A imprensa começa a emitir sinais de que o presidente do Senado José Sarney pode não resistir às pressões para deixar o cargo espontaneamente.
Faltando apenas uma semana para o fim do recesso parlamentar, período em que Sarney pensava estar blindado contra a onda de denúncias, o noticiário do fim de semana, complementado pelo que os jornais trazem na segunda-feira (27/7), revela que ele já não pode estar seguro de contar com os 41 votos necessários para barrar um pedido de cassação ou afastamento da presidência da Casa.
Segundo os jornais, foi o próprio recesso, somado ao fato de a imprensa não ter aliviado a pressão, com novas revelações e mais indícios de irregularidades, que acabou por fragilizar a posição de Sarney.
Longe da ilha de fantasia em que costumam viver, e em contato com suas bases eleitorais, muitos senadores foram convencidos durante o recesso de que o apoio à permanência de Sarney pode lhes custar caro. Afinal, conforme lembra o Estado de S.Paulo, dos 81 senadores, pelo menos dois terços, 54 deles, terão que enfrentar as urnas no ano que vem.
Como, em política, na reta final é cada um por si, começam a aparecer sinais de que a lealdade dos aliados de Sarney está balançando.
Nobreza nenhuma
A mudança no cenário coloca sobre a mesa uma questão que não costuma frequentar o noticiário e os debates sobre política: o que é que define, afinal, aquilo que vai compor o legado de um político depois que ele deixa a cena pública?
No caso de José Sarney, o registro de seu nome em placas de ruas, praças, avenidas e edifícios públicos, do Maranhão e do Amapá, seriam suficientes para lhe assegurar o reconhecimento da posteridade? A simbólica imortalidade conferida pela Academia Brasileira de Letras lhe seria suficiente para assegurar o respeito da História?
Os atentos observadores da imprensa sabem que o legado de Sarney para o futuro não ficará registrado em placas de metal ou mármore: estará inscrito no papel de jornal e nos circuitos eletrônicos que guardam para sempre o noticiário sobre um dos períodos mais vergonhosos do Senado Federal.
Pior: trata-se de um legado que mancha sua biografia e respinga sobre a vida de seus filhos e netos.
No crepúsculo de sua vida pública, o sobrenome inventado por José Ribamar Ferreira de Araújo Costa pode representar qualquer coisa, menos a nobreza que ele pretendeu imputar a si mesmo.