‘Um morto na esquina é mais importante do que 100 mortos nos antípodas.’ Este é um axioma que no passado vigorava sem contestações nas redações dos nossos jornais. Apesar da globalização, o conceito parece inalterado.
Pelas manchetes dos jornais de quarta-feira (18/4), o leitor continua mais sensível ao que acontece perto dele. Assim, dos três jornalões nacionais, O Globo e O Estado de S.Paulo preferiram destacar a batalha campal ocorrida na véspera no Catumbi, zona central do Rio, enquanto que a Folha preferiu a solução salomônica: colocou a chacina na universidade da Virginia ao lado da insurreição que toma conta das nossas cidades.
O segredo do bom jornalismo consiste em recusar as tais ‘escolhas de Sofia’ e encontrar maneira de atender a todas as necessidades do seu público.
O massacre no campus de Blacksburg não é um fenômeno isolado, americano, é um fenômeno do nosso tempo em que um jovem perturbado inventa pretextos ditos ‘políticos’ para justificar os seus instintos mórbidos. Aconteceu no outro hemisfério, mas não esqueçamos do jovem estudante paulista que há poucos anos, dentro de um cinema, saiu atirando nos espectadores com uma submetralhadora.
A batalha do Catumbi, na qual aparentemente só morreram bandidos, deve ser entendida como advertência: os narcoterroristas começam a sentir a reação do Estado, estão desesperados. Não vão se conformar e, tal como o estudante de letras na Virgínia, parecem dispostos a tudo.
Em dias sombrios como os nossos, os jornalistas desempenham papel crucial: só eles conseguem mostrar que tudo importa e, por isso, tudo faz sentido.