A edição nº 138 do Observatório da Imprensa estava prestes a ir para a web na manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001. À época, embora disponíveis às terças, as edições do OI “circulavam” com data de capa de quarta-feira. Naquele dia, a rotina matinal de produção foi interrompida pelos sinais de que algo não ia muito bem na ilha de Manhattan, onde tudo indicava ter um avião se chocado com uma das torres do World Trade Center. Mas o trabalho prosseguiu.
A manchete daquela edição do OI era “Crise Econômica / Recessão mundial fecha jornais“. As outras chamadas escolhidas para a home eram “Moleza & Credibilidade / O mundo parou no feriadão”, “ABC pede desculpas / Notícias de uma guerra distante“, “Shopping do ensino / Professores ameaçados de demissão“ e “Turma da Mônica / Os brutos também lêem quadrinhos“. O índice estava bem fornido de artigos sobre assuntos variados. O olhar do editor dividia-se entre o monitor do computador e a tela da TV ligada ao desastre havido em Nova York, onde – agora se confirmava – às 9h46, horário de Brasília, um avião de grande porte havia se chocado com a torre norte do World Trade Center.
Tudo deixou de fazer sentido quando pipocaram as primeiras notícias sobre aviões sequestrados nos Estados Unidos e, 18 minutos depois do primeiro choque, no momento em que o voo 175 da United Airlines atingiu em cheio a torre sul do WTC, num feérico espetáculo de horror exibido ao vivo e em cores para um mundo atônito.
O terrorismo chegara à sua forma paroxística, com ampla cobertura da mídia – e também por isso. As chamadas e a ilustração daquela home page do Observatório foram "derrubadas" e substituídas por uma página all type. Ali, sob o título “O Apocalipse”, apareceu o seguinte:
“Nada a comentar, tudo irrelevante, irrisório e redundante neste negro setembro mundial.
“No passado, saíamos à rua para comprar jornais e saber o que se passava. Agora, somos empurrados para casa juntando farrapos de informações que chegam pelos monitores, rádios, telefones.
“E imaginando uma segurança definitivamente implodida.
“Neste aconchego às avessas fomos convertidos em observadores – não apenas da imprensa e da mídia, mas de um mundo de repente menor e virado de cabeça para baixo. A vida continua, mas amanhã será tudo diferente.”
Dito e feito.
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A seguir, uma seleção de links para o material aqui publicado na sequência dos atentados do 11 de Setembro.
Edição 139 #19/9/2001
Anotações de um observador atônito – Alberto Dines
Informação inteligível em lugar dos tambores de guerra – Ulisses Capozoli
Sobre verdades e bobagens – Nelson Hoineff
A faca e o avião – Deonísio da Silva
E as vítimas? Ajudar ou reportar? – Arnaldo Dines
O chargista perplexo e a arte da guerra – Spacca
Boa e velha TV supera internet – Antônio Brasil
Sobriedade, exageros e males da primeira dentição – Marinilda Carvalho
Não parecia cinema: era cinema – Paulo José Cunha
O que incomoda na revista Veja – Luiz Antonio Magalhães
Jornalismo online, a prova de fogo – Raphael Perret Leal
O sentido do ataque – Telma Domingues da Silva
Só vendo para crer – Beatriz Singer
Decisão sobre imagens chocantes
Edição 140 # 26/9/2001
A mídia como campo de batalha – Alberto Dines
Cobertura de guerra / White plates press – Luiz Weis
Fragilidades da cobertura online – Beatriz Singer
Precisamos ser ajudantes de xerife? – Paulo José Cunha
Edição 141 # 3/10/2001
A volta da “cascata” / Uma cobertura para não esquecer – Alberto Dines
Terror & Horror / De Schwarznegger ao Afeganistão – Muniz Sodré
A primeira estrela da guerra – Nelson Hoineff
Jornalista brasileira invade o Afeganistão – Antônio Brasil
Edição 142 # 10/10/2001
Patriotismo e patrulhas na mídia americana – Arnaldo Dines
Edição 143 # 17/10/2001
Antraz coloca mídia na linha de frente – Alberto Dines
Das trapalhadas da Casa Branca – Alberto Dines
O canal al-Jazira não é modelo de objetividade – Alberto Dines
Informação em defesa da vida – Nelson Hoineff
Nada de novo na frente – Luís Edgar de Andrade
TV árabe sofre pressões dos EUA – Claudinê Gonçalves
Conceitos do al-Jazira confrontados em debate – Alberto Dines
Imprensa em tempos de cólera – Luiz Weis
Edição 145 # 31/10/2001
Mídia esquece a mídia nos ataques de antraz – Alberto Dines
Bioterrorismo em empresas jornalísticas – Beatriz Singer
Liberdade de imprensa em tempo de guerra – Iluska Coutinho