Oliveira soube que a ginecologista dela era uma médica portuguesa. Paula não revelou o nome da médica porque a situação profissional dela no país ainda é irregular.


– É muito comum por aqui, principalmente entre migrantes, se procurar a assistência de um profissional que ainda não regularizou sua situação, mas que trabalha – justificou Oliveira. ‘Quando a gravidez evoluissse mais, certamente Paula passaria a se consultar com um médico suíço’.


O senhor tem ou viu os exames que comprovariam a gravidez de Paula?


– Não tenho nem vi. Devem estar com ela. Você conhece algum pai que tenha pedido para ver os exames quando a filha lhe comunica que está grávida? Você apenas comemora o fato de que será avô. Eu chorei quando Paula me deu a notícia de que seria mãe de duas meninas. Seriam meus primeiros netos.


A última vez que Paula esteve no Recife com a família foi em outubro do ano passado. Em janeiro, por telefone, ele avisou que estava grávida.


Eunice, mãe de Oliveira, fará 80 anos em abril próximo. Decidiu cancelar a festa que a família planejava porque preferia viajar a Zurique para estar ao lado da neta quando ela desse à luz.


Paula tem uma irmã de 13 anos também chamada Eunice. Desde que soube que seria tia, Eunice vinha comprando roupas para as futuras sobrinhas. Fotografava-as e mandava as fotos para Paula por e-mail.


O que o senhor acha da conclusão dos médicos suíços de que Paula não estava grávida no momento em que disse ter sido agredida?


– Paula ia ser mãe de duas meninas, estou certo disso. Quando ela me acordou com a notícia de que fora espancada, não me disse se havia abortado. O relevante é que ela foi vítima de uma agressão e a polícia está obrigada a esclarecer o caso.


Um dos médicos que examinou Paula admitiu como quase certo, com base em sua experiência, que Paula tenha produzido os cortes que carrega no corpo.


– Ela me contou que foi agredida. Disse que um dos agressores tinha uma suástica tatuada atrás da cabeça. O companheiro dela, que a socorreu no banheiro da estação de trem, confirmou em entrevistas a jornalistas que a história contada por Paula é 100% correta. Ele ficou tão chocado quanto eu. Não tenho razão para duvidar da minha filha. (R.N.)


***


Em julgamento, o comportamento do pai de Paula


Reproduzido do blog do autor, 14/2/2009 – 17h53


Há muitos comentaristas aqui crucificando o pai da Paula, a brasileira supostamente agredida por neonazistas em Zurique.


Que tal examinarmos o episódio pela ótica dele?


Você é pai. Feliz da vida porque sua filha, que mora em Zurique, lhe havia comunicado que seria mãe de gêmeos. Serão seus primeiros netos.


Sua ex-mulher, sua atual mulher, sua filha, sua mãe às vésperas de completar 80 anos, a família inteira está mobilizada pelo fato recente mais importante ocorrido em suas vidas.


Sua filha celebra a maternidade próxima passando e-mails para amigos do Recife e dando conta da evolução da gravidez.


Você não conhece ainda o pai dos seus netos, mas sabe que ele é um economista suíço que trabalha em uma empresa de seguros. E que está morando com sua filha há alguns meses.


Então um dia você é acordado de madrugada por um telefonema aflito de sua filha.


De Zurique, aos prantos, ela informa que foi agredida na noite anterior por três homens que lhe retalharam o corpo com a ajuda de um estile. E que ela abortou as gêmeas.


Você não consegue mais dormir. Acorda sua ex-mulher. E no mesmo dia embarca com ela ao encontro de sua filha.


O companheiro dela o aguarda no aeroporto. Ele fala mal inglês e você não sabe uma palavra em alemão.


Você vai direto para a casa de sua filha. Ela só faz chorar. Está em pânico. Mostra-lhe as marcas dos cortes. Sua ex-mulher se desespera.


Você aciona amigos no Brasil para que informem o que aconteceu ao ministério das Relações Exteriores. O ministério aciona a cônsul-geral do Brasil em Zurique. A cônsul tenta obter informações com a polícia, mas elas lhe são negadas de forma grosseira.


Sua filha lhe conta que um detetive que a atendeu depois da agressão a ameaçou. Duvidou de sua história. E adiantou que ela poderia ser processada se estivesse mentido.


Então você pensa que só haverá uma forma de forçar a polícia a investigar de fato o que aconteceu e a prender os agressores de sua filha: tornar o caso público.


Você reúne fotos de sua filha grávida antes da agressão. Providencia fotos que mostrem o corpo dela riscado por estilete. E as distribui com a imprensa.


Dois dias depois, duas policiais, em nome da chefatura de polícia de Zurique, vão ao hospital onde sua filha está internada e pedem desculpas pelo modo como o caso havia sido conduzido até aquele momento.


Um dia depois, um médico do hospital convoca os jornalistas e anuncia: a brasileira não estava grávida no momento em que foi supostamente atacada. Diz mais: sua experiência indica que ela pode ter se automutilado.


Você nunca viu os exames que comprovaram a gravidez de sua filha. Mas ela lhe disse que fizera os exames, sim. Você perguntou a respeito ao companheiro dela e ele confirmou.


Você faz o quê? Continua acreditando em sua filha? Repete para quem queira ouvir que continua acreditando nela? Ou diz que o médico pode ter razão? Ou vai além: diz que a suposição do médico de que ela se automutilou pode fazer sentido?


Mas fazer sentido como se sua filha sempre foi uma pessoa alegre, de bem com a vida, equilibrada, uma profissional bem-sucedida que passou num teste aplicado em diversos países e se tornou funcionária na Suíça do escritório do maior conglomerado de empresas da Dinamarca?


Dane-se o médico que disse o que disse. Dane-se todo mundo que passou a duvidar da história de sua filha. Você é pai. Sua filha permanece internada em um hospital de outro país. Está com hemorragia há dois dias.


A essa altura, não lhe interessa mais se ela perdeu os bebês antes da agressão que diz ter sofrido. Ou se ela inventou a agressão para justificar a perda dos bebês. 


Você quer que ela se recupere logo. Quer voltar com ela para casa o mais rápido possível.


Você deve ser condenado por estar se comportando assim? (R.N.)